Conheça as admiráveis habilidades de adaptação e recuperação do órgão, capazes, até mesmo, de ajudar na reabilitação de pacientes com lesões cerebrais.  

Ainda que não seja algo inteiramente perceptível para grande parte das pessoas, o cérebro humano possui uma capacidade gigantesca de adaptação, aprendizagem e crescimento. E essa característica plástica, isto é, que muda com o passar do tempo, vem se revelando como um intrigante fenômeno para especialistas da área, uma vez que desafia antigas crenças que defendiam a rigidez e inflexibilidade deste que é o órgão mais complexo do nosso corpo. 

Na ciência, este feito recebeu o nome de neuroplasticidade, a qual, de forma simplificada, refere-se a habilidade do cérebro em formar novas conexões neurais, ao mesmo tempo em que reforça as já existentes, em resposta a estímulos internos, experiências vividas e, até mesmo, lesões. Como exemplo, imagine-se aprendendo a tocar violão. Na prática, na medida em que você usa as cordas e segue aprimorando as técnicas com o instrumento, o cérebro passa por uma constante adaptação que, aos poucos, fortalece as conexões neurais responsáveis por táticas como a coordenação motora fina e a interpretação de notas musicais. 

Essa tal aptidão cerebral, que no passado esteve associada apenas à juventude, demonstra um desenvolvimento muito maior de aspectos como a memória e o aprendizado, além de assumir um papel fundamental na recuperação, por exemplo, de pacientes com diagnóstico de doenças psicológicas. O docente do curso de Neuropsicologia da Pós-graduação Lato Sensu da Universidade Tiradentes (Unit), pós-doutor em Psicologia e Educação pela Universidade de Aveiro, bolsista de Desenvolvimento Tecnológico Industrial C (CNPq) e fisioterapeuta emergencista do Hospital de Urgências de Sergipe (HUSE), Paulo Autran, explica em detalhes como funciona a neuroplasticidade no interior do corpo humano. 

“⁠Ao estimular o corpo dentro das suas limitações sensitivas e motoras, e da sua funcionalidade, a neuroplasticidade estimula também o sistema nervoso a se reparar, a se reorganizar, a realizar a sinaptogênese reativa, o brotamento e a neurogênese. Isso ajuda o paciente a voltar a andar, a falar e, possivelmente, até ser fluente em outras línguas. Sendo assim, a reabilitação promove a plasticidade do sistema nervoso, adaptando de forma funcional e estrutural, minimizando ou revertendo os efeitos das alterações estruturais (lesionais) ou funcionais do mesmo”, desvenda o professor. 

Uma outra relevância da neuroplasticidade é a reabilitação de pessoas vítimas de lesões cerebrais mais graves, como é o caso do Acidente Vascular Encefálico (AVE) e do traumatismo craniano. Nestes quadros, o cérebro pode reorganizar suas conexões neurais visando compensar a perda de funções, enquanto auxilia na recuperação parcial, ou mesmo total, das habilidades prejudicadas. Além deste, a natureza plástica do cérebro também beneficia o desenvolvimento cognitivo e emocional de crianças, assim como as mudanças sensoriais ligadas, por exemplo, a perda da visão ou da audição. 

Especialistas atraídos 

A descoberta de que é possível controlar o processo de adaptação do cérebro a diversos contextos tem colocado, cada vez mais, neurocientistas e psicólogos debruçados sobre a área que pode, dentre outros benefícios, retardar ou prevenir doenças cerebrais degenerativas. A especialização em neuropsicologia, por exemplo, deve ser uma das escolhas de quem deseja se aprofundar na área, conforme destaca o professor Paulo. Neste sentido, o caminho é investir em uma formação que tenha em sua base estudos de casos clínicos e observação direta de pacientes com quadros de lesões cerebrais. 

“Como a neuroplasticidade é a capacidade que o cérebro tem de aprender e a se reprogramar, a neurociência possibilita o estudo dos processos sensitivos, motores e de integração que envolvem o sistema nervoso. Sendo assim, o profissional que estuda a neurociência consegue entender estímulos que impulsionam as ações do ser humano baseado nas emoções, comportamentos e outros processos cerebrais”, avalia o docente. 

O estudo de neuroimagem e de intervenções terapêuticas, a exemplo da terapia cognitivo-comportamental e a neurofeedback, capazes de possibilitar mudanças positivas na neuroplasticidade, também precisa estar integrado à rotina de especialização. Outra dica é abraçar a tecnologia por meio, por exemplo, de aplicativos que auxiliam a compreender mais sobre o funcionamento do cérebro humano. Alguns  deles são:  

  • Complete Anatomy 2024 - utiliza modelos 3D detalhados para auxiliar na compreensão da anatomia. 

  • Neuronify - facilita a compreensão de redes neurais.

  • BrainView - disponível para MacBook, a ferramenta auxilia na análise dos componentes do cérebro humano.

 
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