A livre regulação do preço dos combustíveis, com constantes mudanças, vem causando problemas para o bolso do brasileiro, além de pressões no mercado e crises dentro do governo federal.
O tema vem ganhando repercussão desde a última sexta-feira, 19, quando a Petrobras anunciou um reajuste de 10,2% na gasolina e 15% no diesel. A justificativa da estatal é de que os preços precisam acompanhar as cotações do petróleo no mercado internacional para garantir que não haja desabastecimento do produto, dentro do chamado Preço de Paridade Internacional (PPI).
Conforme a Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), este foi o oitavo aumento seguido dos combustíveis só em 2021, o que provocou uma alta acumulada de 34,7% na gasolina e de 27,7% no diesel. Segundo a última pesquisa do Procon Aracaju, o menor preço da gasolina na capital sergipana foi de R$ 4,560; o do etanol foi de R$ 3,470 e o do diesel S-10 foi de R$ 3,789. O alto custo quase provocou uma greve dos caminhoneiros, cujas entidades se mobilizam para pressionar o governo. E vem interferindo diretamente no custo de vida da população.
“O aumento do preço dos combustíveis reflete nos mais diversos setores gerando uma reação em cadeia, visto que todos os setores da atividade econômica que dependem de transportes elevam seus custos operacionais, tendendo a repassar estes aumentos nos preços ao consumidor. Ou seja, o bolso do consumidor tende a sofre um duplo impacto à medida que as empresas começam a repassar os reajustes”, diz o professor Ítalo Spinelli, do curso de Administração da Universidade Tiradentes, pontuando que o valor do combustível tem um impacto considerável no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), índice oficial de inflação medido pelo IBGE. “Ou seja, a tendência é que o custo de vida dos brasileiros aumente”, completa.
Ele explica que, além da cotação do petróleo no exterior, há influência da forte desvalorização do real frente ao dólar americano, usado como base para as negociações do produto. “O preço cobrado pela empresa nas refinarias varia de acordo com o preço do petróleo no mercado internacional (cobrado em dólar), adicionado um cálculo que leva em consideração os riscos inerentes à atividade. Na prática, o preço dos derivados do petróleo praticado pela companhia fica atrelado à variação cambial do dólar e do valor do barril de petróleo no mercado internacional”, destaca Spinelli.
As reclamações sobre o preço dos combustíveis são apontadas como um dos motivos da decisão do presidente Jair Bolsonaro em nomear o general reformado Joaquim Silva e Luna para a presidência da Petrobras, para o lugar do economista Roberto Castello Branco. Só que a troca foi muito mal recebida pelo mercado, que enxergou nela uma intervenção indevida do governo na companhia.
Só nesta segunda-feira, 22, as ações da petrolífera caíram 20,74% na Bolsa de Valores de São Paulo, fazendo com que ela perdesse, em apenas um dia, mais de R$ 74,2 bilhões em valor de mercado.
Na visão do professor Spinelli, esse fato foi uma consequência da paridade do preço do petróleo ao mercado internacional, que acaba não deixando alternativas ao governo para controlar os preços sem intervir no mercado local.
“Esta política cria uma armadilha dentro deste cenário. Se a tendência para 2021 é que o preço do petróleo no mercado internacional ainda aumente, os valores da gasolina para o consumidor tenderão a subir. E caso o Governo tente atuar para que a Petrobras os reduza, certamente passará ao mercado financeiro a ideia que está intervindo na empresa”, conclui ele.
Fonte: Assessoria de Imprensa | Unit