HTLV-1, o vírus “primo” do HIV que ninguém conhece, mas é também perigoso

O Dia 10 de Novembro, Dia Mundial de Combate ao Vírus HTLV, foi uma data escolhida pela Associação Internacional de Retrovirologia para alertar e mobilizar a sociedade e o poder público, com relação a uma infecção pouco conhecida, com sinais e sintomas imperceptíveis na maioria dos casos.

O HTLV é um retrovírus da mesma família do HIV, vírus causador da AIDS (sendo por isso denominado “primo do HIV”), que infecta a célula T humana, um tipo de linfócito importante para o sistema de defesa do organismo. As estatísticas indicam que apenas 5% das pessoas infectadas pelo HTLV desenvolvem problemas de saúde relacionados com o vírus. Nesses casos, em geral, instalam-se quadros neurológicos degenerativos graves e de leucemias e linfomas.

Transmissão do HTLV 1

A transmissão desse vírus se dá pela relação sexual sem camisinha com uma pessoa infectada, compartilhamento de seringas e agulhas durante o uso de drogas e da mãe infectada para o recém-nascido (também chamado de transmissão vertical), principalmente pelo aleitamento materno. É um dos motivos da proibição do aleitamento cruzado, isto é, uma mãe não pode amamentar o filho de outra mãe diretamente, sem passar pelo banco de leite.

Sintomas da Infecção pelo HTLV 1

Na grande maioria dos casos (95%), a infecção pode ser absolutamente assintomática. Os sintomas mais comuns estão relacionados com doenças neurológicas, principalmente, por lesão na medula espinhal (mielopatia), mais comumente associada ao HTLV 1: Dor na batata da perna e nos pés e na coluna lombar; Fraqueza, dormência e formigamento nos membros inferiores; Perturbações urinárias, principalmente dificuldade para urinar ou de controle da micção. Pode também, de forma mais rara, apresentar sintomas relacionados com a presença de leucemia e linfomas: lesões cutâneas, alterações visuais, aumento dos linfonodos (“Gânglios inchados”).

Diagnóstico

Muitas vezes, a pessoa descobre que é portadora do HTLV, por acaso, quando vai doar sangue, por exemplo. O diagnóstico é feito somente por exame sorológico específico para pesquisa de anticorpos anti-HTLV-1/2 no sangue. Os testes de diagnóstico ainda não estão disponíveis nas UBS ligadas ao SUS.

Tratamento

Ainda não há tratamento específico para a infecção pelo HTLV 1. No entanto, todas as doenças correlacionadas com o retrovírus HTLV têm tratamento. O paciente deve ser acompanhado em serviço de saúde especializado, para diagnosticar e tratar precocemente doenças que podem estar associadas. O tratamento irá depender de uma avaliação neurológica, hematológica, oftalmológica, assim como estadiamento do grau de comprometimento, tempo de evolução, presença de outras infecções.

Prevenção à Infecção pelo HTLV 1

A utilização do preservativo masculino ou feminino nas relações sexuais é uma importante proteção contra as IST – Infecções Sexualmente Transmissíveis. A infecção pelo HTLV 1 é uma IST. É fundamental o não compartilhamento de seringas e agulhas. Quando a mãe possui o HTLV 1, como acontece também com o HIV, ela não pode amamentar, pois há grande risco de transmissão para o bebê. Após a descoberta dos vírus HIV e HTLV 1, a amamentação cruzada passou a ser contraindicada. As mães infectadas usam medicamentos que inibem a lactação. Nesses casos, a nutrição deverá ser feita com fórmulas indicadas por um médico ou leite humano oriundo do banco de leite. Desde 1993 todos os bancos de sangue do Brasil testam os doadores de sangue para o HTLV. Assim, o risco de transmissão praticamente não existe em nosso país, nos últimos anos.

O objetivo do Dia Mundial do HTLV é esclarecer a população sobre o vírus que atinge cerca de 750 mil pessoas apenas no Brasil. Apesar das grandes limitações enfrentadas pelos pesquisadores e profissionais de saúde que cuidam das pessoas que vivem com HTLV, é importante que os esforços continuem para implantar os testes de diagnóstico no SUS e a descoberta e implementação de tratamento específico da infecção e de suas consequências, principalmente, neurológicas, hematológicas e oftalmológicas.

Almir Santana,  médico sanitarista