Neste ano, a ação será realizada na região amazônica, onde universitários atuarão em áreas isoladas, levando conhecimento, apoio social e vivências enriquecedoras

Instituído em 1967 pelo Ministério da Defesa, o Projeto Rondon tem como objetivo promover a inclusão social e o desenvolvimento sustentável de comunidades em situação de vulnerabilidade, por meio do engajamento de estudantes e professores de diferentes áreas acadêmicas. A proposta consiste em levar os universitários a localidades afastadas do Brasil, onde poderão contribuir com capacitação, informação e auxílio a populações com pouco acesso a serviços básicos.

Com o passar dos anos, a iniciativa ganhou força e tornou-se uma das experiências mais significativas de voluntariado acadêmico no país. As ações são realizadas semestralmente, com duração de duas semanas de imersão em localidades que necessitam de suporte em áreas como educação, saúde, cultura, justiça, meio ambiente, tecnologia e direitos humanos. Em 2025, a Universidade Tiradentes (Unit) foi a única representante da região Nordeste a ser aprovada no projeto, alcançando ainda o sexto lugar no ranking nacional. O processo seletivo foi altamente disputado, e os oito alunos selecionados irão participar da missão no Amazonas, um dos locais mais desafiadores da edição.

Fase preparatória da missão

Os estudantes escolhidos participaram de uma reunião com os docentes Nivaldo Moscoso, Ana Célia Góes Soares e Isabelle Brito, com o intuito de entender melhor os desafios que enfrentarão entre os dias 8 e 27 de julho de 2025. Os oito suplentes também estiveram presentes, prontos para entrar em ação, caso necessário. Durante o encontro, foi apresentado o Guia do Rondonista e discutidos aspectos cruciais da experiência, como as dificuldades de logística, o preparo físico e os cuidados com a saúde necessários para a participação.

A professora Ana Célia Góes Soares, do curso de Medicina e experiente coordenadora em edições anteriores, destacou a relevância da participação dos alunos da Unit em contextos adversos. “Essa será a 11ª participação da Unit no projeto. No ano passado, estive em Rondônia com a professora Isabelle, e foi uma vivência marcante, bem semelhante ao que esperamos na Amazônia. Esse território possui uma carga simbólica muito grande, é vasto, complexo e desperta muito interesse”, comentou.

Ela também ressaltou o desempenho dos estudantes da instituição, reconhecidos pela sua adaptabilidade. “É um orgulho termos conquistado o sexto lugar nacional e sermos os únicos representantes do Nordeste. Isso nos enche de alegria. Os alunos da Unit sempre demonstram grande capacidade de adaptação e criatividade, o que é fundamental quando se trabalha com comunidades. O pessoal do Ministério já até nos reconhece. Sempre perguntam: ‘Cadê a turma da Unit?’ Eles sabem que entregamos resultados”, afirmou Ana Célia.

Alcance e impacto

Coordenadora da missão em 2025 e professora do curso de Gastronomia, Isabelle Brito explicou o processo de elaboração do projeto e a estratégia adotada pela Unit. “Inscrevemos o projeto com foco nas áreas de saúde, direitos sociais e educação. Fizemos um estudo detalhado sobre o estado do Amazonas e suas demandas específicas. A partir disso, construímos uma proposta interdisciplinar, selecionando alunos de diferentes cursos para atender às necessidades identificadas”, explicou.

No campo da saúde, foram detectadas doenças relacionadas ao consumo de água, além de questões envolvendo saúde feminina, infantil e do idoso — sendo a alta taxa de mortalidade infantil um ponto crítico, agravado pela escassez de transporte e serviços básicos. Na esfera dos direitos sociais, foram destacadas demandas de comunidades indígenas, mediação de conflitos e questões migratórias, devido à posição fronteiriça do estado, além de preocupações com o desmatamento. Já na área da educação, foram identificados altos índices de analfabetismo e dificuldades na identificação de deficiências cognitivas nas escolas locais.

“Uma das razões para a alta concorrência nesta edição é a riqueza cultural e geográfica da região. Mencionar o Amazonas já traz à mente uma diversidade imensa: a culinária, a cultura, o povo... tudo é muito singular. No entanto, é fundamental lembrar que nossa missão não é turística. Haverá, sim, uma imersão cultural importante, mas o foco é o trabalho. Vamos levar conhecimento e, certamente, também voltar com muitos aprendizados”, afirmou Isabelle.

O professor Nivaldo Moscoso, do curso de Direito, participa pela primeira vez da iniciativa e destacou como o Programa de Mentoria da Unit foi essencial na seleção dos alunos, promovendo o intercâmbio de saberes entre diferentes áreas. Atuando como mentor, ele representa toda a universidade, e acredita que essa troca entre mentores enriquece projetos como o Rondon.

“O lema do projeto é 'Integrar para não entregar', ou seja, promover a inclusão social de regiões afastadas para que não sejam esquecidas pelo país. Nosso objetivo é contribuir para a integração dessas comunidades. No nosso caso, com foco no Direito, planejamos realizar oficinas sobre gestão e mediação de conflitos — seja no ambiente familiar, escolar ou comunitário — e também trabalhar com justiça restaurativa, utilizando práticas circulares. Muitas dessas comunidades não têm acesso à Justiça formal, então queremos capacitar lideranças locais para que possam atuar na resolução de seus próprios conflitos. Vamos ouvir, entender suas necessidades e buscar soluções em conjunto”, destacou Nivaldo.

Ansiedade e entusiasmo entre os estudantes

Os alunos escolhidos estão empolgados com a possibilidade de viver uma experiência transformadora e colocar em prática o conhecimento adquirido durante a graduação. A estudante do 7º período de Odontologia, Maria Beatriz Conceição, compartilha que deseja contribuir com sua alegria, empatia e a forma cuidadosa com que trata seus pacientes. “A Odontologia me ensinou a ver o ser humano de forma integral, não só a parte bucal. Quero levar essa visão para outras pessoas. Além disso, me inspiro em alguém muito próximo da minha família que participou de ações semelhantes, e isso sempre me motivou”, contou.

Para Maria Fernanda Souza, do 9º período de Medicina, essa foi a segunda tentativa de participar do projeto. Ela revela que esse sempre foi um grande sonho e que realizar agora é motivo de imensa alegria. “Quero deixar uma mensagem para quem não conseguiu dessa vez: persistam. Vale muito a pena insistir, pois é uma vivência que muda a vida e contribui muito para a formação profissional. O que mais me atraiu foi a visibilidade do projeto e a possibilidade de conhecer outras culturas, além da troca entre os cursos. Essa integração é extremamente valiosa”, disse Fernanda.

Já Brenno Demetrius Ornellas, aluno do 6º período de Enfermagem e entusiasta do artesanato, pretende unir os aprendizados da graduação com oficinas temáticas, buscando criar vínculos com a comunidade local e conhecer mais de sua realidade.

“Esse sempre foi um sonho meu, desde criança. Durante a entrevista, falei sobre meu olhar sensível para causas humanitárias e o desejo de conhecer pessoas. Sou apaixonado por histórias de vida, pelo que as pessoas têm a ensinar. Então, saber que terei essa troca, podendo ensinar e aprender ao mesmo tempo, me deixa muito feliz. Além disso, o contato com estudantes de outras áreas vai ampliar minha visão sobre o trabalho em equipe e fortalecer minha formação profissional”, concluiu.

Autora: Laís Marques

Fonte: Asscom Unit