Compreender os padrões comportamentais apresentados neste público favorece o desenvolvimento de metodologias de ensino adaptativas

No Brasil, a ausência de professores devidamente qualificados para o ensino de crianças e adolescentes diagnosticados com algum tipo de transtorno do neurodesenvolvimento ainda é um desafio a ser superado. Mesmo que o termo ‘inclusão’ apareça frequentemente nos debates que vai e voltam na internet, dificuldades no atendimento pedagógico de alunos com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH); Transtorno do Espectro Autista e distúrbios da aprendizagem distanciam o país da lista de nações que priorizam a qualidade do ensino a esse público. 

Para melhorar este cenário, a formação continuada de professores na Educação Especial, após finalizar a graduação inicial, deveria ser de praxe entre os profissionais, mesmo antes de entrarem no mercado de trabalho ou durante os primeiros meses de exercício da profissão. No entanto, na prática, esta realidade ainda permanece longe de se concretizar. Em todo o Brasil, apenas 5,8% dos professores concluíram a especialização na área, de acordo com um levantamento do Painel de Indicadores da Educação Especial, conduzido pelo Instituto Rodrigo Mendes em parceria com o Instituto Unibanco, a partir de dados do Censo Escolar 2022. 

“A formação continuada nesta área permite a identificação de estudantes que apresentem esses transtornos e o encaminhamento para profissionais especializados, os quais promoverão meios e recursos para que superem dificuldades e alcancem melhor desempenho escolar e desenvolvimento socioemocional”, pontua a docente e coordenadora do curso de pós-graduação em Análise do Comportamento Aplicada (ABA) aos Transtornos do Neurodesenvolvimento da Universidade Tiradentes (Unit) e professora das redes municipal e estadual, Patrícia de Sousa Nunes Silva. 

Em sala de aula, a individualidade tem sido a palavra-chave para vencer os desafios educacionais. O conhecimento específico e aprofundado de padrões comportamentais apresentados neste público facilita o desenvolvimento de metodologias de ensino adaptativas, tornando também mais viável a difícil tarefa de competir com dispositivos eletrônicos, sobretudo os celulares. 

Outro ponto crucial nessa jornada é a comunicação assertiva e adequada, o que envolve adaptação de meios de comunicação, uso de comunicação visual, linguagem clara e simples, pausas e tempo adicional, dentre outros recursos. Para a professora, a presença de alunos com diferentes tipos de transtornos em uma mesma sala de aula representa um dos desafios para os educadores no dia a dia da profissão.

“Os principais desafios frente à realidade da sala de aula tem sido, por exemplo, a atuação docente em turmas que hoje apresentam tantas diferenças individuais, cada qual com suas particularidades. É preciso conhecer os diversos tipos de comportamento, os anseios, as expectativas e as dificuldades de aprendizagem desses alunos. Não há fórmula mágica dentro desse contexto, mas uma das alternativas para que superemos parte desses desafios é justamente a formação continuada”, complementa a professora. 

Comunidade e pais envolvidos

A inclusão escolar de jovens com transtornos do neurodesenvolvimento envolve também a participação ativa de pais, instituições de ensino e da sociedade como um todo. Em artigo divulgado pela RevistaFT, uma das principais publicações científicas do país, especialistas expõem que a colaboração conjunta desses três grupos resultam em benefícios como a efetividade das atividades escolares feitas em casa, o interesse pelo aprendizado, maior sensação de segurança e acolhimento, redução do estigma e a permanência desses alunos nos ambientes escolares. 

“Os responsáveis precisam se fazer presentes na educação de seus filhos, acreditar no potencial e que há diversas possibilidades de crescimento intelectual. Precisam envolver-se em uma partilha solidária junto com professores e equipe multidisciplinar que assistem à criança, além de propiciar aportes afetivos. Já as instituições de ensino precisam promover meios para que as crianças sejam acolhidas e que de fato ocorra uma educação inclusiva. Para isso, é necessário repensar o currículo, o planejamento, a acessibilidade, fornecer tecnologias assistivas e estreitar o vínculo com a família”, acrescenta a docente.

Asscom Unit