Especialista alerta para os impactos da decisão da Meta e reforçam a necessidade da educação digital e do letramento midiático

A internet se tornou um ambiente essencial para crianças e adolescentes, proporcionando aprendizado, interação social e entretenimento. Entretanto, o meio digital também oferece perigos, como a exposição a conteúdos inadequados, o assédio virtual e o cyberbullying. Nesse contexto, a decisão da Meta, empresa responsável por redes como Facebook e Instagram, de flexibilizar suas regras de moderação de conteúdo tem gerado apreensão entre especialistas e defensores dos direitos infantis.

A mudança, que tem como objetivo ampliar a liberdade de expressão, pode representar um risco considerável para a segurança online dos mais jovens. A professora do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPED) da Universidade Tiradentes (Unit), Alana Vasconcelos, ressalta que essa redução na moderação pode aumentar a exposição de crianças e adolescentes a materiais prejudiciais. “Muitas dessas crianças e jovens não possuem o suporte necessário para lidar com tais conteúdos, tornando-se mais vulneráveis e suscetíveis a essas ameaças", explica.

Dentre os conteúdos nocivos que podem se tornar mais acessíveis com a diminuição da moderação, Alana menciona materiais que envolvem violência, discurso de ódio, desinformação, exploração infantil e influências prejudiciais, como incentivo à automutilação, distúrbios alimentares e desafios perigosos. “O contato frequente com esses conteúdos pode desencadear ansiedade, baixa autoestima, medo e até mesmo a normalização da violência. Além disso, a desinformação pode distorcer a percepção de realidade e prejudicar a tomada de decisões seguras”, alerta a especialista.

Maior vulnerabilidade no ambiente digital

Crianças em situação de vulnerabilidade social já enfrentam desafios diários, como dificuldades no acesso à educação, saúde e segurança. No universo digital, essas dificuldades se tornam ainda mais evidentes, pois a exposição a conteúdos prejudiciais ocorre sem a intermediação de adultos, e o anonimato facilita a ação de aliciadores, golpistas e grupos extremistas. Além disso, a ausência de educação digital e midiática, a supervisão parental limitada e a necessidade de aceitação social fazem com que crianças e adolescentes se tornem alvos fáceis para crimes como exploração infantil, assédio e fraudes online. “Muitas dessas crianças buscam apoio e reconhecimento no ambiente digital, o que as torna mais propensas à manipulação”, destaca Alana Vasconcelos.

Para reduzir os impactos negativos da flexibilização das regras de moderação, especialistas defendem investimentos em tecnologia, como o uso de inteligência artificial para identificar conteúdos impróprios, além do fortalecimento das políticas de denúncia e da implementação de controles parentais mais eficazes. Também reforçam a necessidade de campanhas de conscientização voltadas à educação digital e ao letramento midiático. “O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Marco Civil da Internet e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) garantem a segurança digital de crianças e adolescentes, mas, para que essas legislações sejam efetivas, é preciso fiscalização rigorosa e aplicação consistente das normas”, enfatiza a professora.

O papel da família, da escola e das instituições

Pais, professores e instituições desempenham um papel essencial na proteção dos jovens no ambiente digital. “As famílias devem estar atentas à vida digital de seus filhos, estabelecendo limites e promovendo um diálogo aberto sobre os perigos da internet. Os educadores, por sua vez, devem incorporar a educação digital e o letramento midiático no currículo escolar, enquanto as instituições podem desenvolver programas voltados para a conscientização sobre segurança cibernética”, orienta Alana.

A sensibilização sobre os riscos do ambiente digital é fundamental. Estratégias como jogos educativos, campanhas interativas e debates escolares podem ajudar a tornar o tema acessível e compreensível. Incluir a educação digital como uma prioridade no ensino é essencial para preparar as futuras gerações para um uso mais seguro e crítico da internet. “O universo digital faz parte da realidade das novas gerações, e capacitá-las para utilizá-lo de maneira responsável e segura é tão importante quanto a alfabetização tradicional. O letramento digital deve ser uma prioridade em todas as etapas da educação, da infância ao ensino superior”, conclui.

Autora: Laís Marques

Fonte: Asscom Unit