A Pandemia da Covid-19 provocou queda na procura pelos exames de HIV no Brasil

Entre as inúmeras questões causadas pelo novo coronavírus na área da saúde, uma que chama a atenção e tem sido tema de pesquisas: é o impacto da pandemia da covid-19 no número de diagnósticos de outra pandemia, a do HIV.

Principais motivos da queda do diagnóstico do HIV

As restrições de mobilidade na época mais rigorosa da quarentena; medo das pessoas saírem de casa para ir na unidade de saúde com receio de serem contaminadas pela covid-19; fechamento total ou parcial dessas unidades, com o cancelamento de algumas atividades de atendimento clínico, mantendo apenas a entrega do tratamento pela farmácia. Também a sobrecarga dos serviços direcionados à Pandemia da Covid-19 e a realocação de alguns profissionais de saúde para atuar na linha de frente do novo coronavírus, provocaram redução no atendimento de testagem.

Consequências da falta de diagnóstico do HIV

A falta de diagnóstico em tempo hábil é muito preocupante, pois se sabe que as pessoas vivendo com HIV são muito beneficiadas pelo tratamento antirretroviral e que, mesmo sem acesso precoce, podem permanecer assintomáticas ou com poucos sintomas por anos. Isto trará o risco de ter o diagnóstico só quando do aparecimento de doença definidora da Aids, além do aumento da possibilidade de transmissão do HIV exatamente pela falta de diagnóstico e não uso de medicamentos antirretrovirais eficazes.

Portanto, destaco dois riscos reais, em consequência da falta de diagnóstico do HIV: atrasar o diagnóstico de pessoas que desconhecem seu estado sorológico (efeito individual) e também do surgimento de novos casos de HIV e outras ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) – efeito comunitário.

Cuidado Contínuo com o HIV é fundamental para quem é soropositivo

Um outro impacto da Pandemia da Covid-19 foi a redução do número de pessoas que iniciaram a terapia antirretroviral. A interrupção em qualquer uma das etapas no cuidado contínuo do HIV por conta da pandemia do coronavírus pode impactar negativamente no controle do HIV podendo aumentar a mortalidade por Aids. Esse cuidado vai desde a saúde sexual em geral, passando pela promoção da prevenção, disponibilização de preservativos, PrEP – Profilaxia pré-exposição ao HIV, PEP – Profilaxia pós-exposição, autotestes, testagem rápida de HIV, chegando até o tratamento de quem já vive com esse vírus.

Campanha do Dezembro Vermelho

A Campanha do Dezembro vermelho deste ano procura incentivar as pessoas para a realização do teste de HIV e reforça importância do tratamento. Quanto mais cedo uma infecção por HIV é diagnosticada e tem seu tratamento iniciado, menor é o impacto da infecção na saúde do indivíduo e da comunidade. É um bom momento de informar as pessoas que elas precisam procurar uma unidade de saúde, caso tenham se exposto à uma situação de risco.

O SUS oferece gratuitamente testes para diagnóstico do HIV (o vírus causador da aids), e também para diagnostico da sífilis e das Hepatites B e C. Em alguns serviços como os CTA – Centro de Testagem e Aconselhamento dos municípios-sedes regionais de saúde de Sergipe, está disponível também os autotestes, para as populações chaves.

É importante lembrar à população de que os testes comumente utilizados possuem um período denominado “janela diagnóstica ou imunológica”, que corresponde ao tempo entre o contato com o vírus e a detecção do marcador da infecção (anticorpos). Isso quer dizer que, mesmo se a pessoa estiver infectada, o resultado do teste pode dar negativo se ela estiver no período de janela. Dessa forma, nos casos de resultados negativos, e sempre que persistir a suspeita de infecção, o teste deve ser repetido após, pelo menos, 30 dias.

Estratégias recomendadas para o Dezembro Vermelho

Entre as várias estratégias recomendadas pela Secretaria de Estado da Saúde de Sergipe, que podem ser utilizadas no DEZEMBRO VERMELHO, para alertar a população, estão: oferta da testagem nas próprias UBS, com o cuidado de evitar aglomerações; divulgação e distribuição do laço vermelho que simboliza a solidariedade e compromisso; iluminação de cor vermelha em prédios públicos ou monumentos dos municípios; rodas de conversa presenciais (respeitando os cuidados recomendados na prevenção à Pandemia da Covid-19) ou de forma online, sobre diagnóstico precoce do HIV, prevenção e importância da adesão ao tratamento; divulgar mensagens através das redes sociais; divulgar orientações através das emissoras de rádio locais.

O SUS disponibiliza preservativos e testes rápidos para a detecção nas unidades de saúde do país. Esses testes estão disponíveis para toda a população. Precisamos alertar as pessoas para buscarem a testagem, principalmente neste momento da Pandemia da Covid-19.

Almir Santana,  médico sanitarista