Aluno de mestrado recomeçou a faculdade após uma pausa de quase 10 anos e adotou o meio de transporte para conciliar a rotina de pesquisas, estudos e aulas particulares. 

O ensino superior também reserva histórias de superação e dedicação nos trabalhos de ensino e pesquisa, nos quais muitos profissionais encontram o caminho e a força para vencer dificuldades e alcançar conquistas. Uma destas histórias é a do pesquisador Jônatas Levi Campos Barbosa dos Santos, 34 anos, que está prestes a terminar o seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos (PEP), da Universidade Tiradentes (Unit). A sua trajetória até aqui teve muitas milhas percorridas, e muitas delas com a ajuda de uma bicicleta: diariamente, ele encara um percurso de 14 quilômetros entre a casa onde mora, na Barra dos Coqueiros (Grande Aracaju), e o Campus Farolândia da Unit, onde faz as aulas do mestrado e as pesquisas nos laboratórios do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP). 

Nascido em Entre Rios, no interior da Bahia, Jônatas veio de uma família humilde, que sempre o incentivou a priorizar os estudos e a leitura. Chegou em Aracaju em 2006, após ter sido aprovado para fazer o curso de Química Industrial na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Um tempo depois, se viu obrigado a trancar o curso, porque não conseguia conciliá-lo com o emprego no qual trabalhava à época. A frustração só foi superada em 2018, quando decidiu recomeçar os estudos acadêmicos e prestou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ele acabou como o primeiro colocado da seleção entre os bolsistas do Programa Universidade Para Todos (ProUni), o que lhe deu direito a entrar na Unit. 

“Eu ganhei a bolsa 100% do Enem para o curso de Engenharia Ambiental. Mas na época não abriu turma. Aí, para não perder a bolsa, inscrevi-me em Engenharia Civil. Só que, seis meses depois, começou o curso de Engenharia Química, que era o meu sonho”, lembra ele. Ao superar esse primeiro obstáculo, foi acolhido no curso pela então coordenadora do curso, Elayne Emília Santos Souza, que tinha sido sua professora na UFS. O próprio Jônatas afirma que se sentia “velho” e com “muita vergonha” ao retomar a faculdade, mas acabou se adaptando ao curso e logo entrou para um projeto de iniciação científica, orientado pela professora Cleide Mara Faria Soares, que desenvolveu queijos e sorvetes com baixo teor de lactose. 

Meses depois, conseguiu uma bolsa de iniciação científica e deixou o emprego, mas teve que dar aulas particulares de Química para complementar a renda e percorrendo vários bairros da cidade. À época, Jônatas morava no bairro Cidade Nova (zona norte), com um colega da sua cidade de origem, e precisava gastar duas horas diárias em três linhas de ônibus para se deslocar até a Unit. “Às vezes a gente romantiza, mas só eu sei o que eu tive que suar, acordar cedo, trabalhar, rodar pela rua, sair às 22h30 para pegar o coletivo”, conta ele. 

Foi aqui que ele teve a ideia de usar a bicicleta como meio de transporte mais econômico e mais rápido. “Meu dia a dia era bem corrido. Precisava estar sempre andando pela cidade [Barra, Socorro, São Cristóvão e Aracaju]. Meu tempo na Unit era basicamente para a IC e aulas à noite. Teve dias de percorrer mais de 60 quilômetros entre idas e vindas, e sempre de bicicleta”, enfatiza. E a prática se manteve até hoje. Morando com a esposa na Barra, ele gasta 45 minutos diários entre a casa e o Campus, onde toma banho nos vestiários e se troca antes de iniciar os trabalhos do dia. “É mais rápido que ônibus e ainda me exercito”, resume. O esforço foi sendo recompensado à medida em que ele avançava no curso e nos projetos. 

A primeira pesquisa resultou em uma patente depositada e apresentações em congressos nacionais e internacionais. “Fui para Uberlândia [MG], João Pessoa [PB], Foz do Iguaçu [PR]; conheci profissionais excelentes de várias partes do país e do mundo; assisti a palestras maravilhosas”, destaca. E vieram outras duas pesquisas, que igualmente tiveram patentes depositadas: um método de separação e aproveitamento simultâneo da proteína (whey protein) e lactose contida no soro e um estudo sobre o processo de adsorção (fixar uma molécula em algo) e dessorção (separar) das moléculas de lactose. 

Seguindo em frente

Jônatas se formou em 2022 e logo entrou para o mestrado no PEP, onde avançou em uma pesquisa sobre a produção de bioquerosene de aviação (BioQAv) através da biomassa produzida a partir de insumos como a casca de coco e o bagaço de cana de açúcar. A dissertação deverá ser defendida até o final de julho deste ano, com orientação do professor Cláudio Dariva, e deverá ter prosseguimento em uma futura tese de doutorado. 

O caminho percorrido por Jônatas teve vários pontos de apoio e de incentivo, como os colegas de curso, assistentes, técnicos de laboratório, professores, coordenadores e pesquisadores tanto da Unit quanto do ITP. Deles, o mestrando diz guardar para si “as relações pessoais, o apoio, o puxão de orelha quando necessário, a palavra amiga”. Mas a força e a determinação para vencer os percalços do cotidiano também vêm de outros pilares que define como importantes: os pais, a esposa e a religião. Evangélico, o pesquisador se baseia em uma frase dita por Jesus Cristo no Evangelho de João: “Eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância”. E ainda em outra passagem do Evangelho de Lucas, no qual Cristo pede ao apóstolo Pedro ´para “lançar as redes em águas mais profundas”, durante uma pescaria. 

“Falamos tanto em meritocracia, equidade, igualdade de condições, de crescimento, porém, é necessário entender que nada “é de graça” e que cada um precisa fazer a sua parte. A vida com abundância que Deus oferece (sempre está a nos oferecer) está atrelada a um esforço nosso. É isso que me move”, explica Jônatas, referindo-se ainda ao propósito de seguir em frente nas suas jornadas: “Eu sei que pode soar estranho, mas é minha obrigação continuar, prosseguir. Não a obrigação com conotação negativa, mas no sentido de ter tudo que preciso para seguir em frente. Isso não quer dizer que a vida é fácil, que será moleza. Não é! Quero dizer apenas que possuo as ferramentas para vencer as dificuldades”. 

Autor: Gabriel Damásio

Fonte: Asscom Unit