A condição pode ser controlada com repouso, fisioterapia e calçados adequados; fisioterapeuta fatores como sobrepeso, calçados inadequados e falta de alongamento como os principais gatilhos da lesão.
Acordar com uma dor insuportável nos pés, que acaba atrapalhando o simples ato de andar ou mesmo de ficar em pé, atrasando ou impossibilitando as atividades da rotina diária. Esta situação é vivida por quem convive com a fascite plantar. É um tipo de inflamação que atinge a fáscia plantar, uma membrana fibrosa situada na base dos pés, entre a parte anterior situada abaixo dos dedos e a base do calcanhar. Trata-se de uma lesão comum entre modelos, dançarinas e atletas, principalmente corredores e jogadores de futebol, que costumam fazer muito esforço com os pés, mas pode afetar também pessoas comuns que fazem exercícios sem orientação ou que são atletas amadores. Ou mesmo pessoas com obesidade ou sobrepeso, mas quais os pés acabam sentindo a sobrecarga do corpo.
Ainda não há estatísticas consolidadas que apontem quantas pessoas convivem com a fascite plantar atualmente no Brasil. No entanto, alguns levantamentos nos Estados Unidos mostram que ela é responsável por cerca de 10% das lesões relacionadas a corredores e por entre 11% e 15% de todos os sintomas nos pés que requerem cuidados médicos profissionais. Mostram também que esta condição ocorre em cerca de 10% da população em geral, com 83% desses pacientes sendo adultos trabalhadores ativos entre 25 e 65 anos. O pico de incidência ocorre entre a população em geral de 40 a 60 anos. Esses dados são de um artigo publicado na National Library of Medicine (NLM), biblioteca ligada ao Departamento de Saúde norte-americano.
“O principal sintoma é dor na sola do pé, especialmente na região próxima ao calcanhar. Essa dor costuma ser mais intensa ao acordar, nos primeiros passos do dia, ou após longos períodos de repouso. Muitas pessoas relatam alívio ao longo do dia, mas a dor pode retornar com atividades prolongadas em pé ou após exercícios”, diz a professora Juliana de Góes Jorge, do curso de Fisioterapia da Universidade Tiradentes (Unit). Ela explica que a fáscia plantar tem um papel fundamental no suporte ao arco plantar do pé e na absorção de impacto durante a marcha. “Quando essa estrutura é sobrecarregada, pode inflamar e causar dor, principalmente na região do calcanhar”, completa.
Em geral, a fascite se desenvolve de forma progressiva e acontece devido a vários fatores, como o trabalho em pé por muitas horas seguidas e a sobrecarga por atividades de impacto, como corridas e caminhadas longas. “Além disso, alterações na anatomia do pé, como pé plano ou cavo, obesidade e encurtamento da musculatura da panturrilha, contribuem significativamente. O uso de calçados inadequados sem suporte adequado para o arco plantar, com solado muito rígido ou completamente plano, pode agravar a sobrecarga na fáscia. Da mesma forma, a prática de exercícios físicos com técnica inadequada, sem aquecimento ou sem considerar o preparo muscular, pode intensificar a tensão sobre a fáscia plantar, favorecendo microlesões e inflamação”, afirma Juliana.
Formas de tratar
O tratamento da fascite é considerado conservador, isto é, não envolve cirurgias ou métodos invasivos. A principal orientação é o repouso relativo e a redução das atividades de impacto, além do uso de calçados adequados que proporcionem bom suporte ao arco plantar. Em alguns casos, é indicado o uso de palmilhas ortopédicas personalizadas, que podem ajudar a redistribuir a carga e aliviar a tensão sobre a fáscia.
A professora da Unit destaca que a fisioterapia tem um papel importante na recuperação da fascite plantar, com trabalhos que buscam aliviar a dor, corrigir as causas e evitar recidivas, isto é, as repetições do problema. “Atuamos tanto no controle da dor quanto na correção dos fatores biomecânicos que contribuíram para o surgimento do quadro, como encurtamentos musculares, desequilíbrios posturais e alterações na marcha. Utilizamos recursos como eletroterapia, liberação miofascial, e aplicamos técnicas de alongamento e fortalecimento muscular, além de orientar quanto à escolha de calçados, posturas e hábitos de marcha”, detalha.
Por sua parte, a prevenção da fascite plantar envolve alguns cuidados considerados simples, mas importantes e muito eficazes. Eles passam por manter um peso corporal adequado, usar calçados com bom suporte e amortecimento, evitar ficar longos períodos em pé sobre superfícies duras e fazer alongamentos regulares. “Para quem pratica atividade física, é fundamental incluir aquecimento, alongamentos específicos e fortalecimento dos músculos do pé e da perna na rotina de treino”, conclui Juliana Góes.