Duas americanas sequestradas pelo Hamas foram libertadas e estão em Israel, informou o Gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu nesta sexta-feira, depois que o grupo extremista anunciou que havia entregue as reféns. A informação já havia sido confirmada por veículos locais e por organizações internacionais. Os Estados Unidos também confirmaram.

À noite, o governo israelense afirmou em um comunicado que Judith Raanan, 59, e sua filha, Natalie Raanan, 17, foram resgatadas na fronteira com a Faixa de Gaza e estavam a caminho de uma base militar no centro de Israel. A operação, que teve mediação do Catar, foi facilitada pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, que transportou as americanas de Gaza para Israel.

"A libertação de duas reféns em Gaza hoje é uma ponta de esperança. Estamos extremamente aliviados por elas poderem se reunir com suas famílias após duas semanas de agonia", afirmou o CICV em nota. "O CICV continua exigindo a libertação imediata de todos os reféns. (...) É essencial que as partes em conflito mantenham um mínimo de humanidade mesmo durante o pior da guerra.

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Foram necessários "muitos dias de comunicação contínua" com todas as partes envolvidas, segundo o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed al-Ansari.

— [O Catar espera que o diálogo leve à] libertação de todos os reféns civis de todas as nacionalidades — declarou al-Ansari em entrevista à Reuters.

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Mais cedo, os veículos israelenses Canal 12 e Times of Israel chegaram a divulgar que as duas reféns estavam com o CICV no Egito e que de lá seguiriam para Israel. O Hamas optou por liberá-las devido ao declínio da saúde da mãe, disse a CNN, sem citar mais detalhes.

— Dez americanos continuam desaparecidos, alguns deles nas mãos do Hamas, que mantém cerca de 200 reféns, incluindo crianças, mulheres e idosos — comentou o secretário de Estados dos EUA, Antony Blinken, em uma entrevista coletiva na tarde desta sexta. — Faremos tudo o que for possível para libertá-los. Trabalharemos noite e dia.

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Judith Ranaan, que trabalha como esteticista, e Natalie Raanan, estudante, residem em Evanston, Illinois, nos arredores de Chicago, e foram a Israel este mês para comemorar o aniversário de 85 anos de um parente e o feriado judaico do Sucot, de acordo com o rabino Dov Hillel Klein, que conversou com o Times. Elas têm dupla nacionalidade, de Israel e dos Estados Unidos.

A família Raanan estava participando de uma celebração religiosa em Nahal Oz, um kibutz a cerca de 1,6 km da fronteira com Gaza, quando o ataque do Hamas começou, segundo informações apuradas pelo Times.

Natalie concluiu recentemente o ensino médio e estava ansiosa para tirar uma folga e visitar a família no exterior, disse seu tio, Avi Zamir, em um evento comunitário para os Raanans em Evanston na semana passada.

Cooperação com o Catar
Os Estados Unidos trabalharam com o governo do Catar para garantir a libertação das duas reféns. Segundo o presidente Joe Biden, citado pelo New York Times, Judith e Natalie "passaram por uma provação terrível", mas "terão todo o apoio do governo dos Estados Unidos enquanto se recuperam e se curam, e todos nós devemos respeitar sua privacidade neste momento".

"Como presidente, não tenho nenhuma prioridade maior do que a segurança dos americanos mantidos como reféns em todo o mundo", declarou Biden em nota.

Os EUA designaram o Catar como um importante aliado não pertencente à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em 2022, devido a cooperações em defesa, comércio e segurança. Antes da mediação com o Hamas, Doha já havia desempenhado um papel semelhante na libertação de cidadão americanos mantidos como prisioneiros no Irã no início deste ano.

A libertação das reféns foi primeiramente anunciada pelo porta-voz do braço armado do Hamas, as Brigadas al-Qassam, que citou "razões humanitárias", após mediação do Catar.

"Em resposta aos esforços do Catar, as Brigadas al-Qassam libertaram duas cidadãs americanas por razões humanitárias", declarou o porta-voz do braço armado do Hamas, Abu Obaida, em um comunicado mais cedo nesta sexta. "[O objetivo é] provar ao povo americano e ao mundo que as alegações feitas pelo [presidente Joe] Biden e seu governo fascista são falsas e sem fundamento".

Ghazi Hamad, membro do gabinete político do Hamas, disse que a libertação das duas reféns americanas é um gesto de "boa vontade" do grupo.

— É um gesto de boa vontade do Hamas para provar a toda a comunidade internacional que o Hamas não é uma organização terrorista — disse Hamad em entrevista à Al Jazeera quando perguntado se o o grupo recebeu algo em troca das reféns.

Hamad disse ainda que o Hamas está pronto para "lidar com a questão dos prisioneiros de uma forma positiva", mas, primeiro, o bombardeio israelense em Gaza deve parar. Ele acrescentou que o grupo está tratando os prisioneiros com "dignidade e respeito".

"O Hamas trabalhando com todos os mediadores para implementar a decisão da organização de encerrar todos os casos civis, caso todas as condições de segurança sejam cumpridas", declarou o grupo em nota após a libertação das duas americanas.

Israel afirma que o Hamas sequestrou 203 pessoas durante o terrorista de 7 de outubro.

Para a Human Rights Watch (HRW) e outros grupos de direitos humanos, manter os prisioneiros é um crime de guerra.

"Os civis, incluindo crianças, pessoas com deficiência e idosos, nunca devem ser tratados como moeda de troca", disse Lama Fakih, diretor da HRW para o Oriente Médio e Norte da África, em um comunicado esta semana. "Os governos que têm influência sobre o Hamas, incluindo o Catar, o Egito e a Turquia, devem usar sua influência para pressionar para que os reféns sejam libertados o mais rápido possível e tratados com humanidade até lá."