Ampliação da capacidade de processamento para evitar perdas no campo foi um dos assuntos debatidos na 3ª edição do Citros Show
A supersafra de laranja no Nordeste está quebrando recordes — e a logística de escoamento. Este foi um dos alertas da 3ª edição do Citros Show, realizada nos dias 13 e 14 de agosto, em Aracaju. O evento reuniu produtores, especialistas e representantes da indústria para discutir soluções diante de um cenário inédito: produção em alta histórica, mas gargalos na indústria que ameaçam a renda dos citricultores.
De acordo com dados da Secretaria de Agricultura, Sergipe deve colher 417,7 mil toneladas de laranja em 2025, um aumento de 10,4% em relação ao ano passado. Na região norte da Bahia, terceira maior produtora do país, o salto será ainda maior, com estimativa de 632 mil toneladas. Em pomares tecnificados, a produtividade chega a 80 toneladas por hectare — quatro vezes mais que há seis anos e acima da média do tradicional cinturão citrícola paulista.
O engenheiro agrônomo e idealizador do Citros Show, José Hugo Campos de Lima, destaca que o avanço da produção não foi acompanhado pelo crescimento da capacidade industrial. “Se agora já é difícil processar, em dois ou três anos será ainda pior, pois novas áreas entrarão em produção. Isso já está acontecendo. Temos muitos pomares jovens que ainda não começaram a produzir, mas que, quando entrarem, vão aumentar ainda mais a pressão sobre a indústria”, afirmou.
Segundo o especialista, a solução mais imediata é a instalação de uma terceira unidade industrial para suco de laranja em Sergipe, o que ajudaria a absorver o excedente, reduzir filas, melhorar o fluxo de escoamento e manter preços mais estáveis para o produtor.
Dados do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Sergipe (Senar/SE) mostram que o valor pago pela tonelada de laranja caiu de R$2.014,00 no segundo semestre de 2024 para R$600,00 em julho de 2025, reflexo direto da dificuldade de processamento. “Sem ampliar o parque industrial, corremos o risco de ver parte dessa fruta se perder ou ser vendida a preços inviáveis, desestimulando o produtor”, reforça Hugo.
Para ele, a situação exige ação rápida. “A citricultura do Nordeste é altamente produtiva e competitiva no cenário global. Precisamos garantir que essa força no campo se traduza em renda e desenvolvimento, e isso passa por mais capacidade de processamento, melhor logística e valorização do produtor”, concluiu.
Outros especialistas também apontaram que, sem investimentos em infraestrutura e diversificação de mercados, a tendência é que a pressão sobre preços e logística se intensifique nos próximos anos. “A perspectiva é que, assim como neste ano, o próximo também registre uma supersafra. Precisamos urgentemente de incentivos governamentais para melhorar o merchandising da fruta nordestina, viabilizar a abertura de novos mercados e investir na melhoria das rodovias, especialmente a BR-101, eixo fundamental de escoamento. Isso daria mais celeridade para levar a fruta ao destino e manter nossos patamares produtivos. Não adianta produzir se não temos para quem vender”, explica o engenheiro agrônomo Igor Santos, que atua em Sergipe e na Bahia.
Ele também destaca que a região tem proximidade com portos e a fruta já reconhecida em diversos mercados do Nordeste e do Centro-Sul. “Com mais incentivo e apoio, podemos avançar a passos largos e consolidar uma citricultura cada vez mais próspera”, afirmou.
O Citros Show também discutiu temas essenciais ao desenvolvimento sustentável da citricultura, como manejo, nutrição de solo, uso de insumos biológicos e projeções de safra. Um dos destaques foi a apresentação do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), que trouxe estimativas atualizadas e dados estratégicos para orientar o planejamento da logística e do processamento, ajudando produtores e indústria a se prepararem para o crescimento contínuo da produção.
Paralelamente às discussões, a feira de negócios do evento reuniu empresas de máquinas, insumos, tecnologias e serviços voltados ao setor. A edição também prestou homenagens a personalidades que contribuíram para o desenvolvimento da citricultura nordestina e estimulou networking e parcerias comerciais. Segundo estimativa inicial da organização, o volume de negócios desta edição chegou a R$7 milhões.
O evento é viabilizado graças ao apoio de instituições e empresas engajadas no fortalecimento da citricultura. Entre os parceiros desta edição estão Banco do Nordeste, Solo Sagrado, Plantar Case, Contorno Chevrolet, Plymag, Fonte Agrícola, Syngenta e Medina Citrus, além de outras marcas que atuam em diferentes elos da cadeia produtiva.
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