É no alto sertão sergipano que começa a trajetória de luta e resistência da costureira Maria de Lourdes Santos Silva, de 80 anos de idade, matriculada no 3º ano do ensino médio regular da rede estadual. Predestinada a ser dona de casa, ou a trabalhar na lavoura, por influência da família, ela sabia que o seu futuro era muito maior que o manejo da atividade agrícola. Foi aí que, aos 35 anos, saiu do município de Nossa Senhora de Lourdes rumo a Aracaju.
Resistindo à influência da família, dona Maria de Lourdes encontrou outro obstáculo que a impediria de realizar seus sonhos. “Meu marido não queria que eu estudasse. No começo foi muito difícil, porque tinha que me dedicar somente ao trabalho de casa e às costuras que eu fazia por fora, a fim de ajudar nas despesas”, disse ela, narrando sua trajetória marcada por angústias e preconceitos, até chegar ao Colégio Estadual Secretário Francisco Rosa, situado no bairro Bugio, em Aracaju, onde cursa o ensino médio regular.
O tempo foi passando e o seu desejo de concluir os estudos foi se tornando realidade, mesmo com a imposição do companheiro. Na Escola Municipal Manoel Bomfim, localizada no Bugio, em Aracaju, ela deu seus primeiros passos para o início de uma nova fase em sua vida. Já no Francisco Rosa, também na capital sergipana, onde inicia suas atividades escolares cursando o 9º ano do ensino fundamental, um ano depois, dona Maria de Lourdes encara novos desafios: o ensino médio.
Na rotina de aulas, trabalhos, apresentações e avaliações, a aluna do ensino médio afirma que sempre tirou de letra as adversidades com as quais não estava acostumada, como constatou o gestor do Francisco Rosa, o professor Rubens Feire, que acompanha a evolução de dona Maria desde seu ingresso na unidade escolar. “É uma referência para todos os nossos estudantes; uma aluna exemplar. Sempre que nos deparamos com um aluno que quer desistir, por diversos motivos, a gente cita a história dela para motivá-los a continuar porque são trajetórias como a de dona Maria de Lourdes que precisam ser compartilhadas”.
Querida por onde passa, dona Maria de Lourdes construiu relações baseadas em afeto e confiança, etapa que, segundo ela, foi importante para buscar a liberdade que tanto almejava: viajar e descobrir destinos Brasil afora. “Vivi 80 anos presa. Agora estou livre e no paraíso”, desabafou a costureira, prestes a completar 81 anos de idade, e que agora planeja conhecer o Rio de Janeiro, São Paulo, além de rever os familiares em Nossa Senhora de Lourdes.
ASN