A história é de superação, força e boa vontade. Há 30 dias, o médico intensivista do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), Samuel Rodrigues da Silva, deixava o hospital onde estava internado para tratar a Covid-19. Seu estado era grave, precisou de UTI e intubação e, devido à insuficiência de oxigênio no cérebro, sua mente se alternava entre lucidez e a falta dela. Mas ele venceu a infecção e, recusando os 30 dias para a recuperação a que tinha direito, voltou ao trabalho 15 dias após a alta médica. “Precisava continuar cuidando dos pacientes, salvando vidas”, disse o médico que se declara um apaixonado pelo trabalho com pacientes críticos.

O médico relembra o que viveu quando adquiriu a Covid-19 e o caso se agravou. “ Fui para UTI e precisei ser intubado para superar uma atelectasia (colapso de um segmento do pulmão alterando a relação ventilação/perfusão – passagem de líquido através do sistema circulatório ou linfático para um órgão ou tecido). Debilitado e com 15 quilos a menos, vivi a experiência comum a seus pacientes: senti o que eles sentem e confesso que não é das melhores sensações, não”, revela.

Segundo ele, o processo de melhora começou a partir do momento em que foi intubado. “Muita gente tem medo da intubação orotraqueal, mas na verdade é o que salva”, atestou ele, ressaltando que a experiência com a proximidade da morte engrandeceu sua história de vida, inclusive no campo profissional. “Em meus momentos de lucidez me preocupava em como minha esposa falaria para o meu filho que ele não tinha mais pai caso eu viesse a óbito. Pensava também em como iria nascer Marina, a bebê no ventre de uma amiga, detectada com um probleminha de saúde”, relatou.

Desde o início da pandemia, o intensivista Samuel Rodrigues escolheu trabalhar somente com paciente Covid-19. “Hoje nós temos uma carência de profissionais na área de Medicina Intensiva, uma realidade que atinge o Brasil e o mundo. Então, me dispus desde o primeiro dia a trabalhar com esse paciente que tem uma necessidade de cuidados intensivos porque um paciente que se agrava com a Covid tem que estar dentro de uma UTI”, informou o médico que atua no Huse; no Hospital Regional de Itabaiana, onde responde pela Diretoria Clínica da unidade; e no Hospital da Polícia Militar, onde é coordenador Clínico.

Cuidados

O intensivista Samuel Rodrigues mora com a esposa, o filho e os sogros. Por estar exposto ao novo coronavírus adota cuidados preventivos para reduzir as possibilidades de contágio. À exceção de sua mulher, ninguém mais na casa teve a doença. Entre as medidas de proteção por ele adotadas estão entrar na casa somente depois de se desfazer de roupas e sapatos em local específico na área externa da residência, higienizar bem as mãos, não abraçar o filho na volta do trabalho e não falar com as pessoas que vivem na casa antes do banho. Ele salientou que a família usa máscaras dentro de casa, principalmente os sogros idosos.

Ensinamentos

A pandemia tem uma face terrível, mas como tudo de bom ou de ruim que acontece, lições são deixadas, segundo avalia o médico. “Do ponto de vista pessoal , o novo coronavírus traz a seguinte reflexão: que a gente tem que viver um pouquinho mais; se amar um pouquinho mais; saber dividir as coisas, pois não somos nem oito nem oitenta, existe um meio termo; que tem coisas que não gosto no meu colega, mas que posso aprender a conviver com isso; ser mais tolerante.  A pandemia reforçou que nós somos todos iguais”, opinou.

No campo profissional, Samuel Rodrigues crê que a pandemia motivou entre as equipes assistenciais a união, a interação, a preocupação e o empenho com o paciente. Destacou também que depois da crise sanitária haverá mais profissionais capacitados. “Tem muita gente que está interessada em salvar vidas. Alguns colegas me disseram que queriam intubar, fazer acesso central, aprender sobre ventilação mecânica”, disse o médico. Destacou também a união da comunidade científica à procura de uma vacina. “Acredito que o mundo pós-pandemia será melhor”, finalizou.