Um dos maiores desastres naturais já registrados na história do Brasil, contabiliza 151 mortes, de acordo com o balanço mais recente divulgado pela Defesa Civil do Rio Grande do Sul. As chuvas que assolam o estado há mais de duas semanas já afetaram mais de 2,2 milhões de gaúchos. Em entrevista, a especialista em perdas e luto, radicada em Aracaju, Dra. Milena Aragão, que também é Psicóloga, Mestre e Doutora em Educação, com Pós-doutorado em Psicologia, esclareceu sobre como lidar com situações como essa.
“Luto é um processo natural da vida após perdas significativas. Está relacionado tanto a morte de uma pessoa querida ou animal de estimação, quanto ao fim de algo importante, como um relacionamento, perda de emprego, aposentadoria, mudanças de cidade, estado, país, entre outras. Podemos enlutar também por sonhos/expectativas não alcançadas, como quando desejamos passar em um concurso e não atingimos o resultado esperado, por exemplo”, explica a psicóloga.
A vivência do luto pode provocar sintomas como ansiedade, tristeza, culpa, raiva, desesperança, choro, isolamento, preocupação, lentidão de pensamento, perdas de memória, distúrbios do sono, perda ou excesso de apetite, queixas somáticas, entre outros.
“No luto coletivo, esse processo é compartilhado por um grupo de pessoas que vivenciam ao mesmo tempo uma perda em comum, como em uma tragédia, desastre natural ou evento traumático”, detalha Dra. Milena.
Um exemplo recente de luto coletivo foi a vivência da Pandemia de COVID-19 e mais atual ainda, a tragédia que está ocorrendo no Rio Grande do Sul. “ São muitas perdas, entes queridos, animais de estimação, trabalho, moradia, objetos pessoais, referências de suas cidades, mas também sonhos e expectativas, como o aniversário que não ocorrerá, o dia das mães que não foi comemorado, o casamento que não poderá ser realizado, viagens desejadas há tanto tempo e que serão canceladas”, exemplifica Dra. Milena.
“Também não é possível realizar os rituais fúnebres respeitando a cultura religiosa de cada família, o que aumenta o sofrimento. Além da dor de amigos e familiares que moram em outras cidades e não podem acessar seus filhos, netos, pais, irmãos, para entregar o abraço que ajuda a acalmar, a segurança da presença, esse luto compartilhado pode provocar uma sensação generalizada de tristeza, desespero, desesperança, desamparo, ansiedade, medo, raiva, culpa entre outras emoções e sentimentos”, destaca.
“Apesar de denominarmos ‘luto coletivo’, com perdas em comum, a vivência do luto é singular, pois depende de múltiplos fatores, como o vínculo com o que ou quem foi perdido, a forma como ocorreu a perda, idade, gênero, estilos de enfrentamento e suporte social por exemplo”, orienta.
A frequência e a intensidade dos sintomas variam caso a caso. Isso significa que cada um vai elaborar o luto no próprio tempo, sendo importante ter especial atenção às crianças, adolescentes e idosos.
Como lidar com o luto coletivo?
1. Aceite o suporte emocional, fale sobre o que tem sentido.
2. Se você se dispôs a escutar, faça sem críticas ou julgamentos. Caso não saiba o que dizer, diga apenas “estou aqui para escutar você” ou “como posso ajudar você nesse momento”? Na maioria das vezes as pessoas querem apenas ser ouvidas, receber um abraço ou saber que não estão sozinhas.
3. Busque apoio psicológico com profissionais que possam ajudar na elaboração das múltiplas perdas vivenciadas.
4. Pode ser positivo reunir-se com outras pessoas enlutadas para apoio mútuo, seja em cerimônias religiosas, vigília, ou outras ações que ajudem a partilhar a dor e formar rede de apoio, construindo um sentimento de unidade na reconstrução interna e externa.
Dra. Milena ressalta ainda, que é fundamental que junto ao plano de reconstrução da cidade, o poder público invista na saúde mental.
“Quando estamos em frente ao luto coletivo, é fundamental pensar na saúde mental dos sujeitos que vivenciam tamanha dor. Assim, deve-se considerar a importância do suporte psicossocial às vítimas, incluindo capacitação de profissionais para lidar com situações de perdas e luto. Todos estamos sujeitos a vivenciar situações de luto coletivo. Como cada Estado/Cidade está prevenindo e intervindo para ajudar as pessoas a lidar com processos tão dolorosos?”, finaliza a psicóloga.
Fonte: Rodrigo Alves, Jornalista, Assessor de Imprensa
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