O governo do Chile decretou novo toque de recolher na região metropolitana de Santiago a partir das 20h (horário local) desta segunda-feira (21). A capital chilena e outras cidades do país tiveram novo dia de protestos, mesmo após as autoridades locais cancelarem o aumento no preço das passagens de metrô – o que gerou as primeiras manifestações.

Além de Santiago, outras três regiões estão sob toque de recolher: Valparaíso, Concepción e Rancágua (leia sobre os protestos em outras cidades mais adiante).

Nesta tarde, milhares de manifestantes estão concentrados na Praça Itália, também conhecida como Praça Baquedano, na região central de Santiago. A imprensa chilena registra que os protestos estão pacíficos e com diversas frentes – não há apenas um grupo organizando os protestos. Porém, a emissora CNN En Español registra imagens de forças de segurança arremessando bombas de efeito moral contra um grupo.

Desde sexta-feira, a onda de protestos deixou 11 mortos e 1.462 detidos, segundo balanço mais recente.

Algumas estações da linha 1 do metrô de Santiago, que cruza a cidade de leste a oeste, voltaram a funcionar. Ainda assim, há pontos ainda fechados na região central da capital chilena. Nesta tarde, segundo o jornal "El Mercurio", outra estação precisou ser fechada.

Escolas de 48 comunas – tipo de região administrativa chilena – permaneceram fechadas nesta segunda-feira. Em San José de Maipo, próximo a Santiago, haverá aulas somente pela manhã.

Entenda em cinco pontos os protestos no Chile:

 

  1. Governo anunciou um aumento de 30 pesos na tarifa do metrô, equivalente a R$ 0,20;
  2. Violência aumentou nos protestos a partir de sexta (18), após confrontos com a polícia;
  3. Chile decretou, no sábado (19), estado de emergência por 15 dias, e Exército foi às ruas pela 1ª vez desde a ditadura;
  4. Presidente chileno suspendeu o aumento na tarifa do metrô, mas os protestos continuaram;
  5. Metrô de Santiago fechou e o aeroporto da capital chilena teve voos suspensos.

Protestos em outras cidades

  • Valparaíso

Manifestantes fecharam ruas, fizeram piquetes e saquearam lojas em Valparaíso – cidade portuária que também abriga a sede do Legislativo. Por causa da violência, militares e policiais cercaram o Congresso para evitar que os protestos se aproximem.

A região de Valparaíso, que inclui o balneário Viña del Mar, também está sob toque de recolher. Por isso, o metrô que cruza a região alterou o horário de funcionamento.

  • Rancágua

A cidade a cerca de 90 km ao sul de Santiago também está sob toque de recolher após registrar incidentes violentos nos protestos. Autoridades locais disseram que 187 pessoas foram detidas entre domingo e a manhã desta segunda-feira. Nove civis e 11 policiais se feriram na região.

  • Concepción

Toda a província de Biobío está sob toque de recolher. A região inclui Concepción, cidade litorânea a 500 km ao sul de Santiago onde houve protestos ao longo do fim de semana.

'Estamos em guerra'

O centro de Santiago está cheio de marcas dos protestos: semáforos no chão, ônibus queimados, lojas saqueadas e destroços nas ruas. Quarenta e oito cidades suspenderam as aulas nesta segunda.

O presidente chileno, Sebastián Piñera, disse em um pronunciamento no domingo que esta segunda-feira seria "um dia difícil".

'Chile acordou'

O balanço da revolta social é sem precedentes desde o retorno da democracia ao Chile, em 1990. Protestos liderados por estudantes contrários a um aumento de tarifa no transporte público começaram duas semanas atrás, porém se tornaram mais violentos na sexta-feira. Piñera reverteu a medida e declarou um estado de emergência.

Até o momento, o movimento aparece como uma crítica generalizada a um sistema econômico neoliberal que, por trás do êxito aparente dos índices macroeconômicos, esconde um profundo descontentamento social.

No Chile, o acesso à saúde e à educação é praticamente privado, a desigualdade social é elevada, os valores das pensões estão reduzidos e os preços dos serviços básicos estão em alta, de acordo com a France Presse.

G1

Foto: Miguel Arenas/AP Photo