Pesquisas apontam que o Brasil já é considerado o país de maior incidência de ansiedade em todo o mundo; fatores como rotinas, estresse e estilos de vida contribuem para o desenvolvimento dela

“Cada dia com a sua agonia”. Muitos brasileiros não conseguem ter o velho ditado popular em mente, pois sofrem com transtornos e crises de ansiedade. No dia-a-dia, são comuns as situações e demonstrações de preocupação intensa, excessiva, persistente e com medo de situações cotidianas, o que acaba demonstrado pela perda de sono, pela alimentação irregular e por atitudes e reações corporais, como balançar as pernas, roer as unhas, suar muito ou andar para os lados, entre outras. 

Algumas pesquisas apontam que o Brasil já é considerado o país de maior incidência de ansiedade em todo o mundo. Uma delas foi o Covitel 2023 (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), realizado  pela organização de saúde Vital Strategies Brasil, entre 2 de janeiro e 18 de abril deste ano. Das 9 mil pessoas entrevistadas em todo o país, 26,8% já receberam diagnóstico médico de ansiedade, e outros 12,7% admitiram estar com depressão. Em outra pesquisa, da Organização Mundial da Saúde (OMS), houve um aumento de 25% na prevalência global de ansiedade e depressão, durante o período da pandemia de Covid-19. 

As crises de ansiedade são desenvolvidas principalmente por diversos fatores, principalmente rotinas profissionais, estilos de vida e ambientes com fortes situações de estresse, incluindo conflitos e problemas de relacionamento. “A ansiedade é um transtorno mental comum. Todo mundo está propício e em algum momento da vida, se tiver uma predisposição, a ter uma crise de ansiedade. Mas a partir do momento que a ansiedade vai interferindo na vida profissional, nas atividades escolares ou acadêmicas, ela gera interferência significativa, a ponto de ser um transtorno”, explica a professora e psicóloga Cláudia Mara de Oliveira Bezerra, docente do curso de Psicologia da Unit e especialista em terapia cognitiva comportamental.

O dia-a-dia de grandes cidades ou metrópoles, além de problemas cotidianos da cidade, contribuem para agravar a ansiedade. “Não há um estudo específico que determine que uma determinada região tem uma concentração maior de casos de ansiedade, mas há locais em que a incidência pode ser um pouco maior. Por exemplo, regiões com alta concentração de desemprego, regiões com alta concentração de violência… isso pode ser um gatilho, uma situação desencadeante para um tranche de ansiedade. Quando eu coloco a questão da região, eu não posso confirmar se é região X ou região Y, mas há locais em que a incidência pode ser um pouco maior, e isso também compromete a saúde das pessoas”, diz a professora da Unit.

Como cuidar

Um dos caminhos para identificar e tratar as causas dos transtornos de ansiedade passa pela terapia cognitiva comportamental (TCC), uma abordagem da psicologia que busca entender e abordar, em suas intervenções, o quanto os pensamentos e sentimentos influenciam nas nossas emoções e até mesmo no comportamento humano. O objetivo, segundo Mara, é identificar pensamentos e situações que funcionam como “gatilhos” para situações desconfortáveis, e, a partir daí, desenvolver manejos e estratégias para lidar com tais “gatilhos”.

“Se eu for tentar perguntar alguma coisa sobre as preocupações de vocês, possivelmente cada um vai conseguir trazer, mas há preocupações que vocês conseguem lidar no dia a dia e há as que se intensificam a ponto de tirar o sono. É nesse sentido que a ansiedade acaba gerando interferência significativa. Ela vai comprometer o sono, o trabalho e até o momento que você era tão tranquilo. Aí é interessante ter um acompanhamento para avaliar se de fato é interessante uma conduta com o psiquiatra, ou com um médico para dar o suporte nesse sentido”, recomenda Cláudia. 

Para além da terapia, a pessoa com ansiedade também deve cuidar melhor da própria saúde mental e corporal, adotando mudanças no estilo de vida. Isso passa por uma alimentação equilibrada, pela realização de atividades físicas e pela chamada “higiene do sono”, que é a redução do uso de telas e de outros estímulos que dificultam o sono e aumentam as chances de desenvolver ansiedade. “Há pessoas que têm uma facilidade para dormir, e há pessoas que não têm. Aí é necessário reduzir essas telas para que esse momento do sono seja colocado de uma forma muito cuidadosa, até que a pessoa consiga dormir sem o indutor do sono. Mas há pessoas que precisam desse indutor, e aí é onde entra a parte medicamentosa junto com profissionais da psiquiatria”, conclui a professora. 

Asscom Unit