Com uma realidade cada vez mais preocupante, o tratamento contra a depressão tem se intensificado
A depressão, classificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um dos maiores desafios de saúde pública global, atingiu níveis alarmantes nos últimos anos, especialmente após o período pandêmico. Conforme dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o número de brasileiros com depressão aumentou 28% entre 2019 e 2020.
A procura por soluções eficazes tornou-se uma prioridade, e é nesse cenário que a ciência enfatiza a relevância das atividades físicas como parte integrante do tratamento para a depressão. A psicóloga clínica e docente da Universidade Tiradentes (Unit), Tatiana Carvalho, destaca como a conexão entre corpo e mente se configura como um aliado poderoso no tratamento da depressão.
“A prática regular de exercícios físicos pode contribuir para o alívio dos sintomas da depressão de várias maneiras, envolvendo tanto aspectos físicos quanto psicológicos. Nesse sentido, a atividade física constante pode atuar como um mecanismo de enfrentamento eficaz para o estresse, bem como ajudar na redução dos sintomas de ansiedade. Além disso, pode elevar a autoestima e a autoconfiança, pois alcançar metas relacionadas ao condicionamento físico pode ter impactos positivos na percepção pessoal e na motivação para superar os desafios”, explica.
Processos mentais
Segundo Tatiana, os mecanismos psicológicos por trás dos benefícios da atividade física no tratamento da doença são inúmeros. "Os exercícios físicos proporcionam uma série de benefícios psicológicos que contribuem para o tratamento da depressão. Eles melhoram o humor, reduzem a ansiedade, aumentam a autoestima e a autoconfiança, além de melhorar a cognição e a função executiva, impactando na capacidade de concentração e tomada de decisões", afirma a psicóloga.
Os benefícios das atividades físicas na luta contra a depressão se estendem para outras áreas:
• Redução dos níveis de cortisol, o hormônio do estresse, proporcionando um efeito calmante no corpo e na mente;
• Distração positiva, afastando a mente de pensamentos negativos;
• Melhora dos padrões de sono;
• Promoção da interação social, criando uma rede de apoio e senso de pertencimento.
A inclusão de atividades físicas como parte do tratamento para a depressão também abre portas para uma abordagem mais holística no campo da saúde mental. A psicóloga ressalta que os profissionais de saúde mental têm um papel crucial na incorporação dessas práticas na rotina de seus pacientes.
“Os psicólogos podem estimular os pacientes com depressão educando sobre os benefícios psicológicos do exercício físico, ou seja, explicando como a atividade física pode impactar positivamente no humor, na ansiedade e no estresse. É importante que o psicólogo dialogue com o paciente sobre adesão ou não à prática da atividade física, pois pode ser um dos indícios do nível de gravidade da depressão. Caso o paciente esteja praticando é importante pedir a ele um feedback sobre esta experiência, e sempre buscar motivá-lo”, recomenda.
Recaídas em indivíduos que enfrentaram episódios depressivos também podem acontecer, portanto, incorporar práticas físicas é um papel crucial. “O enfrentamento regular de desafios físicos, tais como na corrida e treinamento de força, pode aumentar a autoestima como também a resiliência mental, e consequentemente resultar numa melhor capacidade de lidar com o estresse e os desafios emocionais, prevenindo recaídas”, pontua Tatiana.
Outra contribuição da prática constante das atividades físicas é que elas podem oferecer uma estrutura regular ao dia, fornecendo uma sensação de propósito e organização. Tal aspecto é relevante porque a falta de estrutura pode ser um fator de risco para recaídas na depressão.
“Os psicólogos podem observar uma melhora no humor no paciente. Este pode relatar mudanças em seu estado emocional e bem-estar geral. É importante que o psicólogo pergunte sobre o nível de energia, qualidade do sono e satisfação com a vida, pois tais informações podem fornecer insights sobre os efeitos positivos das atividades físicas, bem como questionar acerca da capacidade de concentração, de tomar decisões e resolver problemas, pois a prática regular de atividade física está associada a melhorias nas funções executivas”, complementa.
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