Em busca de incentivo e oportunidades: artesãos de Poço Redondo falam sobre desafios para manter viva a sua arte

Artesãos foram ouvidos pelo MPT-SE, que vai atuar de forma conjunta com a Secretaria de Estado do Trabalho e UFS para levar o artesanato a outros estados
Linhas, madeira, pano, couro. Tudo pode se transformar em arte nas mãos talentosas dos artesãos do município de Poço Redondo, no alto sertão sergipano. Antônio Francisco da Silva, ou Mestre Tonho, como é mais conhecido, mostra orgulhoso as peças que produz em madeira, que vão desde imagens sacras a animais e outras diversas peças decorativas.

“Tenho orgulho de dizer que o município de Poço Redondo é conhecido em vários países através da minha arte. O que eu mais queria era passar esse saber para outras pessoas e ver o trabalho dos artesãos e artesãs reconhecidos”, disse Mestre Tonho.

A renda de bilro é uma produção marcante no município. A arte entrelaçada, apoiada em almofadas, ganha forma com os bilros de madeira. Um saber passado por gerações, até chegar a pessoas como Domingas. “Eu aprendi a fazer renda cedo. Continuo produzindo por amor. Já tive a oportunidade de ensinar a outras pessoas. Mas temos muitos outros tipos de artesanato. O que falta mesmo é união”, disse a artesã Dominga dos Santos.

É que, em meio à diversidade de artesanatos, há um problema em comum. A falta de incentivo e oportunidades. Os artesãos reclamam sobre a carência de ações e de uma atuação articulada entre os artesãos e o poder público.

Para ouvir as demandas e incentivar a geração de trabalho e renda, o Ministério Público do Trabalho em Sergipe (MPT-SE), a Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Empreendedorismo (Seteem) e a Universidade Federal de Sergipe (UFS) atuam de forma conjunta. No último dia 24/8, na sede do Grupo Cultural Raízes Nordestinas, em Poço Redondo, o procurador do Trabalho Adroaldo Bispo se reuniu com cerca de 40 artesãos do município, que aproveitaram a oportunidade para expor suas produções.

Durante o encontro, ele falou sobre a economia solidária e a importância de inserir os artesãos em diversos espaços. “Três aspectos são fundamentais: solidariedade, coletividade e cooperação. A economia solidária visa romper esse empreendedorismo individualizado. Nesse modelo, é possível gerar mais renda e oportunidades não para um, mas para a coletividade”, explicou o procurador.

A ideia é levar o artesanato produzido em Poço Redondo para feiras e eventos em outros municípios e estados também. “O Governo do Estado, através da Secretaria do Trabalho, tem buscado incentivar os arranjos produtivos locais e valorizar o artesanato e economia solidária, dando oportunidades para que o talento do sergipano tenha espaço de comercialização. Inclusive, nós trouxemos a renda de bilro para participar de uma ação promocional da Secretaria do Trabalho com a Casacor, para que os arquitetos tenham a oportunidade de conhecer esse produto tão singular que é produzido no sertão sergipano. Nós estamos convidando os artesãos da região para participar dos nossos editais e não vamos medir esforços para fortalecer o artesanato local, para esclarecer e divulgar os editais que são publicados, para que eles possam participar, e irem a Feiras Nacionais”, pontuou o secretário de Estado do Trabalho, Jorge Teles.
Através da UFS, será possível promover cursos de capacitação e qualificação para os artesãos. Outro objetivo discutido na reunião foi o fortalecimento da Fundação Dom José Brandão de Castro, que funciona no município. Em 2019, foi inaugurada a sede da instituição, depois de o MPT-SE destinar recursos de multas e indenizações trabalhistas.

Também foi reformado o Ateliê Flor de Mandacaru, no povoado Barra da Onça, e a UFS doou equipamentos, prestou assessoria e consultoria técnica na elaboração do projeto de uma cozinha industrial. “A gente tinha muita produção de artesanato, mas como ficava sem vender, as pessoas foram ficando tristes. Precisamos retomar as atividades e estamos convidando todos que sabem fazer essa arte”, comentou a presidente da Fundação, Sônia Silva.

Novas reuniões devem ser realizadas com os artesãos, com representantes da UFS e Seteem, para dar andamento aos projetos.

Fotos: Lays Millena Rocha