A melhora, mesmo que lenta, do ator Paulo Gustavo após uso de um pulmão artificial para o tratamento da covid-19 fez com que as famílias de pacientes em estado grave pedissem a terapia para médicos e hospitais, na expectativa de cura do ente querido.
Mas, especialistas explicam que a utilização da ECMO (oxigenação por membrana extracorporal) não é indicada para todos e não serve para curar o pulmão dos doentes. A máquina auxilia na recuperação da infecção causada pelo SARS-CoV-2.
Para o cirurgião cardíaco Rafael Otto Schneidewind, um dos pioneiros do uso da técnica no Brasil, o procedimento deve ser usado para manter o paciente vivo até que o pulmão se recupere.
“A terapia não cura o pulmão, e sim faz o trabalho do órgão. Uma máquina puxa o sangue do corpo, oxigena e devolve ao corpo. A ECMO mantém o paciente vivo até que o pulmão descanse e melhore”, explica o médico.
Coordenadora de ECMO pediátrica da BP – a Beneficência Portuguesa de São Paulo, Larissa Gondim acrescenta que a técnica é usada como suporte para salvar as pessoas.
“A ECMO é uma terapia ponte para alguma coisa. Por exemplo, é uma ponte para recuperação pulmonar, no caso da covid. Uma ponte para recuperação após cirurgia cardíaca. O procedimento salva muitas vidas, mas quando a doença é reversível e com chance de recuperação”, salienta.
Quem pode usar?
A implementação do pulmão artificial nos infectados por covid passa pela avaliação de um grupo de profissionais especializados e algumas características são levadas em consideração pela equipe.
decisão não é de um médico, de uma pessoa, é de uma equipe preparada para cuidar do paciente que analisa os benefícios do tratamento e os fatores de risco do paciente”, conta Larissa.
A condição principal para colocar um doente no pulmão artificial é a ineficiência dos ventiladores mecânicos para manter o paciente vivo. A partir daí, são avaliados outros fatores.
“A partir da ineficiência dos ventiladores, analisamos outras indicações. Geralmente, não usamos em pacientes com idade avançada, com comorbidade grave, os imunossuprimidos, pessoas com doenças hematológicas graves e doentes que estejam há muito tempo intubado”, afirma Schneidewind.
O médico ainda ressalta: “Tem paciente que está há 20 dias no tubo, mas está estável. A família pede para colocarmos na máquina, mas não vai adiantar em nada. O tubo está fazendo o papel dele. A ECMO é para aquele paciente que está no começo da piora e os médicos percebem que a ventilação não vai dar conta", completa.
Gondim lembra, ainda, que pessoas com propensão a sangramentos também não devem usar a terapia.
“No procedimento usamos anticoagulantes e sabemos que a covid é uma doença tromboembólica [fácil formação de coágulos no sangue], se o paciente tiver algum fator que estimule o sangramento, usar a máquina pode causar a morte da pessoa. Sangramento em qualquer lugar, na cabeça, no intestino e até no próximo pulmão”, diz a especialista.
Como controlar as famílias?
A situação de Paulo Gustavo ajudou a divulgar um procedimento que já é usado no Brasil há mais de dez anos. Porém, aumentou ainda mais o trabalho dos profissionais de saúde, que precisam controlar a ansiedade das famílias sobre o procedimento.
“Quando as famílias têm pacientes próximos internados passam pelo momento mais frágil da vida delas. Nessa situação, as pessoas entram em desespero. A partir das notícias a família vê a terapia como salvação. Mas não é para todo mundo”, lamenta Rafael.
Larissa acredita que o jeito de acalmar familiares é explicar os riscos na saúde do paciente internado.
“A família pensa: se tudo der errado, vamos colocar na ECMO. É quando conversamos sobre os benefícios e o risco da terapia. A terapia não é a solução da covid. Tem momentos que sofremos, mas não podemos correr mais riscos que o necessário”, finaliza a especialista.
Fonte: R7