Acolher e prestar assistência a familiares e pacientes do Hospital de Campanha Cleovansóstenes Pereira Aguiar, tornando-se um dos principais elos entre eles durante o isolamento imposto pela covid-19. Essa é uma das principais atribuições dos assistentes sociais que atuam nessa unidade provisória de saúde construída pela Prefeitura de Aracaju para ampliar a capacidade de atendimento da rede municipal de saúde.

Ao todo, nove assistentes foram contratados para o HCamp, sendo três a cada turno. Na rotina, visitas diárias a todos os pacientes, videochamadas entre pacientes e familiares, orientações quanto aos procedimentos do hospital, trâmites burocráticos, dentre outras tarefas. 

Rose Fraga é a Responsável Técnica da equipe. No HCamp desde o início de seu funcionamento, ela diz que está entre as competências a organização, junto aos demais assistentes, dos instrumentais para o trabalho, já que trata-se de um hospital que começou do zero. “A gente vem montando nossos instrumentais, a forma como a gente vai trabalhar. Em conjunto, a gente foi montando esse fazer profissional em um hospital de campanha”, ressalta Rose. 

Esse fazer profissional passa, segundo ela, principalmente pelo acolhimento inicial às famílias do paciente, já que ele vem regulado de outra unidade e, por isso, entra direto para o leito. “Nosso primeiro contato é com o familiar, que chega bastante aflito, preocupado. A gente mostra como é a rotina do hospital, conversa sobre os procedimentos da rotina, como horários para informações e videochamadas, e orienta com relação aos cuidados lá fora também”, revela.

Para Rose, a videochamada é um dos principais instrumentos da equipe. “Porque não é fácil ficar doente, isolado, longe da família. Eu me coloco no lugar deles, pois a gente acaba criando um vínculo muito grande, mesmo depois da alta”, destaca. Rose acredita que esse vínculo dá um certo conforto aos pacientes do HCamp.

“O elo é bem forte e tem ajudado bastante emocionalmente, para eles não se sentirem abandonados. É um trabalho sensível, de empatia. A gente tem que ter esse carinho, esse cuidado e acho que a gente tem conseguido alcançar esse objetivo”, reconhece a Responsável Técnica. “Não gostaria de estar vivendo uma pandemia, mas trazer esse conforto num momento como esse tem sido significativo na minha vida”, admite. 

Um dos assistentes sociais da equipe, Laerson Costa Viana, que atua na área há 26 anos, também se sente útil ao atuar na unidade. “No início, tem aquele impacto, por ser um hospital de campanha. Mas, hoje, vejo o quão gratificante é atuar nesse momento único. Quando vou embora e penso em um paciente que teve alta, que saiu de uma ala crítica e foi para outra, me sinto gratificado”, diz Laerson.

De acordo com ele, esse é o retorno que tanto familiares quanto pacientes dão acerca do trabalho deles. “Sempre falam da importância da nossa atuação nesse momento e nos agradecem”, afirma. O retorno é um incentivo a continuar fazendo o melhor para os pacientes. 

“A gente percebe que eles não reclamam, sempre elogiam o serviço, que vai desde fazer a ficha social, ver o paciente no leito, saber o que está precisando, até a realização das chamadas entre a família e o paciente e todo esse contato externo, seja sobre documentação, pertences pessoais ou trâmites de transferência e até óbito. Nós somos o elo entre a família, o paciente e a equipe médica”, ressalta Laerson. 

Segundo o assistente social, o momento da videochamada é um dos mais emocionantes para os pacientes, a família e para eles também. “É um momento ímpar, onde todos se emocionam. Os próprios médicos recomendam, pois, como eles se sentem sozinhos, sem acompanhantes ou visitantes, é uma forma de aproximá-los”, destaca.

Diferentemente desse, o momento do óbito é um dos mais difíceis entre as atribuições dos assistentes. Nessa hora, eles precisam entrar em contato com os familiares para solicitar a presença no hospital, quando, então, as orientações são passadas. “A equipe médica é quem comunica à família, mas a gente acolhe, faz os trâmites legais, orienta tudo”, resume.

Segundo Laerson, cabe à família decidir se quer reconhecer o corpo ou não, já que, para isso, precisa estar no mesmo ambiente. “A maioria decide ver, até para acabar com essas informações de que há troca de corpo, etc. Para isso, o familiar passa por toda a paramentação, com o uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). É bem rápido, apenas para conferir e se despedir mesmo”, relata.

Anabela Maurício de Santana, assistente social há 13 anos, também atua no Hcamp. Para ela, esse, de fato, é um dos momentos mais complicados. “A gente pede o comparecimento da família e, depois da notícia, acolhe e dá orientação referente à parte burocrática e também humana, porque apesar do distanciamento social, esse familiar precisa ser acolhido, ouvido, mesmo sem ser tocado”, observa. 

Diferencial

Para Anabela, os profissionais da área realizam um trabalho diferenciado na unidade. “Porque durante todo o processo, fazemos o acolhimento das famílias e dos pacientes. Todo o procedimento é passado a eles, orientamos com relação a questões trabalhistas, de previdência. Feito isso, a gente também procura estreitar os laços entre família e paciente, através das videochamadas, o que é muito importante nesse momento”, afirma. 

Ela acredita que a profissão está mostrando a relevância que sempre teve. “Estar na linha de frente faz com que não só nós, profissionais, percebamos a importância no cotidiano da sociedade, a partir das expressões da questão social, mas também para a população. O cuidado da entrada até a saída do paciente é fundamental. É desafiador, pois é um momento de cuidar de outras pessoas mas também de se cuidar”, reitera.

Fonte: PMA