Estudo analisa que saúde mental do grupo foi impactada negativamente pela pandemia de Covid-19

Não é mais novidade que a pandemia de covid-19 impactou negativamente a saúde mental das pessoas. Um dos grupos afetados, foi o dos profissionais da saúde. Um estudo aponta que cerca de 90% dos médicos e internos em Medicina de Sergipe desenvolveram sintomas de ansiedade e mais de 50% relatam uso excessivo de álcool ou drogas ilícitas neste período.

A pesquisa é fruto do doutorado da professora de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit), Lis Campos Ferreira, que entrevistou 334 médicos formados desde 2018 e estudantes de internato das três escolas médicas do estado. “O nosso objetivo foi avaliar a saúde mental como um todo, incluindo diagnósticos psiquiátricos, uso de medicamentos e uso de drogas lícitas e ilícitas, tanto em internos de medicina quanto em médicos recém-formados, e tentar encontrar os fatores possivelmente associados”, explica.

Aproximadamente 40% dos entrevistados informaram diagnóstico de doença psiquiátrica anterior à pandemia, a exemplo da ansiedade e depressão, e 30% deles relataram o uso de psicofármacos, principalmente os que moram sozinhos. “Isso é um dado importante porque com a implantação do Sistema de Seleção Unificada (SISU) em 2010 no Brasil, o número de estudantes que cursam o ensino superior em universidades fora do seu estado natal, e consequentemente longe das suas famílias, aumentou. Enfrentar uma pandemia é sempre difícil, e longe dos seus pode ser ainda mais desafiador e causa de sofrimento mental”, afirma a professora.

Dos participantes que trabalharam diretamente no cuidado de pacientes com Covid-19, mais de 70% deles iniciaram ou aumentaram a dose de psicofármacos no período. Sobre hábitos e vícios, 54% relataram consumo de álcool e 5,4% uso de drogas ilícitas (maconha, LSD, ecstasy ou cocaína). Particularmente no grupo de médicos formados em 2020, o consumo de álcool aumentou de 50% no início da pandemia para 85% seis meses após. 

“Esse grupo específico enfrentou desafios sem precedentes. O final do internato foi modificado, com a suspensão de algumas atividades e migração repentina para aulas remotas. Houve também perda de rito de formatura, com cancelamento de solenidades devido a medidas de distanciamento social. “Além disso, com a antecipação da formatura foram expostos, com pouco preparo e experiência, a um mercado de alta exigência, como hospitais de campanha e pronto-socorro”, esclarece.

Segundo ela, os dados e discussões sobre o impacto da pandemia de Covid-19 nos médicos fomentam a importância do cuidado com a saúde mental dos profissionais que lidam diariamente com o adoecimento de outras pessoas. “Precisamos aprender a reconhecer o sofrimento mental e oferecer o suporte necessário, assim teremos melhores médicos e, acima de tudo, pessoas genuinamente felizes”, conclui.

Fonte: Asscom Unit