A sífilis congênita, apesar de ser uma doença passível de prevenção, vem ocupando um lugar de destaque no mundo todo, particularmente no Brasil e em Sergipe, tornando-se um dos desafiadores problemas de saúde pública.
A Sífilis Congênita é uma doença causada por uma bactéria denominada Treponema pallidum, transmitida para criança durante a gestação ou no parto (transmissão vertical), quando a gestante está com sífilis e não faz o tratamento ou faz de forma inadequada. Por isso, é importante fazer o teste para detectar a sífilis durante o pré-natal e, quando o resultado for positivo (reagente), tratar corretamente a mulher e sua parceria sexual, para evitar a transmissão.
Transmissão da Sífilis para a Criança
A transmissão vertical da sífilis pode se dar em qualquer período da gravidez. Admite-se que o risco de transmissão fetal ocorra entre 30 e 100% dos casos dependendo do estágio da doença materna. Quanto mais recente for a infecção da gestante maior será o risco de contaminação fetal.
Sinais e sintomas da Sífilis na criança
A criança com sífilis pode apresentar baixo peso ao nascer, cegueira, sequelas neurológicas, surdez, nascer prematura ou até morrer antes de nascer (aborto espontâneo) e má-formação do feto. É uma das principais causas de morte fetal evitável em todo o planeta. Os sintomas podem se manifestar logo após o nascimento, durante ou após os primeiros dois anos de vida da criança.
Falhas do pré-natal
Como a sífilis é facilmente diagnosticada pelos testes rápidos e VDRL e, com eficácia tratada pela penicilina, a não realização do pré-natal é considerada como um dos principais fatores responsáveis pelos casos de sífilis congênita.
Cada vez que nasce uma criança com SÍFILIS em um município, indica que houve falha no pré-natal. Esta falha pode ser ter várias causas. Pode ter causa materna: existem mães que não procuram os serviços de saúde ou só procuram quando a gravidez está avançada; Às vezes, por viverem em situação de vulnerabilidade social, não procuram as unidades de saúde; Existem mães usuárias de álcool e outras drogas e não conseguem aderir às orientações e acompanhamento regular do pré-natal; Existem ainda mães com vida itinerante e não conseguem um vínculo com uma unidade de saúde, para realizar os exames do pré-natal.
Entretanto, pelos diversos estudos já realizados, grande parte das falhas do pré-natal está na assistência oferecida às gestantes. A falta de acesso à assistência pré-natal é considerada como um dos principais fatores responsáveis pela persistência dos elevados índices de sífilis congênita.
A realização do pré-natal de forma incompleta ou inadequada, seja pelo início tardio ou por falta de comparecimento às consultas também representa importante fator para explicar diversos casos de sífilis congênita. A falta de realização de exames para o diagnóstico da sífilis; dificuldade em reconhecer os sinais da doença na mãe (na maioria dos casos, a sífilis é assintomática); falhas na interpretação dos resultados de testes sorológicos e falhas ou ausência de tratamento da mãe e/ou do parceiro são fatores relacionados ao pré-natal inadequado. Em muitos casos, a descoberta da sífilis na gestante está ocorrendo na maternidade, na hora do parto.
Prevenção da Sífilis em Crianças
Em primeiro lugar, a assistência pré-natal precisa ser estendida a todas as grávidas, com no mínimo seis consultas de pré-natal com atenção integral qualificada. O diagnóstico precoce da infecção materna ainda é a melhor forma de prevenção da Sífilis Congênita, através da realização dos testes rápidos e/ou VDRL, disponíveis na atenção primária, nas unidades de saúde ligadas ao SUS. Recomenda-se que a gestante seja testada pelo menos em 3 momentos: Primeiro trimestre de gestação; Terceiro trimestre de gestação; Momento do parto ou em casos de aborto. É importante a participação do parceiro sexual no pré-natal, através da realização dos exames. Há também a necessidade de maiores esclarecimentos às grávidas sobre a gravidade e o modo de transmissão da sífilis e de suas consequências para o concepto. O tratamento adequado da gestante com sífilis é fundamental. A gestante é considerada adequadamente tratada quando a terapia foi adequada ao estágio da doença, feita com penicilina e finalizada no mínimo 30 dias antes do parto, tendo sido o parceiro tratado ao mesmo tempo. É importante recomendar ao casal que um dos dois use o preservativo nas relações sexuais durante a gravidez.
Almir Santana, médico sanitarista