A Universidade Federal de Sergipe (UFS) divulgou nesta sexta-feira, 12, um novo relatório sobre os impactos da pandemia da covid-19 em populações vulneráveis do estado. A análise no âmbito do Projeto EpiSergipe aborda os efeitos do cenário epidêmico em idosos em instituições de longa permanência, cidadãos em situação de rua, adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas de internação, e adultos cumprindo pena de privação de liberdade.
O levantamento aborda os dados de testagem, contágio e óbitos pela infecção em pessoas privadas de liberdade no estado e o planejamento do plano estadual de vacinação contra a doença nos grupos considerados vulneráveis, além de estabelecer uma relação entre o avanço do plano de retomada da economia e a evolução da contaminação em Sergipe.
Contágio da população prisional
Dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) apontam um aumento de 284,25% nos casos de presos contaminados pelo novo coronavírus em apenas cinco meses em Sergipe. O número subiu de 108 em setembro do ano passado para 415 em fevereiro deste ano. Esse crescimento na identificação de casos está relacionado ao aumento da testagem da população carcerária do estado. A quantidade de detentos testados no período analisado saltou de 166 para 1.500, tendo um crescimento de 803,61%. Dois adultos privados de liberdade perderam a vida por conta da doença no estado desde o início da pandemia.
"Identificamos que o índice de contaminação nos presídios do estado foi 3,48 vezes maior do que o observado na população em geral. Isso faz acender o sinal de alerta para que política públicas sejam direcionadas a esse público, porque, além da questão da saúde dos detentos, isso tem um impacto direto na saúde dos profissionais que atuam no sistema prisional. Essa situação também causa uma série de restrições quanto aos direitos dessas pessoas, a exemplo de visitas, que foram interrompidas desde o início da pandemia," explica a professora de Direito da UFS e coordenadora do subprojeto de impactos sociais da pandemia no Projeto EpiSergipe, Karyna Batista Sposato.
Adolescentes privados de liberdade
Sem registro de óbitos de adolescentes em privação de liberdade no estado, o número de novos casos nessa população saiu de 44 para 61 entre setembro de 2020 e fevereiro de 2021, representando um crescimento percentual de 38,63%. Por outro lado, “não houve ampliação da testagem nesse grupo vulnerável, mantendo-se o quantitativo de 221 adolescentes testados.”
Imunização da população idosa
O plano estadual estima a imunização de 262.586 idosos acima de 60 anos não institucionalizados e 240 idosos acima de 60 anos em instituições de longa permanência. No entanto, como o planejamento para a vacinação desse grupo prioritário se baseou nos dados do Censo/Suas/2019, que não abrangeu instituições privadas, os pesquisadores ressaltam a “necessidade de uma apuração mais abrangente do conjunto de equipamentos e instituições que se destinam ao acompanhamento de idosos no estado.”
Pessoas em situação de rua
A análise ainda chama a atenção para a vacinação de pessoas em situação de rua no estado. Isso porque, segundo Sposato, “não há previsão para a vacinação deste grupo no plano estadual de imunização, embora haja menção a este grupo, como prioritário, para a vacinação no plano nacional.”
Professora alerta para avanço da contaminação da covid-19 em presídios
A pesquisadora ressalta a dificuldade para identificar o quantitativo real de pessoas em situação de rua no estado. "Por isso, é importante se obter um censo o mais fidedigno possível dessa realidade, de quantas pessoas vivem nessa situação, para que as medidas de prevenção possam ser adotas com maior efetividade," diz.
Avanço da doença x plano de retomada
O levantamento também apresenta os possíveis impactos do plano de retomada da economia na evolução da contaminação no estado. Neste caso, foi observado que “não houve aumento do contágio entre as três primeiras fases de reabertura (laranja, amarela e verde I e II).”
Em contrapartida, “após a flexibilização que ocorreu entre os dias 9 de novembro e 1 de dezembro do ano passado, e um mês após as eleições municipais, houve um aumento exponencial no número de casos, atingindo, em meados de dezembro, 213,5%.”
Projeto EpiSergipe
A Universidade Federal de Sergipe firmou parceira com o Governo do Estado de Sergipe para o desenvolvimento de um projeto que visa acompanhar o grau de contaminação e os impactos do coronavírus em Sergipe. O investimento será de R$ 4.160.000,00.
Subdividido em três vertentes, o projeto terá duração de um ano e consiste em monitorar o nível de infecção por covid-19 no estado, identificando-se a prevalência em quinze municípios sergipanos, estimar os impactos socioeconômicos da pandemia no estado e acompanhar os impactos sociais em populações mais vulneráveis.
Fonte: UFS