Estudos desenvolvidos em programas de pós-graduação buscam aperfeiçoar processos de produção destas matrizes energéticas; estratégia do estado e diversificar estas fontes, acompanhando a tendência da transição energética

A diversificação das fontes e das matrizes de produção de energia e de combustíveis é uma das estratégias a serem adotadas no desenvolvimento econômico de Sergipe. É o que também vem sendo buscado a partir de pesquisas desenvolvidas pela Universidade Tiradentes (Unit) e pelo Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP). Professores, pesquisadores e estudantes das instituições vêm aprofundando estudos para aperfeiçoar os processos de descoberta, da exploração e do uso do gás natural, dos biocombustíveis, de energias renováveis, de modo a tornar esses insumos mais baratos e mais acessíveis à população e aos setores econômicos. Os estudos acontecem no âmbito de dois programas de pós-graduação da Unit: o em Engenharia de Processos (PEP) e o em Biotecnologia Industrial (PBI), além do Núcleo de Estudos em Sistemas Coloidais (Nuesc/ITP)

Estes trabalhos acompanham a tendência de transição energética dos combustíveis fósseis para a bioenergia e outras fontes renováveis, o que está sendo mais adotado e discutido em todo o cenário internacional. Para o professor e pesquisador Cláudio Dariva, que coordena estas pesquisas na Unit e no ITP, Sergipe já tem uma posição privilegiada. “A gente tem óleo, gás, termelétricas, hidroelétricas, biomassa, energia eólica e painéis solares. Isso é fantástico quando você quer ser um líder de mercado nessa área. A gente aposta que essa matriz precisa ser diversificada. Isso significa que não devemos direcionar unicamente para uma só energia renovável. Significa que a gente tem que fortalecer a parte diversificada da matriz energética”, destaca ele. 

Uma das pesquisas diz respeito à produção de biocombustíveis avançados através do processamento de biomassa. O objetivo é desenvolver técnicas e processos termoquímicos empregando fluidos pressurizados, catalisadores químicos e bioquímicos em rotas de produção de bioquerosenes, biodiesel, biogás e etanol 2G e 3G, entre outras. O projeto é financiado pela petrolífera portuguesa Galp e conta com aproximadamente 30 pesquisadores, incluindo doutores, pós-doutores, técnicos contratados e estudantes de mestrado e doutorado, além de alunos da Graduação que participam de programas de Iniciação Científica. 

Um dos exemplos estudados é o da Irlanda, que possui empresas especializadas no processamento e na transformação de lixo e outros tipos de biomassa. Uma delas, a Dublin Waste to Energy, que abastece boa parte do país, foi visitada em novembro passado por uma delegação enviada pelo Governo do Estado e abriu negociações para instalar uma usina do tipo em Sergipe, com investimentos previstos de R$ 900 milhões. “A gente viu lá na Irlanda que o pessoal utiliza resíduos urbanos e também de agroflorestas, de agroindústrias, e transformam isso em combustíveis. Então, em vez de você fazer gasolina, diesel ou querosene a partir de petróleo, a ideia é fazer a partir de resíduos urbanos e a partir de biomassa”, detalha o professor da Unit, que participou da visita.

Estas informações, somadas às pesquisas da Unit e do ITP, contribuem para o projeto de formação de um centro de excelência para a produção de biocombustíveis avançados a partir de biomassa, a partir de instituições e empresas que atuam no setor em Sergipe. “São várias tecnologias disponíveis e a gente tem dentro do ITP e da Unit um grupo de pesquisadores e de laboratórios instalados que trabalham com fermentação, com processamento de biomassa, com produção de hidrogênio, com processos de captura de carbono para limpeza do ar, entre outras tecnologias. A ideia é desenvolver estas frentes para produzir processos e produtos inovadores na área de bioenergia”, acrescenta Dariva. 

Gás natural

O setor de gás natural, que vive um “boom” gerado pelas descobertas e possibilidades de exploração das reservas existentes em Sergipe, também vem sendo contemplado pelas pesquisas da Unit e do ITP. Uma delas, iniciada no ano passado e financiada pela Petrobras, consiste no cálculo de propriedades com a viscosidade e densidade de gases em sistemas pressurizados, através de análises das misturas gasosas em altas pressões. De acordo com Cláudio Dariva, esse gás natural presente no reservatório da costa sergipana (Sergipe Águas Profundas), está em um ambiente em pressões altíssimas. 

“As propriedades desse gás são bastante diferenciadas e são difíceis de serem determinadas. Nosso grupo dispõe hoje de uma estrutura no Nuesc/ITP/Unit que permite que analisemos esse gás naquela condição do reservatório. Assim, conseguimos determinar todas as propriedades dele nas condições reais de processamento, o que permite o desenvolvimento e uso das melhores tecnologias de exploração”, diz Dariva, acrescentando que a estrutura e o corpo técnico das duas instituições do Grupo Tiradentes tem também atuado continuamente na formação e qualificação de profissionais em diversos níveis para atuarem nesta área de óleo, gás e biocombustíveis. “Acreditamos ser esta uma de nossas vocações como Instituto e Universidade”, completa.

Asscom Unit