O tratamento eletroquímico da pirólise, um líquido efluente produzido a partir de vegetais, pode evitar poluição no meio ambiente e aproveitar o insumo na produção de produtos químicos e biocombustíveis 

Uma tese de doutorado desenvolvida na Universidade Tiradentes (Unit) propõe o desenvolvimento de um protótipo para tratar líquidos efluentes produzidos a partir de insumos da agroindústria. O trabalho da pesquisadora Gláucia Nicolau dos Santos, realizado e apresentado junto ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos (PEP/Unit), teve parte de suas pesquisas desenvolvidas na Universidade de Concepción (UdeC), em Concepción, região central do Chile, com participação e orientação de professoras e pesquisadoras das duas instituições. 

De acordo com Gláucia, o tema surgiu devido ao grande volume de resíduos orgânicos produzidos pela agroindústria, que podem ser aproveitados para a produção de biocombustíveis e produtos químicos, como a pirólise. “Essa pirólise gera um efluente rico em compostos orgânicos (denominado fase aquosa), o qual, se descartado sem o devido tratamento, pode causar danos ao meio ambiente”, diz ela, destacando que o estudo abre a possibilidade do aproveitamento destes resíduos orgânicos, além de promover o tratamento por técnicas avançadas dos resíduos gerados, reduzindo o seu impacto quando descartado no meio ambiente. 

O estudo investigou o tratamento do efluente modelo gerado no processo de pirólise da vagem de feijão e da quinoa. Seu objetivo foi desenvolver um sistema de tratamento automatizado e sustentável energeticamente para aplicação sequenciada da oxidação eletroquímica e da ozonização em um efluente modelo gerado na pirólise da vagem de feijão. Além disso, ele buscou estudar o processo foto-Fenton solar (um tipo de reação química) no tratamento do efluente aquoso da pirólise da quinoa.  

“A partir daí, desenvolvemos um protótipo de tratamento que combina as técnicas de oxidação eletroquímica e ozonização, implementando a automação para o monitoramento online da qualidade da água. Além disso, o protótipo foi equipado com um sistema de energia solar fotovoltaica para atender à demanda energética necessária para seu funcionamento”, detalha Gláucia. 

A pesquisa na Unit foi dividida com a UdeC através do chamado “doutorado-sanduíche”, um  um formato de pós-graduação que permite a realização de parte da pesquisa e do desenvolvimento da tese em alguma universidade do exterior. O estudo de geração e o tratamento da fase aquosa de um resíduo agroindustrial foram realizados na Unidade de Desenvolvimento Tecnológico (UDT), instituição de ciência e tecnologia ligada à universidade chilena. 

Durante o período de pesquisas no exterior, Gláucia e a equipe de pesquisadoras caracterizaram o efluente gerado por um protótipo e aplicaram nele o tratamento por meio de processos oxidativos avançados. Estes tratamentos resultaram em uma redução significativa da matéria orgânica, dos compostos fenólicos, da toxicidade e da cor, entre outros parâmetros inerentes à qualidade da água. “Identificamos os principais compostos da fase aquosa gerada na pirólise da quinoa, bem como a degradação dos compostos majoritários, condicionando o efluente para tratamentos posteriores. Em virtude da complexidade do efluente, estudos futuros são necessários para aprimorar o tratamento desse resíduo”, explica Gláucia, acrescentando que o Chile é um país onde os processos oxidativos avançados são amplamente pesquisados. “A vivência no país permitiu investigar desde a geração do efluente em grande escala até a realização do tratamento com um sistema foto-solar portátil”, lembra. 

A pesquisa, que resultou na tese “Desenvolvimento de um protótipo de tratamento de efluentes agroindustriais por processos de oxidação avançados”, teve a orientação da professora-doutora Eliane Bezerra Cavalcanti, do PEP/Unit, com participação e co-orientação de Katlin Ivon Barrios Eguiluz (PEP/Unit), Manuela Souza Leite (ITP) e das chilenas Cristina Segura Castillo (UDT) e Romina Romero Carillo (UdeC). Ela também teve a parceria com a  professora Lisiane dos Santos Freitas, coordenadora do Laboratório de Análises Cromatográficas da Universidade Federal de Sergipe (LAC/UFS). 

Autor: Gabriel Damásio

Fonte: Asscom Unit