Os boatos foram criados a partir de postagens manipuladas em redes sociais, mas profissionais de saúde e da ciência desmentem

Em meio a mais um capítulo da luta contra as fake news, profissionais e entidades da saúde e da área científica se mobilizaram nos últimos dias para combater um boato de que pessoas imunizadas contra a Covid-19 estariam desenvolvendo a Aids (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida). A sugestão foi dada a partir de postagens falsas feitas em redes sociais, que alegavam ter relatórios divulgados nesse sentido pelo governo britânico. Mas estas postagens e informações, no entanto, são falsas.

O boato foi desmentido pela agência de checagem Aos Fatos, que chegou à conclusão de que os documentos utilizados para os boatos, relatórios semanais do Departamento de Saúde Pública do Reino Unido, o COVID-19 vaccine surveillance report, referentes às semanas 36, 37 e 38, não teriam sequer associado uma ligação entre a vacinação e a doença, além de terem sido manipuladas nessas postagens falsas, com tabelas e informações fraudadas.

Só que uma destas publicações foi repercutida no dia 21 de outubro, durante uma live transmitida pelo presidente Jair Bolsonaro, que com base nos documentos manipulados, sugeriu que os ingleses imunizados estariam contraindo Aids. Na verdade, os documentos originais mostravam a vigilância dos efeitos da vacina na população ao longo do tempo avaliado.

“Já foi provado por várias sociedades e publicações científicas que isso não tem base na Ciência e nem há indícios de realidade. Essa informação não é real, está distorcida e prejudica as informações relativas à vacinação da Covid-19, que no momento é o foco de divulgação do Sistema de Saúde com vários programas de vacinação para, assim, garantir uma imunização plena e proteger a população contra essa doença que vem nos acometendo nos últimos 18 meses, por assim dizer”, explica a infectologista Gilmara Carvalho Batista, professora do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit Sergipe).

Vacinas previnem doenças

Na composição das vacinas, são utilizados antígenos que, ao serem introduzidos no organismo humano, irão ativar o sistema imunológico para proteger contra o vírus invasor. Desta forma, não há como qualquer vacina causar doenças. Vacinas são preparadas para ajudar o sistema imunológico a criar anticorpos contra uma doença específica.

Gilmara Carvalho diz que, “quando se é vacinado, as substâncias presentes nas vacinas provocam uma reação do próprio organismo para que ele crie uma proteção no sistema imunológico que irá adquirir informações sobre uma determinada doença e, dessa maneira o organismo produzirá células para se defender da infecção”.

 

O HIV e sua transmissão

A Aids é causada pelo vírus HIV, mas é uma doença descoberta na década de 1980. Atualmente, é uma doença bem conhecida e estudada, tem um tratamento estabelecido, e o indivíduo acometido por ela pode ter um comprometimento crônico, mas o tratamento feito corretamente permite que ele viva com qualidade, monitorando a dosagem da carga viral, que deve ser realizada semestralmente, e em muitos casos esta carga está negativada.

Esse tratamento é disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) com acompanhamento especializado feito por infectologistas. Já a transmissão do vírus é feita principalmente por relações sexuais sem preservativos, contato com sangue ou secreções contaminadas. “Então não há nenhuma relação entre vírus HIV e Covid-19, nem vacinas da Covid”, observa a infectologista.

 

Negacionismo e preconceito

Epidemiologistas em todo o país alertam que a falta de informação, as fake news e os movimentos antivacina prejudicam a população como um todo ao criar um pânico geral, já que muitas pessoas acabam acreditando que vacinas fazem mal e causam doenças. E isso vem prejudicando o processo de imunização geral da população e a prevenção de mortes, algo recorrente na pandemia do novo coronavírus. Frisam ainda que o boato recente reforça estigmas negativos sobre a AIDS e também preconceitos sociais contra pessoas que vivem com a doença.

A professora Gilmara reforça que, durante este período pandêmico em que vivemos, a vacina da Covid-19 foi o que nos trouxe esperança. Segundo dados das Secretarias Estaduais de Saúde, 55,6% da população brasileira está plenamente imunizada, 74,9% já recebeu a primeira dose e aproximadamente 3% foi vacinada com a terceira dose (reforço).

“Esse fato nos traz uma tranquilidade maior, mas não nos deixa seguros totalmente. A Covid-19 está em via de ser uma doença sob controle e a vacina permite que seja mais um estímulo ao sistema imunológico, garantindo que ele conheça o vírus circulante e diminua o risco de agravamento e de internações, mas as medidas de segurança e de proteção individual devem ser mantidas. Devemos permanecer vigilantes, apesar de alguns estados já terem flexibilizado o uso de máscara em alguns locais, precisamos manter o cuidado e estarmos vigilantes", conclui a infectologista.

Fonte: Assessoria de Imprensa | Unit