A necessidade de leitos hospitalares vai aumentar

A partir do momento em que a transmissão do novo coronavírus se tornou comunitária, isto é, quando não foi possível saber de onde veio aquela infecção, qualquer pessoa sintomática ou não, poderá transmitir o vírus para outra, principalmente através das secreções respiratórias.

As cenas de aglomeração do final de semana em pelo menos cinco cidades de Sergipe, circularam como sinais de alerta em páginas de rede social e grupos de WhatsApp. Os vídeos mostraram shows com cantores no palco ou em trio elétrico e pessoas bem próximas às outras, com bebidas nas mãos e sem máscaras. Foram cenas de completo desrespeito às regras sanitárias. O fato de as pessoas estarem ao ar livre não as exime de tomar os devidos cuidados, como o distanciamento social.

Os resultados negativos das aglomerações nas festas poderão impactar na transmissão do novo coronavírus no nosso estado. As aglomerações clandestinas em festas particulares também poderão agravar a situação da Pandemia da Covid-19. Naturalmente que essas festas, além de aglomeração, viabilizam contato de pessoas de diversos locais com registro da doença, o que potencializa o contágio.

Os reflexos das aglomerações são sentidos com o aumento da procura por atendimento nas unidades de saúde, especialmente de jovens. Além de crescimento de atendimentos por síndromes gripais na atenção básica, também o aumento da necessidade de vagas de internação nos leitos de retaguarda dos hospitais.

Quem estava presente nas festas com aglomerações?

Estavam nas festas, jovens e adultos de todas as idades, até pessoas que certamente devem ter as comorbidades com diabetes, hipertensão arterial e outras patologias. É evidente que, em toda festa com aglomerações, o novo coronavírus estará sempre presente, circulando intensamente no sangue e secreções daquelas pessoas. No meio da aglomeração pode até ter as pessoas denominadas “Super transmissoras” do novo coronavírus. São pessoas que emitem mais partículas de aerossóis que outras, podendo infectar um maior número de pessoas. Possivelmente, essas pessoas apresentam maior carga viral naquele momento. No entanto, alguns acham mais adequado não colocar a atenção sobre indivíduos, mas sobre “eventos super transmissores”.

Quem estava ausente nas festas?

Foram notadas as ausências das máscaras, do distanciamento social e do poder público municipal. Ficou evidente, nos municípios festivos, o descumprimento dos protocolos e medidas restritivas. Quando as autoridades municipais são questionadas “por que não interviram na realização da festa”, a resposta é sempre a mesma: “não fomos informados da festa, “não sabíamos que a festa iria acontecer” ou que “os organizadores das festas não solicitaram autorização” e “só permitimos festas quando seguem as restrições”. Como ocorre uma festa numa cidade do interior, que aglomera milhares de pessoas, com palco e até trio elétrico com bandas, e a prefeitura diz que não sabia? Enquanto não tivermos vacina, a Covid-19 estará sempre presente nas festas.

O problema é coletivo, não é individual

Algumas pessoas se comportam de forma indiferente à pandemia da Covid-19, dizendo: “ah, se eu ficar doente o problema é meu”. Não é. A pessoa vai infectar outras pessoas que podem morrer por causa disso. Pode infectar pessoas imunodeprimidas ou com outras doenças associadas, ou até pessoas da terceira idade. Então é importante parar de olhar somente para si. Outro problema é que mesmo quem já teve a covid-19 corre o risco de ser reinfectado pelo vírus.

A pandemia de Covid-19 não acabou

Precisamos, cada vez mais, criar condições para diminuir os danos que o vírus pode causar à população. A redução do contato social, associado às demais medidas de higiene das mãos e uso de máscaras certamente reduzirão as chances de transmissão do vírus. Em relação aos ambientes onde podemos andar, é preciso observar fatores como a quantidade de pessoas, o uso de máscaras, a ventilação do ambiente e o comportamento dos indivíduos (pessoas que possuem atitudes que favorecem a dispersão de partículas).

Dr Almir Santana,  médico sanitarista