Como aproveitar melhor aquela água já utilizada em casas e instituições? Um projeto da Universidade Federal de Sergipe mostrou que é possível não somente reutilizar a chamada ‘água cinza’ como também auxiliar famílias camponesas em produções agrícolas. É o Sistema Bioágua Familiar, projeto que trata água de reuso para produção agrícola em quintais produtivos do Assentamento de Reforma Agrária Jacaré-Curituba, no sertão sergipano.

Iniciado em 2019, o projeto é integrado por dois coordenadores, dois pesquisadores e quatro bolsistas da UFS. Um dos coordenadores do projeto é o Antenor de Oliveira, docente do Departamento de Engenharia Agronômica do campus de São Cristóvão.

Segundo o professor, a iniciativa se deu a partir do grupo Acqua da UFS, grupo de pesquisa, ensino e extensão que atua na bacia hidrográfica do Rio São Francisco e região semiárida há mais de 25 anos. “Em 2018, estávamos no Opará, localizado no assentamento Jacaré-Curituba e tivemos conhecimento dessa tecnologia social. Assim, em parceria do grupo Acqua da UFS São Cristóvão com o grupo Xique-xique do Campus do Sertão, também da UFS, resolvemos concorrer ao edital CNPq”.

Bioágua familiar

Segundo Antenor, a Bioágua Familiar é uma tecnologia social que promove o tratamento das águas cinzas por meio de um sistema, que permite gerar a produção agrícola em quintais produtivos do semiárido sergipano. E os resultados potencializaram a produção e aumentaram a renda das famílias agricultoras.

“Temos um foco especial para a inserção das mulheres camponesas na cadeia produtiva, gerando, consequentemente acesso a renda através dos produtos comercializados diretamente por elas. Nossos estudos na região semiárida mostram que a escassez hídrica afeta a vida das pessoas em vários aspectos. As tecnologias sociais se constituem em alternativas tecnológicas que podem ser utilizadas no semiárido”, explica.

O projeto contemplou bolsas de iniciação científica para quatro alunos da UFS, sendo que um dos discentes foi premiado como o prêmio jovem pesquisador da UFS, em 2020. Também já serviu como base para um trabalho de conclusão de curso, além de atividades de ensino e extensão. Antes da pandemia, os alunos foram levados para conhecer a iniciativa e praticar presencialmente.

“No momento, estamos concluindo o projeto devido ao fim dos recursos financeiros do CNPq, e o nosso grupo está focando nos problemas do rio São Francisco e seus afluentes”, destacou o professor de Engenharia Agronômica.

Experiências

Participante da iniciativa, Isabela Lima é aluna do décimo período de Engenharia Agronômica da UFS e está no projeto desde agosto de 2021. “A experiência de participar do projeto é enriquecedora, pois aborda de forma prática diversos assuntos estudados durante a graduação, permitindo um contato direto com o produtor e sua realidade, adquirindo experiência e conhecimento com o mesmo, além de permitir trabalhar e produzir de uma forma sustentável”.

Já a agricultora Elitania dos Santos diz que está satisfeita com o projeto. “Ficou inacreditável, tudo lindo e saboroso. A horta foi uma coisa muito boa em minha vida e na de minha família. Depois que comecei a produção, mais nunca eu comprei na feira, uso de casa mesmo”, comemora.

É com base na sustentabilidade que o projeto Bioágua Familiar apresenta não somente uma solução viável para o problema do desperdício de água como também para uma outra situação grave da atualidade: a escassez do recurso para a produção de alimentos para a mesa do agricultor.