Preocupada com o grande número de pessoas que perderam a vida, de janeiro a junho deste ano, em Sergipe, em operações de agentes da segurança pública e que resultaram em troca de tiros ou revide a injusta agressão, a deputada estadual de Sergipe, Linda Brasil (Psol), utilizou o Grande Expediente na sessão desta quinta-feira, 17, para cobrar investimentos em ações de inteligência investigativa e de informações na área da segurança pública.

Uma reportagem publicada no dia 14 de agosto, no portal Mangue Jornalismo, mostrou que o estado de Sergipe tem uma das polícias que mais matam no Brasil justificando confronto, e foi, inclusive, o estado que mais gastou proporcionalmente com segurança pública no Nordeste em 2022. Os dados são do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

“É um dado preocupante, porque revela a política de morte da segurança pública em nosso estado e eu tenho falado bastante nessa tribuna sobre a necessidade de repensar essa política de segurança pública, porque ela tem se mostrado fracassada, servindo apenas para o genocídio da população preta, pobre e periférica do nosso estado”, criticou Linda Brasil.

De acordo com o anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2022, Sergipe era o 2º estado mais violento nesse quesito no país. Na pesquisa deste ano, o estado ficou na 4ª colocação e na 2ª do Nordeste em letalidade policial, perdendo para Bahia. No ano de 2020, agentes de segurança pública mataram em Sergipe 196 suspeitos de crimes, alegando “troca de tiros”. Em 2021, esse número subiu para 210. No ano passado, a SSP/SE manteve o alto número, fechando 2022 com 175 óbitos.

“Em todo o mês de julho deste ano, pelo menos 17 pessoas foram mortas ‘em confronto’ com as polícias em Sergipe. Elas se juntaram a mais 110 vítimas que perderam a vida, de janeiro a junho deste ano no estado. No dia 8, no bairro Industrial, em Aracaju, quatro jovens foram mortos pelas forças policiais. Alegou-se mais uma vez ‘confronto’. Testemunhas dizem que foi execução”, destacou a deputada.

A reportagem também chama a atenção para os dados do FBSP de 2023: o Governo de Sergipe, de 2021 para 2022, reduziu em 100% os gastos com informação e inteligência.

“Não é investir em armas e mais policiais nas ruas, porque quando eu saio e que tem vários policiais, tropa de choque, isso não me dá a sensação de segurança. Eu tenho a sensação que estamos em um estado de guerra. O que precisa ser investido é inteligência, informação para que realmente se possa descobrir quem são os verdadeiros bandidos e onde está a base desse sistema de tráfico de drogas”.

“A gente sabe que não é o jovem negro da periferia que se beneficia, existem pessoas que muitas vezes são ligadas a grandes grupos e acabam se beneficiando com esse modelo de segurança pública de guerra às drogas e acaba sendo um modelo que mais mata a população negra, pobre, periférica, e, também, a polícia que mais morre por não investir em informação e inteligência. Não vai ser com confronto, revide e essa sensação de fazer justiça com as próprias mãos que vamos diminuir a violência no nosso estado”, completou a deputada.

Morte de trabalhador por atropelamento no terminal:

Na Tribuna, Linda também utilizou o espaço para prestar solidariedade aos familiares de Michael Johnatan, que morreu na madrugada da última quarta-feira, 16, após ser atropelado ao tentar embarcar em um ônibus do transporte coletivo na capital.

“Quero externar minha solidariedade com a família de Michael Johnatan Santos de Oliveira, jovem trabalhador, de 29 anos, que morreu na madrugada de ontem, após ser atropelado ao tentar embarcar em um ônibus do transporte coletivo, no Terminal Leonel Brizola. Johnatan ficou ferido na barriga e nas pernas, foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e encaminhado ao Hospital de Urgências de Sergipe, onde passou por cirurgia, mas não resistiu aos ferimentos”, comentou.

Para a deputada Linda Brasil, é preciso pressionar cada vez mais para que a Prefeitura de Aracaju inicie um amplo debate com a sociedade para construir um processo de licitação do transporte público que seja justo.

“Johnatan é vítima do descaso da Prefeitura de Aracaju, e das demais autoridades de Estado, que negligenciam todos os dias a vida das/os trabalhadoras/es usuárias/os do transporte público. O dia a dia de quem pega ônibus na capital é preocupante. É preciso pressionar, cada dia mais, para que a Prefeitura de Aracaju, dê início a um amplo debate com a sociedade, para construir um processo de licitação do transporte público que seja justo, transparente, democrático, que garanta segurança e direito à cidade às trabalhadoras e trabalhadores de nossa cidade”, destacou a deputada.