Técnicos de diversos estados estão em Aracaju até 10 de junho

Aracaju (SE) foi escolhida pelo Ministério da Saúde para sediar a capacitação em vigilância entomológica e taxonomia de flebotomíneos, vetores das leishmanioses. Desde o dia 31 de maio até 10 de junho, técnicos de diversos estados estão recebendo atualizações sobre a identificação dos insetos e formas de controle da doença em locais endêmicos, entre eles, Sergipe.

O treinamento acontece em parceria com a Universidade Tiradentes (Unit), Secretaria Estadual da Saúde (SES), Laboratório Central de Saúde Pública de Sergipe (Lacen/SE), Instituto de Tecnologia de Pesquisa (ITP) e Universidade Estadual Paulista (Unesp).

“O Ministério da Saúde escolheu estados para regiões do Centro-Oeste, Norte e Nordeste. No Nordeste, o estado de Sergipe foi escolhido, primeiro pelo número ascendente de casos. Em número, a leishmaniose visceral compete com a dengue. Além disso, a própria capacitação da nova geração de técnicos”, diz a coordenadora do evento, a Dra. Cláudia Moura de Melo, professora do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente (PSA/Unit) e pesquisadora do ITP.

Por meio do PSA, pesquisadores do ITP desenvolvem uma linha de pesquisa voltada para enfermidades e agravos de impacto regional. “No programa, temos três parasitologistas, eu e mais dois, e nós estudamos as principais endemias parasitárias: esquistossomose, doença de Chagas e a leishmaniose. Então, desde o ano passado estamos afinando essa parceria com o Ministério da Saúde, por causa das nossas pesquisas, para que essas capacitações ocorram aqui. Já temos um diálogo com as secretarias de saúde estadual e municipal bastante profícua também. Então, essa é somente mais uma etapa desse processo”, acrescenta a doutora.

Troca de conhecimento

Ao longo dos 15 dias de treinamento, a Unit recebe uma equipe de 25 pessoas formada por profissionais da área da saúde dos estados nordestinos, além de Pará, Tocantins e Minas Gerais. Entre elas, a professora Dra. Maria Regiane Araújo Soares, da Universidade Federal do Piauí, que também desenvolve pesquisas voltadas à ecoepidemiologia das leishmanioses e biologia de insetos vetores. 

“Eu trabalho com flebotomíneos desde a graduação, fiz mestrado e doutorado na área, e com essa oportunidade de vir para Aracaju participar desse treinamento, venho para me atualizar por conta da mudança de alguns termos e da atualização da chave de identificação dos insetos. Então, essa capacitação é importante para estar preparados para atender essa demanda, não só da questão científica do conhecimento da fauna de vetores, mas também de identificar os vetores e contribuir para as instâncias de saúde local na identificação desses insetos”, afirma a pesquisadora piauiense.

Para o agente de atividades de saúde de Corumbá (MS), Sandro Souza do Carmo, conhecer mais sobre a taxonomia de flebotomíneos será essencial. “Corumbá é uma área endêmica de leishmaniose. No nosso município, chegam a 15, 20 casos positivos mensais para a doença e óbitos também. Em abril, tivemos três óbitos por leishmaniose visceral. Sendo assim, o Ministério da Saúde selecionou três cidades no Mato Grosso do Sul. A capital, Campo Grande, Três Lagoas e Corumbá. Somos os primeiros a sermos capacitados porque o conhecimento da área, muitas vezes, é limitado, e dentro desse projeto que é encoleiramento e outros setores, é preciso se aprofundar no assunto. No Mato Grosso do Sul são duas espécies predominantes de vetores: Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi, e no Nordeste já são outras, por isso é importante esse intercâmbio para conhecermos essa diversidade”, destaca.

Tipos de Leishmanioses

Segundo o pesquisador Dr. Fredy Ovallos Gavil, da Universidade de São Paulo (USP), a espécie de vetor mais comum da Leishmaniose é conhecida popularmente como mosquito palha. “Mosquito palha é um nome comum para todos os tipos de flebotomíneos que encontramos. Tatuquira e birigüi também são outras denominações comuns. O que conhecemos como mosquito palha é muito frequente na região Nordeste que é onde ocorre mais casos de Leishmaniose visceral, principalmente em áreas urbanas. Então, nesses locais é muito comum ter esse tipo de flebótomo que é da espécie Lutzomyia longipalpis, mas também encontra-se na região Sudeste, Centro-Oeste e está se expandindo para outros lugares do País”, explica.

De acordo com o Dr. José Dilermando Andrade Filho, pesquisador da Fiocruz Minas, um dos fatores de adaptação da espécie em áreas urbanas é o crescimento desordenado das cidades. “Houve uma questão muito grande das áreas fronteiriças, com mata, onde ocorreram muito desmatamento, crescimento desorganizado e a associação do homem com o cão, principal reservatório da leishmania, que vai levar à leishmaniose visceral. Então, o cachorro servindo como reserva e havendo um flebotomíneo bem adaptado, forma-se um ambiente propício para disseminação da doença e perpetuação do ciclo da Leishmaniose visceral na área urbana”, argumenta.

“O que era preconizado pelo Ministério da Saúde até bem pouco tempo era o sacrifício dos cães. Hoje em dia há uma permissão para o tratamento dos cães infectados. Só que esse tratamento é feito de forma particular e é muito caro. Então, não está disponível para a população como um todo. O Ministério da Saúde está desenvolvendo um projeto para encoleiramento de cães utilizando uma coleira com inseticida. Por isso, diversos municípios do Brasil estão capacitando os agentes para atuarem no controle da doença nessas áreas e com esse encoleiramento. Vai haver o encoleiramento dos cães e será feito o acompanhamento para ver se houve alguma alteração se esses flebotomíneos continuam infectados ou não. Essa é uma das formas em que estamos trabalhando para tentar controlar a Leishmaniose”, conclui Dilermando.

Fonte: Asscom Unit