A conversa no ambiente familiar é fundamental
A questão da aids precisa ser discutida também no ambiente familiar. Discutir sobre a aids não é só falar de camisinha. É falar também sobre sexualidade saudável, cuidar da saúde e sobre as novas formas de prevenção ao HIV. É falar que a epidemia do HIV existe e que qualquer pessoa pode se infectar. É falar do impacto do HIV na família.
Quando o tema “AIDS” não é conversado na família, o diagnóstico de soropositivo em um membro da família pega todos de surpresa. Os casos de HIV aumentam nas famílias, acometendo mães, pais e filhos.
Quando uma família descobre que tem alguém soropositivo, as reações são as mais diversas: atitudes ainda preconceituosas de afastamento, atitudes positivas de ajuda e de solidariedade de outros e até atitudes de indiferença.
Impacto do HIV na Família
O impacto do HIV numa família depende de vários fatores. A reação na família depende muito do relacionamento daquela pessoa soropositiva com os demais membros. A primeira pergunta é: a quem eu vou dizer que sou soropositivo? Já tivemos reações de acolhimento e ajuda e de rejeição e até de atitudes fortemente preconceituosas. Em algumas famílias, há uma divisão: alguns membros apoiam e outros se afastam. Alguns ficam com vergonha de que a sociedade saiba que na família tem alguém soropositivo.
Quando o diagnóstico inicial de soropositivo é no homem casado, vem logo o primeiro questionamento: De quem pegou? Ele traia a esposa? A esposa está ou não infectada? Os filhos precisam saber? Quais as reações dos filhos? Se o homem soropositivo já está com as manifestações da doença, vem outra preocupação: ele vai poder continuar a trabalhar? Vem então a preocupação com o diagnóstico da esposa e as suas consequências.
s, a descoberta da soropositividade da mulher ocorre após o óbito do parceiro sexual, em decorrência de complicações relacionadas à AIDS. Quando a descoberta que a mulher é soropositiva ocorre no pré-natal, existe uma ansiedade maior, pela preocupação com a possibilidade da criança nascer infectada. Se o diagnóstico foi feito no início da gravidez, a profilaxia deve ser iniciada imediatamente, o que reduzirá o risco da transmissão do HIV da mãe para o filho. Haverá então, a necessidade da realização do exame no companheiro. A reação do casal é diferente pois a preocupação maior agora é com a gravidez e os cuidados para que o bebê esteja saudável.
Quando o homem e a companheira confirmam que são soropositivos, existem os casos de continuidade do relacionamento, com cuidados e ajuda mútua. A depender do relacionamento e de como o casal se encontra, existe o questionamento: quem infectou quem? Nós, profissionais de saúde, não devemos estimular esse questionamento. Devemos incentivar o cuidado com a saúde dos dois. Existem também casos de separação do casal, após a descoberta da soropositividade de um ou do outro ou de ambos.
Existem famílias com casais sorodiferentes
Um casal sorodiferente, é aquele formado entre uma pessoa que vive com HIV e outra pessoa que não vive com HIV. Ou seja, um deles já foi infectado pelo vírus HIV e o outro não. Para o membro do casal sorodiferente e que não tem o HIV, algumas recomendações são importantes: é bom fazer o teste de HIV periodicamente; usar o preservativo nas relações sexuais; Caso não deseje usar o preservativo (as pessoas têm autonomia de escolhas), deve procurar um serviço de saúde para avaliar a possibilidade de tomar os medicamentos da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). Para o membro do casal sorodiferente e que tem o HIV, também existem algumas recomendações fundamentais: Sempre tomar todos os medicamentos antirretrovirais (para HIV) no horário certo e no dia certo; Fazer exames regularmente; Manter as consultas frequentes com os profissionais de saúde; Usar o preservativo nas relações sexuais.
O HIV está perto de todos
O HIV está cada vez mais perto das pessoas e elas só percebem quando estão com o diagnóstico na mão ou quando algum ente querido acabou de receber um teste de HIV reagente (positivo). Por outro lado, toda a família tem um papel importante no acolhimento das pessoas vivendo com HIV. É bom lembrar que o cuidado dos profissionais de saúde deve ser estendido aos familiares das pessoas vivendo com HIV/AIDS, pois eles são os principais cuidadores das pessoas em questão. Também a adesão das pessoas vivendo com HIV/AIDS ao tratamento tem relação com o apoio familiar.
Portanto, a discussão do tema HIV/Aids precisa começar dentro da família. Com o aumento da epidemia do HIV, a probabilidade do surgimento de alguém, no ambiente familiar, vivendo com HIV será maior. A família precisa se preparar para essa realidade.
Dr Almir Santana, médico sanitarista