A Prefeitura de Aracaju tem planejado estratégias para gerenciar a demanda de leitos na rede de saúde municipal, e, há cerca de um mês, passou a contar com o SimulaCovid, um simulador desenvolvido pelo Instituto Arapyaú e pela organização Impulso para contabilizar a quantidade de leitos hospitalares existentes no Município, antecipando ações de acordo com os cenários apresentados no processo de evolução de contágio do vírus na cidade. A ferramenta, inclusive, chegou a ser utilizada pelo Ministério da Saúde (MS), tamanha a precisão dos estudos e análises obtida.
“O SimulaCovid chegou exatamente no momento em que Aracaju questionava a quantidade de leitos que deveria disponibilizar para a população, sendo que a capital ficou responsável pelos atendimentos de média complexidade. Baseados nos estudos que já vinham sendo apresentados, de que 20% da população precisaria de internação, fizemos alguns cálculos e vimos que praticamente todas as nossas unidades tinham quantidade insuficiente de leitos. Essa demanda foi passada para eles, que se juntaram com outras organizações, com profissionais especializados em saúde pública, e montaram a ferramenta, com a qual conseguimos dimensionar a quantidade de leitos necessária e o tempo que ocorrerá a saturação deles”, explica a secretária da Saúde de Aracaju, Waneska Barboza.
O simulador, disponível na plataforma https://simulacovid.coronacidades.org/, é mais um dos instrumentos utilizados pela Prefeitura no controle e combate ao coronavírus na capital. Ele se soma a uma série de medidas que vêm sendo adotadas desde antes da confirmação do primeiro caso de covid-19 na cidade, medidas que fazem parte do Plano de Contingência desenvolvido pela administração municipal e que atende a diversas orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“É um instrumento que nos auxilia a tomar medidas de acordo com a capacidade de leitos que temos instalada e nos aponta o cenário de saturação nas várias situações. A depender das medidas de restrição que adotarmos teremos um determinado tempo até que a capacidade chegue à saturação e caso não adotemos as medidas esse tempo é ainda mais curto. No momento pelo qual passamos, quanto mais dados e informações tivermos, será melhor para nortear e, claro, desenvolver ações para resguardar cada vez mais a população”, ressalta a secretária.
Desenvolvimento
Elaborado pelo Instituto Arapyaú e pela Impulso, com a colaboração do Núcleo de Inovação da Prefeitura de Aracaju, o instrumento começou a ser pensado logo que o coronavírus chegou ao Brasil.
“Uma das maiores dificuldades diante do cenário era lidar com dados porque havia muitas incertezas sobre o modelo epidemiológico. Para os governos era muito difícil porque, além de lidar com a coisa acontecendo, tinha que parar para examinar dados e tudo mais. Vimos que a questão de leitos era muito importante porque era preciso saber a quantidade de leitos para que a população pudesse estar assistida”, conta a gestora da Impulso, Larissa Leme.
De acordo com ela, os modelos epidemiológicos trabalham com dados estatísticos muito complexos, porque existe um universo grande de variáveis. Por isso, a Impulso e o Instituto Arapyaú procuraram ajuda tanto de programadores que conseguissem desenvolver uma ferramenta, como de pesquisadores da área, epidemiologistas e outros profissionais da saúde, que pudessem apontar o melhor modelo matemático.
“Fizemos em tempo recorde e evoluiu muito. Continuamos estudando, observando o comportamento da doença no Brasil. Consideramos taxas de subnotificação, quantidade de médicos e ouvimos os gestores. Nossa principal preocupação foi entregar uma ferramenta que fosse, de fato, útil”, destaca a gestora.
A metodologia utiliza, basicamente, cinco dados, em cada município: o número de casos e mortes confirmadas; a capacidade instalada do sistema de saúde; informações demográficas; informações sobre a transmissão da doença, coletadas da literatura; e informações sobre o impacto das diferentes políticas públicas, também coletadas da literatura.
Assim, diariamente, a gestão da Secretaria da Saúde de Aracaju pode atualizar as informações na ferramenta e obter número que norteiam as ações.
“A Prefeitura de Aracaju aceitou a proposta imediatamente e incorporou a ferramenta. O acompanhamento diário realizado é muito importante para o planejamento da secretaria, para definir o que dá para fazer, o que precisa ser feito. Esse tipo de iniciativa ajuda no planejamento de ações, mas também para justificar para a sociedade, como embasamento técnico, científico”, garante Larissa.
Ampliação de leitos
Atualmente, a Prefeitura tem estruturado mais de 200 leitos para o atendimento específico de pacientes com covid-19 que necessitem de internamento. São sete leitos já disponíveis na UPA Fernando Franco, outros sete leitos previstos na UPA Nestor Piva, 20 leitos contratados no Hospital São José e outros 30 contratados no Hospital Universitário. A Saúde de Aracaju também preparou mais 20 leitos no prédio do Centro de Apoio Psicossocial (Caps) Jael Patrício de Lima, e iniciou a estruturação do Centro de Atendimento Provisório, o hospital de campanha, que contará com mais 152 leitos.