De acordo com o  Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, em 2020, nasceram 380 mil filhos de mães com idades entre 10 e 19 anos no Brasil, com o Nordeste liderando o ranking entre as regiões do país. Além de um problema social, esta também é uma questão de saúde pública, já que uma gravidez precoce pode trazer sérios prejuízos para as adolescentes.

De acordo com o ginecologista e obstetra cooperado Unimed Sergipe, o médico Kelso Passos, a gravidez na adolescência é considerada de alto risco, pois problemas gestacionais que podem ocorrer com mulheres adultas, têm mais chances de ocorrer com adolescentes.

"As complicações mais temidas de acontecer em uma gravidez, tem uma chance maior de acontecer na adolescência. Diabetes gestacional, pressão alta, que é a pré-eclâmpsia ou doença hipertensiva específica da gravidez, e também todas as questões emocionais que a gravidez traz para a mulher e que as adolescentes, fisicamente, não estão preparadas para absorver tantas mudanças, inclusive, a responsabilidade de criar um filho", explica Kelso.

Entre os problemas que acarretam a gravidez precoce, a desinformação e o tabu que ainda existe entre pais e filhos aparecem como os principais entraves para combater este problema social. 

"Quando a adolescente engravida, as pessoas questionam como isso pode acontecer, já que existem tantos métodos para evitar e tanta informação na internet. Mas, às vezes, a menina tem informações sobre como evitar, mas tem medo de ser apanhada pelos pais, de ser flagrada com um anticoncepcional, um preservativo ou outra forma de prevenção. Por isso é importante uma conscientização dos pais. A  conversa aberta e franca entre pais e filhos é a melhor forma de prevenção", afirma o obstetra e ginecologista.

Além da desinformação sobre contraceptivos e da falta de diálogo com os pais, Kelso ainda aponta crenças falsas que permeiam o pensamento de muitos adolescentes como um dos motivos para a gravidez precoce, o que ele classifica como 'pensamentos mágicos'. “Muitos pensam que na primeira relação sexual, não há chance de engravidar, que é preciso ter várias relações. Outro engano que a adolescente comete é achar que o preservativo protege 100% contra a gravidez. A segurança do preservativo chega perto de 100% para doenças, mas para evitar gravidez, recomenda-se um método contraceptivo complementar, como injeção, pílula ou outro método, dependendo da adaptação da adolescente", pontua o ginecologista.

"As escolas precisam abordar a educação sexual, mas tudo isso é moldado por reclamações dos pais, que em pleno século 21 ainda acreditam que quanto mais informações o adolescente tiver, mais vai despertar a sua curiosidade. Mas existem evidências científicas de que, quanto mais informação ele tiver, mais tarde ele vai iniciar sua vida sexual, justamente por não haver mais essa curiosidade. Ele vai ter aquela informação embasada cientificamente,  através de profissionais qualificados sobre  sexo e implicações de que o sexo envolve", completa o médico.