Estudo em espécies como atum e vermelha identificou a presença destes microrganismos; possível relação com efeitos do derramamento de óleo nas praias em 2019 é investigada
Os peixes também podem ser afetados por microorganismos que podem afetar inclusive os consumidores humanos. Este é o caminho seguido por uma pesquisa realizada na Universidade Tiradentes (Unit), através do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente (PSA) e com participação de alunos da Iniciação Científica. Ele estuda o conjunto de parasitas que vivem em determinadas espécies de hospedeiros, como os peixes atum (scombridae) e vermelha (lutjanidae).
O estudo da chamada parasitofauna dos peixes é um projeto de iniciação científica executado pela estudante Victória Garcia Peres, do 8º período do curso de Biomedicina da Unit. Ele faz parte do desenvolvimento da tese de doutorado da pesquisadora Janaína Freitas Freire, do PSA/Unit, com orientação da professora-doutora Cláudia Moura de Melo e do professor-doutor Ricardo Massato Takemoto. Ambos já atuaram em outras pesquisas relacionadas ao tema, que vem sendo estudado na Unit desde 2015. A pesquisa da tese ainda está em andamento.
De acordo com Victória, o projeto está inserido na linha de pesquisa "Estudo de ecossistemas aquáticos e saúde ambiental" e teve o objetivo de caracterizar a infecção por metazoários parasitas nos níveis de infracomunidade e comunidade em peixes da família Lutjanidae, coletados no litoral de Sergipe e regiões vizinhas. “Esse estudo é importante para a sociedade, porque através dele as pessoas vão entender como a fauna parasitária ajuda indicando como está o ambiente marinho”, resume.
Os peixes foram adquiridos através de pescadores artesanais de Aracaju e passaram por uma análise macroscópica e microscópica no Laboratório de Biologia Tropical (LBT), do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), onde foram identificados e analisados os parasitas presentes nestes peixes. Entre eles, estão os anisaquídeos, larvas de helmintos que são parasitas potencialmente zoonóticos. “Eles são encontrados apenas dentro do animal, na musculatura e/ou na cavidade geral do peixe. Normalmente não afetam a saúde do peixe, mas podem eventualmente causar sintomas gastrointestinais no homem, se ingeridos acidentalmente”, explica a estudante.
Ainda de acordo com ela, os parasitas de peixes podem servir de bioindicadores do impacto ambiental, porque eles são sensíveis às alterações do ambiente em que vivem. “Isso ocorre porque a sobrevivência e reprodução dos parasitas dependem da presença de outros organismos, como microcrustáceos e outros peixes hospedeiros, que podem ser afetados por alterações no ecossistema”, diz Victoria.
Manchas de óleo?
Outro aspecto investigado é se existe alguma relação destes parasitas com o derramamento de uma carga de óleo cru no Oceano Atlântico, que poluiu mais de 230 praias de todo o litoral do Nordeste brasileiro, do Espírito Santo e do Rio de Janeiro, entre agosto de 2019 e janeiro de 2020. A estudante ressalta que ainda não há conclusões claras sobre a possível relação entre o crescimento destes parasitas e as manchas de óleo derramado no oceano. Para ela, “precisa-se de mais estudos para determinar a influência do derramamento na variação das populações parasitárias” dos mares sergipanos.
Estima-se que mais de 5 mil quilos de óleo cru foram derramados no mar, causando prejuízos incalculáveis para as populações locais e para o meio ambiente, configurando-se como um dos piores desastres ambientais já ocorridos no Brasil. “Foi muito triste e desesperador ver como plantas aquáticas, peixes, aves e as pessoas sofreram e até hoje sofrem com isso, as praias ficaram poluídas com as manchas tóxicas espalhadas pela areia. Para mim é mais triste ainda não saberem quem são os responsáveis por essa tragédia”, desabafa.
Iniciação científica
Prestes a concluir o curso de graduação neste ano, Victoria Peres participa ainda de uma segunda iniciação científica, no projeto "Ciclo biológico em condições laboratoriais de diferentes espécies de Triatominae (Hemiptera: Reduviidae)”, um inseto conhecido popularmente como barbeiro e que é o principal transmissor da doença de Chagas, um mal que registra cerca de sete milhões de infectados em todo o mundo e 10 mil mortos por ano nas Américas, segundo dados da Organização Panamericana de Saúde (Opas). A pesquisa também tem a orientação da professora Cláudia Moura.
A aluna conta que se interessou pela iniciação científica por gostar de se aprofundar em temas e assuntos diferentes, proporcionados pela ciência, além de ser uma oportunidade para o crescimento profissional, aprendizado e reconhecimento. “A iniciação científica é importante pra mim porque foi através dela que consegui aprender muitas coisas, não só sobre parasitas e peixes, mas de outras áreas também e foi fazendo iniciação científica que consegui sair da minha zona de conforto, escrevendo bastante e apresentando seminário. Acabou sendo uma ótima oportunidade não só para meu currículo mas também para adquirir bastante conhecimento e habilidades na pesquisa”, afirma ela, que pretende seguir com a carreira acadêmica e se prepara para fazer os cursos de mestrado e doutorado.
Asscom Unit