Conheça as pesquisas para obtenção de uma vacina contra o HIV
Mesmo com tantos avanços já obtidos na luta contra o HIV, novas infecções continuam surgindo. A eficácia da proteção da camisinha do pênis e da vagina, já é muito conhecida, porém nem todos querem usar o preservativo. A camisinha é uma medida preventiva segura, sem efeitos colaterais, e quando usada correta e consistentemente, na prevenção não apenas contra as Infecções Sexualmente Transmissíveis, protege também contra uma gravidez não planejada. Está disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde, Mas é uma questão de escolha e tem muita gente escolhendo ter relação sexual sem o preservativo.
Os Avanços Alcançados
Desde que o HIV começou a circular, há 40 anos, houve muitos avanços no seu tratamento, só que ainda não existe cura. Novas tecnologias foram lançadas como, o Tratamento Como Prevenção, onde quem usa regularmente os medicamentos antirretrovirais, pode ter sua carga viral indetectável, reduzindo ou até eliminando a transmissão do HIV para outras pessoas, a PEP – Profilaxia Pós-Exposição ao HIV – uma forma de se prevenir após uma relação sexual onde não foi possível ou não quis usar a camisinha ou alguma falha na sua utilização e a PrEP – Profilaxia Pré-Exposição ao HIV – maneira de se prevenir antes da ocorrência da exposição sexual ao HIV. As tecnologias citadas já estão também disponíveis no Sistema Único de Saúde. Mas novas infecções do HIV continuam ocorrendo pois tudo depende de escolhas individuais e de casais e a utilização dessas medidas preventivas depende também de outros fatores e do contexto de uma relação sexual.
Os motivos da Pandemia da AIDS, que já dura 40 Anos não ter vacina e a Pandemia da Covid-19, em apenas um ano, já ter vários imunizantes
Em primeiro lugar houve um maior interesse mundial e alto investimento financeiro que viabilizaram, com muita rapidez, a produção de forma emergencial, das vacinas contra a Covid-19, pois os danos às vidas humanas foram gigantescos e o impacto mundial da Pandemia da Covid-19 foi enorme, não só no aspecto financeiro, mas na saúde pública, na vida social e familiar, levando a necessidade de modificações dos hábitos de vida e até provocando transtornos mentais. As barreiras burocráticas foram vencidas pois se tratava de uma emergência de saúde pública. A barreira que ainda atrapalha a imunização contra a Covid-19 é o movimento anti-vacina que é muito antigo e se acentuou por questões políticas.
Muita gente não sabia que a fabricação das vacinas contra a Covid-19 se baseou nas experiências iniciais realizadas para a obtenção de uma vacina contra o HIV. O desenvolvimento em tempo recorde de várias vacinas contra a covid-19 parece ter dado o impulso que faltava para a criação de um imunizante contra o HIV.
Existem várias diferenças entre o HIV e o novo coronavírus causador da Covid-19: O HIV é um vírus extremamente mais complexo quando comparado ao SARS CoV 2: o HIV entra nas células e se “mistura” com o material genético da pessoa que é infectada e encontrar esse vírus escondido dessa forma é muito mais difícil no nosso sistema de defesa. O segundo problema é que o HIV é um vírus extremamente variável, sofrendo modificações (mutações) dentro do organismo da mesma pessoa. Existem outras diferenças entre a Covid-19 e a AIDS: Muitas pessoas pegaram covid e se curaram. Isso não vem ocorrendo com a infecção pelo HIV. A resposta imune do nosso organismo contra o HIV é muito menos eficaz.
Uma Nova Esperança está surgindo: A Vacina contra o HIV
A tecnologia usada no novo imunizante contra o HIV é similar à da AstraZeneca desenvolvida contra a covid-19. Um adenovírus inativado é usado como um transportador para levar fragmentos genéticos do HIV para dentro da pessoa a ser imunizada, “treinando” o seu sistema imunológico a combater o vírus real. A diferença é que, neste novo produto, estão sendo usados milhares de fragmentos genéticos. É um verdadeiro mosaico de estruturas genéticas com os diversos subtipos circulantes do HIV tipo 1 acoplados ao adenovírus que funciona como vetor.
Diferentemente das vacinas “tradicionais”, que usam partes de vírus ou o vírus inativado, as da tecnologia com RNA mensageiro “ensinam” as células do corpo a produzir antígeno contra o vírus.
São muitos tipos diferentes de vírus circulando pelo mundo, a ideia é conseguir cobrir o maior número possível de variantes. Essa pesquisa se chama Mosaico porque reúne milhares de fragmentos de HIV.
O estudo com mais de 6 mil pessoas está dividido em duas frentes. A primeira delas, na África Subsaariana, testa 2.637 mulheres heterossexuais. Uma segunda, chamada de Mosaico, conduzida na Europa, na América do Norte e na América Latina, está testando 3.600 voluntários, entre homens homossexuais e pessoas trans. No Brasil, o estudo ocorre em oito centros de pesquisa em São Paulo, no Rio, em Minas e no Paraná.
A pesquisa está na fase 3, que testa a eficácia em larga escala. As fases 1 e 2, com menos voluntários, determinam a segurança do produto e a dose apropriada. Os efeitos colaterais foram parecidos aos da AstraZeneca contra a covid: dor local, febre por um dia, dor de cabeça Numa fase anterior, em macacos, o imunizante apresentou uma proteção de 67% contra a infecção. É por conta deste número que os cientistas estão otimistas. Até hoje, o candidato a vacina contra a aids mais eficaz já testado no mundo apresentava proteção de 30% – e sua pesquisa foi deixada de lado.
Os pesquisadores brasileiros estão afirmando que a imunogenicidade do produto, ou seja, o quanto ele conseguiu induzir uma resposta imune, foi considerada muito satisfatória. Resta saber se essa resposta é capaz de reduzir a incidência da infecção.
A vacina está sendo aplicada em pessoas soronegativas que tenham o risco aumentado de exposição à infecção. Os voluntários serão acompanhados por 30 meses. Metade receberá placebo e a outra metade, o imunizante. Trata-se do chamado “estudo duplo cego”. Cada um tomará quatro doses, com intervalos de três meses entre cada uma.
Se a experiência denominada MOSAICO comprovar que as vacinas do estudo funcionam, será um passo muito importante no caminho para encontrar uma vacina segura e eficaz para a prevenção do HIV.
Dr Almir é médico sanitarista