Com o objetivo de capacitar e atualizar técnicos que atuam na identificação de triatomíneos, insetos vetores da doença de Chagas, popularmente conhecidos como barbeiros, o Ministério da Saúde, em uma parceria com pesquisadores da Unesp de Araraquara, Universidade Tiradentes, Instituto de Tecnologia e Pesquisa-ITP e Lacen, realizou treinamento de profissionais que atuam no Laboratório Central de Saúde Pública – Lacen.

“Além de capacitar, a ideia é permitir que esses profissionais atuem como multiplicadores para ações em nível municipal. A partir dessa rede de pesquisa e colaboração científica foi criado um guia com fotos e informações atualizadas para identificação do inseto e uma classificação espacial sobre onde os vetores podem ser encontrados no Estado. Essa publicação, que se configura em capítulo de um livro, será distribuída a todos as Secretarias de Saúde do Estado, assim como aos Programas de Controle da Doença de Chagas (PCDCh) em Sergipe”, explica a professora Cláudia Moura de Melo do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente da Unit e pesquisadora do ITP, no Laboratório de Doenças Infecciosas e Parasitárias, que trabalha em pesquisas nessa temática desde 2008.

De acordo com Rafaela Albuquerque e Silva, consultora técnica do Ministério da Saúde na área de entomologia esse é um programa permanente do Ministério da Saúde, lotado na coordenação geral de Zoonoses e de doença de transmissão vetorial.

“A capacitação busca fortalecer a vigilância entomológica em termos estaduais para identificação dos triatomíneos que são os transmissores da doença de Chagas. Além disso, tentar definir os possíveis desdobramentos a partir dessa identificação, principalmente para que a gente consiga dar suporte à população que está sob o risco de ter a doença de fato”, explica.

“A Unit foi fundamental, principalmente no fornecimento da infraestrutura adequada. A participação da universidade fortalece muito e traz a possibilidade de trazermos esses cursos para o Estado de Sergipe. Vale destacar ainda o trabalho desenvolvido no ITP. Não fosse essa linha de pesquisa não conseguiríamos fazer com tanta maestria essa parceria entre o público e o privado”, reitera.

Karine Dantas Moura, gerente do Lacen, reconhece a relevância da capacitação aos profissionais. “É muito importante porque quanto mais profissionais treinados especificamente, mais poderemos oferecer esse serviço à população sergipana. O Lacen é uma instituição de portas abertas e qualquer pessoa, de qualquer município pode nos enviar amostras. Fazer a identificação dos vetores, identificar áreas é importante para evitar a disseminação da doença de Chagas em nosso estado”, ressalta.

Curso

O doutor em Biociências e Biotecnologia Aplicadas à Farmácia, Jader de Oliveira, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo - USP, foi convidado pelo Ministério da Saúde para ministrar o curso. O pesquisador desenvolve um trabalho técnico na universidade pública direcionado para as capacitações e ensinamentos desses grupos que necessitam de atualizações e aprendizado.  Jader de Oliveira foi um dos organizadores do guia de identificação de triatomíneos em Sergipe, elaborado com figuras, mapas de distribuição das espécies, escala de importância vetorial e descrição dos aspectos biológicos e ecológicos, que tem por intuito contribuir com a vigilância entomológica e epidemiológica da Doença de Chagas, assim como subsidiar informações para as ações de controle dos vetores no Estado.
 
“O guia que apresenta as espécies de Sergipe é uma obra que vai servir como referência para quem for atuar no campo de entomologia. A publicação, produzida em colaboração entre o grupo de pesquisa da USP junto com o ITP/Unit, fortaleceu a integração dessa pesquisa com um objeto para aplicabilidade no Ministério da Saúde. Então, o fortalecimento dessa rede é muito importante visando o conhecimento e identificação e controle desses insetos vetores”, pontua.
 
Doença de Chagas em Sergipe

A doença de Chagas (DC) é apontada como um problema de saúde pública na América Latina. A partir dos registros do Ministério da Saúde, a região do nordeste brasileiro é considerada preocupante em relação à doença de Chagas, por contar com grande número de insetos vetores (triatomíneos) e as condições de vida da população humana, principalmente nas zonas rurais.

“A doença de Chagas é uma enfermidade muito antiga, já faz mais de cem anos da sua descoberta. Desde 2005, o Brasil recebeu a certificação de que estava livre da doença por transmissão vetorial. Na atualidade, dentro da nossa fauna são 66 espécies de triatomíneos que são capazes de transmitir a doença e temos lutado para manter essa vigilância ativa”, informa Rafaela Albuquerque e Silva, consultora técnica do Ministério da Saúde.

No Instituto de Tecnologia e Pesquisa-ITP, a pesquisadora Cláudia Moura Melo, desenvolve trabalho investigativo voltado à Doença de Chagas desde 2008.
“Os estudos iniciais foram desenvolvidos na região do centro-sul do Estado, que foi o primeiro projeto financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe – FAPITEC/SE e depois tivemos outras três pesquisas com financiamento de órgãos de fomento nacionais e estaduais. No atual, estamos propondo mapear em Sergipe quais são as áreas e fatores de risco para população, além das espécies de triatomíneos. Buscamos a situação epidemiológica, ecológica e de saúde contemporânea da Doença de Chagas no estado”, informa.

De acordo com a pesquisadora, é preciso ficar alerta quanto à infecção porque os sintomas da doença podem demorar a aparecer. “A doença de Chagas é considerada uma doença negligenciada. Em muitos casos, é uma enfermidade silenciosa, que pode demorar anos para apresentar sintomas, sejam manifestações cardíacas e/ou digestivas, e cujo estágio crônico já não permite mais a cura total do paciente. Nesse caso, a orientação é a melhoria das condições de vida destes pacientes, com monitoramento constante. Por isso, torna-se importante todas as estratégias de identificação de áreas de risco de infecção humana, com medidas profiláticas pertinentes e diagnóstico precoce. Todos os profissionais envolvidos com o controle de endemias – inclusive a Doença de Chagas - precisam ser permanentemente capacitados sobre a dinâmica da transmissão e sobre a identificação taxonômica, o que pode propiciar ações de controle vetorial mais rápidas e efetivas”, finaliza.

Fonte: Assessoria de Imprensa | ITP