Combinações de ervas podem trazer complicações leves e até mesmo óbitos
O consumo de chás emagrecedores e outras substâncias tidas como naturais e que prometem a perda de peso sem uma melhora da qualidade alimentar e a prática de atividade física tem sido cada vez mais estimulado. Evidenciando os prejuízos que isso pode causar, recentemente, uma enfermeira adquiriu hepatite fulminante em decorrência do uso de cápsulas feitas com 50 ervas. Mesmo com um transplante de fígado, ela não resistiu. O caso aconteceu em São Paulo.
De acordo com o farmacêutico, doutor e professor do Centro Universitário Ages, Carlos Adriano, o uso do termo “se é natural não faz mal” deve ser inutilizado, pois as ervas podem causar diversas reações adversas, desde náuseas, vômitos e distúrbios gastrointestinais moderados a efeitos graves no fígado, nos rins e no coração como consequência do uso prolongado.
Conforme o especialista explica, isso ocorre porque a planta medicinal e os seus produtos são agentes xenobióticos (compostos químicos estranhos ao organismo humano), potencialmente tóxicos, não tendo somente efeitos imediatos e facilmente correlacionáveis com a sua ingestão, mas, também, efeitos que se instalam a longo prazo.
Carlos alerta que as plantas medicinais possuem substâncias que interagem entre elas e podem causar danos à saúde, por isso, nem todas as combinações são seguras. “Quanto maior o número de ervas, maior o risco de interações. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomenda evitar a mistura de chás devido ao potencial de causar mal, pois há poucas evidências científicas e descrições na literatura sobre o efeito de combinações”, alerta.
Vale frisar que o uso de plantas medicinais sem a devida orientação de profissional de saúde pode agravar quadros clínicos. “Por exemplo: um paciente que tem esteatose hepática (gordura no fígado) e toma um chá que apresenta toxicidade para o órgão, apresenta maiores chances de desenvolver uma lesão. Outro exemplo são as plantas medicinais laxantes, cujo uso contínuo pode causar predisposição para o câncer por ser um irritante intestinal”, frisa.
Questionado sobre o motivo de esses remédios naturais serem vendidos livremente, o profissional aponta que, muitas vezes, sua venda ocorre de maneira irregular, sendo registrados em outras categorias, a exemplo de "alimentos". “É importante destacar que muitos anúncios são ilegais porque afirmam que os produtos possuem uma função terapêutica que não possuem, além de apresentarem substâncias proibidas. Não podemos esquecer que, infelizmente, na internet, são vendidos livremente muitos produtos proibidos pela Anvisa”, finalizou o farmacêutico Carlos Adriano.