O presidente da Confederação Israelita do Brasil, Claudio Lottenberg, criticou as falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após o governante comparar os ataques de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto e chamá-los de “genocídio”.

Em entrevista concedida à CNN na manhã desta segunda-feira (19), Lottenberg disse que a declaração incentiva discursos de ódio contra Israel. “Ao legitimar determinadas posições, ele [Lula] logicamente incentiva discursos de ódio, e o resultado está aí. As ações, as manifestações, as atitudes antissemitas, elas aumentaram”, afirmou o representante da Conib.

“O presidente conseguiu algo que é inédito, ele importou o conflito para o Brasil.” Lottenberg mencionou o caso de uma empresária judia que foi alvo de ataques antissemitas na Bahia, no começo de fevereiro. A agressão, que foi registrada em vídeo, mostra uma mulher chamando a dona do estabelecimento de “assassina de crianças, sionista”, em referência ao movimento político que defende o Estado judaico.

O presidente da Conib também cobrou um posicionamento mais incisivo do governo em relação ao Hamas. “Eu não vejo ele com a mesma veemência clamando pela liberação dos reféns”, disse Lottenberg.

O representante da confederação falou, ainda, que as situações não podem ser equiparadas, e que foi uma “comparação equivocada”. “Israel não está, de maneira alguma, efetuando algo que possa ser comparável com aquilo que aconteceu no período do Holocausto. Israel está se defendendo no sentido de buscar esses reféns”, afirmou Lottenberg.

“O presidente foi infeliz na sua colocação, uma comparação equivocada. Acho que ele deve sim uma satisfação à comunidade judaica não do Brasil, mas mundial”, acrescentou. Ao ser perguntado a respeito de um diálogo com o governo, o presidente da Conib disse que a confederação tentou marcar reunião com Lula diversas vezes, mas que não foram recebidos.

A declaração de Lula criticada pela Conib foi feita durante uma entrevista coletiva na Etiópia, onde o mandatário esteve em função da 37ª Cúpula da União Africana, realizada no último fim de semana.

“O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse Lula à imprensa. O conflito na região, que já é foco de instabilidades há décadas, se intensificou depois dos ataques do grupo armado Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023. No início de 2024, uma autoridade palestina divulgou a estatística de que cerca de uma em cada 100 pessoas na Faixa de Gaza foi morta desde o começo da guerra. De acordo com o Ministério da Saúde no território, o número de mortos é superior a 29.000.

Autoridades israelenses reagiram

Nas redes sociais, integrantes do governo israelense reagiram à fala de Lula. O primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, disse que “as palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e graves”, e que “trata-se de banalizar o Holocausto e de tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender”. Ainda no domingo (18), Netanyahu disse que Lula deveria ter “vergonha de si mesmo”.

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, também anunciou que vai repreender o embaixador brasileiro em Tel Aviv. A reunião estava marcada para ocorrer nesta segunda-feira, às 6h30 no horário de Brasília, no Museu do Holocausto.

Ministro da Secom defende presidente

Após a repercussão das declarações de Lula, aliados do presidente saíram em defesa dele. O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta, chegou a dizer que o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, “divulga uma fake news”.

“O Brasil sempre, desde 7 de outubro, condenou os ataques terroristas do Hamas em todos os fóruns. Nossa solidariedade é com a população civil de Gaza, que está sofrendo por atos que não cometeram. Já são mais de 10 mil crianças mortas em Gaza. O número de mortos em Gaza está próximo de 30 mil pessoas e 70% destas mortes são de mulheres”, escreveu Pimenta no X.

“Ainda, existem cerca de 10 mil pessoas desaparecidas sob os escombros. Em torno de 1,7 milhão de palestinos não têm acesso a água potável, comidas e remédios. A comunidade internacional não pode calar diante do massacre de um povo que não pode sofrer um extermínio pelos crimes cometidos por um grupo que deve ser punido pelo que fez. As palavras do presidente Lula sempre foram pela paz e para fortalecer o sentimento de solidariedade entre os povos!”, complementou Pimenta.

Fonte: CNN

Foto: Ricardo Stuckert