Demandas por diversidade, ética e responsabilidade motivam uma maior conscientização de consumidores, que com mais acesso à informação, passam a pressionar marcas e empresas a mudarem seus valores e atitudes
As marcas e empresas passaram a ser cada vez mais cobradas pelos consumidores em seus posicionamentos públicos, principalmente os que dizem respeito à ética, à diversidade, à responsabilidade social e o respeito às minorias. Isso acontece principalmente por meio das campanhas de boicote contra empresas ou instituições que cometam atos ilegais ou antiéticos. Em março de 2023, o jornal Folha de São Paulo fez uma enquete com seus leitores sobre o que achavam dessa prática. A maioria respondeu que ela é válida e eficiente, por atingir a lucratividade e o faturamento das marcas envolvidas, forçando as empresas a tomarem providências ou simplesmente reverem suas condutas. Mas uma parte expressiva defendeu que o boicote teria que vir acompanhado de punições ou outras consequências impostas pelas autoridades responsáveis.
A frequência destas campanhas vem sendo impulsionada por mudanças de consciência da sociedade em relação a injustiças, preconceitos e práticas consideradas incorretas do ponto de vista ético, social e ambiental. Para o professor Alexandre Meneses Chagas, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPED) da Universidade Tiradentes (Unit), isso acontece por força de uma maior conscientização sobre diversidade e inclusão, que vem acontecendo na sociedade a partir de um acesso à educação e informação que vem sendo impulsionado pelo mundo.
“As redes sociais e plataformas digitais têm sido fundamentais para amplificar vozes marginalizadas e promover movimentos sociais, desafiando normas e pressionando empresas a adaptarem suas práticas. Além disso, com a população se tornando mais diversificada, as expectativas em relação às marcas mudaram, com as pessoas desejando ver suas identidades refletidas nas marcas”, explica Alexandre, destacando que, de fato, existe hoje uma grande mudança nos comportamentos e pensamentos da sociedade. “Esse fenômeno pode ser definido como uma evolução social, onde as pessoas estão se tornando mais conscientes e exigentes em relação à diversidade e inclusão”, diz.
O professor destaca ainda que este fenômeno, chamado por ele de ‘evolução social’ vem impactando na maneira como as marcas são percebidas pela sociedade e valorizando a importância que a gestão de reputação de marcas está ganhando no setor. “As empresas estão sendo desafiadas a se posicionar de forma autêntica e inclusiva, entendendo as nuances culturais, valores e sensibilidades de diferentes grupos demográficos. Isso é essencial para uma comunicação real e assertiva. Portanto, a diversidade e a inclusão não são mais um diferencial, mas um valor inegociável para empresas que desejam se manter relevantes e respeitadas em um mundo cada vez mais conectado e consciente”, afirma Chagas.
A diversidade citada pelo professor passa principalmente por uma maior presença e inclusão de gestores e colaboradores ligados a minorias sociais, sobretudo negros, indígenas, mulheres, idosos e pessoas LGBTQIA+ nas equipes. Na esteira disso, ativistas vem criando movimentos que incentivam as comunidades a comprarem ou negociarem apenas com marcas ou empresas que sejam das próprias comunidades ou que se identifiquem com seus valores. É o caso da campanha evidente no movimento ‘Se eu não me vejo, eu não compro’, criado em 2016 por uma produtora dedicada à população negra.
Alexandre assinala que tais mudanças de comportamento estão influenciando cada vez mais o mercado e os consumidores. “Com a sociedade cada vez mais diversificada, as empresas precisam refletir essa diversidade para se manterem competitivas. A diversidade promove inovação e uma melhor compreensão do público. Não é apenas uma questão de justiça social, mas uma estratégia de negócios eficaz. Empresas que valorizam a diversidade estão se posicionando para o sucesso em um mundo global e consciente”, explica o professor, alertando que as ações de cada empresa devem estar alinhadas e coerentes com seus valores declarados. “Caso contrário, a empresa pode ser vista como oportunista ou insensível, o que pode levar a boicotes ou cancelamentos”, conclui.
Autor: Gabriel Damásio
Fonte: Asscom Unit