Tiradentes sempre foi lembrado ao longo da história da instituição

Fundada como ginásio em 1962, a atual Universidade tem como patrono o líder da Inconfidência Mineira, que entrou para história como um exemplo de luta pela liberdade e base para outras lutas.

Neste domingo, 21 de abril, a Universidade Tiradentes (Unit) chega aos 62 anos de existência e reafirma o seu compromisso com a educação, a cultura, o conhecimento e a inovação. Reforça também a crença de que estes são caminhos que ajudam a consolidar e fortalecer o Brasil como uma nação livre e independente. São os mesmos valores defendidos por seu patrono, Joaquim José da Silva Xavier, o ‘Tiradentes’, que liderou a chamada Inconfidência Mineira, em 1789, e morreu enforcado três anos depois, tornando-se a figura histórica que representa para muitos o símbolo de luta pela liberdade. 

Tiradentes foi escolhido como patrono do então Ginásio Tiradentes, a escola que estava sendo criada no centro de Aracaju, em 1962, pelo professor Jouberto Uchôa de Mendonça. Segundo ele, o cargo de patrono é o mais elevado na hierarquia das homenagens que serão feitas durante toda a vida da entidade, e que a escolha desse nome exige reflexão e responsabilidades. Foi um processo que envolveu os conselhos dados pela mãe, Cândida Rodrigues de Mendonça. 

“Quando resolvi fundar o colégio, pesquisei alguns nomes de sergipanos de expressão para escolher o patrono da escola. No entanto, constataram-se diversos colégios que já homenagearam segmentos religiosos e, especialmente, personalidades nascidas no estado. Mais tarde, conversando com minha mãe a respeito do assunto, ela sugeriu que eu colocasse um nome que fosse uma referência nacional. Dessa forma, com a colaboração da matriarca, foi escolhido o honroso nome de Tiradentes, que muito orgulha os brasileiros e enobrece a lista de patronos escolares”, opina o professor Uchôa. 

Esse orgulho foi construído a partir da história de Tiradentes, que durante sete anos foi oficial do Regimento Regular de Cavalaria de Minas, responsável por manter a segurança da capitania e cumprir as ordens da Coroa. Nascido em 1746 e motivado pelas desigualdades e injustiças causadas pela colonização portuguesa, ele organizou um movimento a favor da independência da Capitania de Minas e organiza uma revolta para depor o governador e impedir a “derrama”, uma ação de cobrança e recolhimento das quantias de ouro devidas, com uso das forças militares. Os planos são delatados às autoridades e os líderes foram presos, mas Tiradentes foi o único a ser condenado à morte na forca, e executado em 21 de abril de 1792. 

Anos após a morte, sua memória passou a ser cultuada pelos movimentos republicanos, que viam no líder inconfidente um exemplo de luta pela liberdade e base para outras lutas. Desde 1946, ele é considerado patrono das polícias militares de todo o Brasil. No local onde ele esteve preso no Rio de Janeiro, foi erguido o Palácio Tiradentes e o local do enforcamento é a Praça Tiradentes. Em Ouro Preto, onde sua cabeça foi exposta, fundou-se outra Praça Tiradentes e a antiga cadeia é hoje o Museu da Inconfidência. E seu nome, que tinha sido declarado infame após a sua morte, hoje está escrito como Heroi Nacional no Livro de Aço do Panteão da Pátria e da Liberdade, em Brasília. 

Homenagens 

A escolha de Tiradentes como patrono do Ginásio, em 1962, mostrou-se acertada. Muitos dos primeiros alunos afirmam que o nome foi o motivo que os atraiu para se matricular no então ginásio recém-criado. Um deles foi o professor, empresário e ex-deputado estadual baiano Luciano Ribeiro, que morava em Aracaju na época da fundação. Em depoimento dado em 2012 para o livro “Universidade Tiradentes, do ginasial ao superior: 50 anos na educação sergipana”, ele conta que se atentou para uma placa colocada na porta de uma casa na Rua Laranjeiras, e foi muito bem acolhido pelo professor Uchôa.  

“Quando eu saí do Seminário Arquidiocesano de Aracaju e fui procurar um colégio para estudar. Fui residir na rua Laranjeiras, num hotel pensionato, o famoso Hotel Amado. E logo eu vi uma pessoa preocupada alugando uma casa, arrumando, pintando o nome do Colégio Tiradentes. E lá fui eu, era meu primeiro contato fora do seminário. Foi aí que conheci a grande pessoa que é o professor Uchôa. [...] Ele se preocupava tanto comigo,nas questões do estudo,  na minha vida social, sempre me orientando, e isso não era um privilégio somente meu, eu via que ele se preocupava também com os outros alunos. A imagem dele me recebendo nunca será esquecida”, lembrou Luciano. 

As referências não se restringem ao nome da instituição. Em seus primeiros anos, inclusive após sua transformação em Colégio, o Tiradentes promovia solenidades e desfiles pelas ruas de Aracaju, com os alunos nas ruas e pequenos discursos do professor Uchôa, nos quais ele destacava a história e o legado do alferes mineiro. Estas homenagens, sempre no feriado de 21 de abril, atraíam muitos populares, sendo antecedidas por aulas com professores de História do Brasil e a celebração de uma missa em ação de graças. 

Era uma das formas de ensinar aos estudantes sobre História do Brasil e sobre valores como civismo e sentimento de nacionalidade. “Ali aprendi com os melhores professores, pois foi sempre meta do professor Uchôa ter em seu colégio os mais gabaritados professores. Aprendi a ser disciplinado, pois a disciplina sempre foi meta primordial do estabelecimento. Aprendi a amar minha pátria, porque o civismo era questão de honra do Tiradentes. Aprendi a ser cidadão, respeitar a todos, principalmente, os idosos. Aprendi a ser humano e agradecido, não fosse aquela mão bondosa que nos foi estendida em 1962, quando tantas portas se fechavam, eu não sei o que seria do meu futuro”, relembrou o radialista Carlos Rodrigues (1951-2015), em depoimento para o mesmo livro. 

Tiradentes sempre foi lembrado ao longo da história da instituição, que tornou-se faculdade em 1972 e oficializada como Universidade em 1994. Foi o mesmo ano em que, em meio às obras de construção do Campus Farolândia, na zona sul de Aracaju, foi construída uma estátua em frente ao prédio da Reitoria, na qual Tiradentes aparece altivo e fardado com um dos uniformes da Cavalaria. A representação está igualmente em uma grande pintura de azulejos no painel de entrada da reitoria, que também retrata a evolução das sedes do colégio, das faculdades e da atual Unit.

Autor: Gabriel Damásio - Fonte: Asscom Unit