O verdadeiro sentido teológico da Semana Santa consiste na celebração do Mistério Pascal: Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. E para comprovar tal afirmação, eis um texto bastante eloqüente da Sagrada Escritura: “O Filho do Homem será entregue aos sumos sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão a morte e o entregarão aos pagãos para zombarem dele, açoitá-lo e crucificá-lo. Mas no terceiro dia, ressuscitará” (Mt 20, 18-19).
Neste sentido, podemos dizer que a celebração do Mistério Pascal é o Pleno Mistério da Salvação, pois, “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e, ao terceiro dia, foi ressuscitado, segundo as Escrituras” (1 Cor 15, 3-4). Por isso, não devemos celebrar esse Mistério de qualquer jeito, mas “com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” (Dt 6,4).
Na Semana Santa celebramos os principais acontecimentos da vida de Jesus Cristo, tais como: Domingo de Ramos da Paixão do Senhor, Missa vespertina da Ceia do Senhor, Celebração da Paixão do Senhor, Sábado Santo – Vigília Pascal e o Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor.
No Domingo de Ramos da Paixão do Senhor (inicia-se a Semana Santa) celebramos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém montado em um jumentinho; o povo acolheu-o abanando com seus ramos: “Quando se aproximaram de Jerusalém [...]. Levaram então o jumentinho a Jesus, colocaram sobre ele seus mantos, e Jesus montou. Muitos estenderam seus ramos pelo caminho, outros espalharam ramos que haviam apanhados nos campos” (Mc 11, 1.7-8).
Ora, o mesmo Jesus que foi aclamado como rei pela multidão no Domingo de Ramos da Paixão do Senhor é crucificado sob o pedido da mesma multidão na Sexta-Feira da Paixão do Senhor : “Hosana ! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito seja o reino que vem, o reino de nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos céus!” (Mc 11, 9-10). “Eis o vosso rei! Eles, porém, gritavam: Fora! Fora! Crucifica-o!” (Jo 19,14-15).
Na Quinta – Feira Santa celebramos a Ceia do Senhor, isto é, a Última Ceia de Jesus Cristo com os doze Apóstolos: “Ao anoitecer, Jesus se pô à mesa com os Doze [...]. Enquanto estavam comento, Jesus tomou o pão e pronunciou a benção, parti-o, deu-o aos discípulos e disse: “Tomai, comei, isto é meu corpo”. Em seguida, pegou um cálice, deu graças e passou-o a eles, dizendo: “Bebei dele todos, pois este é o meu sangue da nova aliança, que é derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados” (Mt 26, 20.26-28). Celebramos a Instituição da Eucaristia (Jesus se entrega como alimento) e do Sacerdócio Ministerial (ministros ordenados: Diáconos, Presbíteros e Bispos), o novo mandamento do amor que Jesus deu aos seus discípulos: “amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13, 34) e o Lava- pés.
O Lava-pés é gesto essencialmente de pura humildade, serviço e amor de Jesus a humanidade: “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim [...]. Foi durante a Ceia [...]. Depois de ter lavado os pés dos discípulos Jesus vestiu o manto e sentou-se de novo [...]. Portanto, se eu, o Senhor e mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Deixo-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa” (Jo 13, 1-2.12-15).
Na Sexta-Feira Santa celebramos a Paixão do Senhor; todo o sofrimento de Jesus, a morte de Jesus: “Era o mais desprezado e abandonado de todos, homem do sofrimento, experimentado na dor, indivíduo de quem a gente desvia o olhar [...]. Eram na verdade os nossos sofrimentos que ele carregava, eram as nossas dores, que levava ás costas [...]; com seus ferimentos veio a cura para nós [...]; ferido de morte pelas rebeliões do meu povo. Sua sepultura foi colocada junto á dos criminosos [...]; entregou à morte a própria vida [...]” (Is 53, 3-5.8-9.12). Como vemos, o Filho de Deus sofreu no lugar dos pecadores para libertá-los das trevas, da escuridão; para salvá-los. O sofrimento de Cristo na cruz foi um sofrimento redentor: libertou toda a humanidade da escravidão do pecado.
O grande ensinamento do Sábado Santo é este: a Santa Mãe Igreja permanece junto ao sepulcro do Senhor. A Igreja medita a Paixão e Morte de Jesus Cristo; honra-se a sepultura de Nosso Senhor Jesus Cristo:“Pilatos respondeu:“Vocês têm uma guarda: vão e guardem o sepulcro o melhor que puderem”.Então eles foram manter o sepulcro em segurança: lacraram a pedra, e montaram guarda” (Mt 27, 65-66).
A principal celebração do Sábado Santo é a Vigília Pascal (Mãe de todas as vigílias). É “uma vigília em honra do Senhor” (Ex 12, 42), a celebração da Vitória do Senhor sobre a morte. A Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo torna o Sábado Santo verdadeiramente uma Noite de Luz: “Ó noite em que Jesus rompeu o inferno, ao ressurgir da morte vencedor. Ó noite de alegria verdadeira [...] pondo na treva humana a luz de Deus” (Proclamação da Páscoa). Assim sendo, a Missa da Vigília Pascal é a verdadeira Missa do Domingo da Páscoa.
No Domingo da Páscoa celebramos a Ressurreição de Jesus Cristo: “Ele é o verdadeiro Cordeiro que tira o pecado do mundo. Morrendo, destruiu a morte, e, ressurgindo, deu-nos vida” (Prefácio da Páscoa I – O mistério pascal). “Ó Deus, por vosso Filho Unigênito, vencedor da morte, abriste hoje para nós as portas da eternidade. Concedei que, celebrando a ressurreição do Senhor, renovados pelo vosso Espírito, ressuscitemos na luz da vida nova” (Oração da coleta da Missa do Dia do Domingo da Páscoa).
Portanto, o verdadeiro sentido teológico da Semana Santa consiste na celebração do Mistério Pascal: Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Celebrar a Semana Santa é mergulhar no Pleno Mistério da Salvação. Assim devemos celebrar dignamente e honestamente a Semana Santa; com profundo respeito, fé e amor.
Padre Tenório Fialho dos Santos é Licenciado em Filosofia pela Faculdade Católica de Anápolis (GO) e Bacharel em Teologia pela Universidade Católica do Salvador (BA). Padre da Arquidiocese de Aracaju-SE. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Amparo, na cidade de Capela-SE e Vigário Forâneo da Forania Virgem Fiel do Vicariato São João Evangelista.