O foco atual da pesquisa envolve a planta denominada de Barbatimão, bastante conhecida no Nordeste

Há mais de 10 anos, a pesquisadora Juliana Cardoso estuda membranas bioativas utilizadas no tratamento e cura de feridas. O foco atual da pesquisa envolve a planta denominada de Barbatimão, bastante conhecida no Nordeste.

No mundo, uma em cada 11 pessoas com idade entre 20 e 79 anos tem diabetes. Estima-se que até 2045 o número de indivíduos diagnosticados com a doença alcance 700 milhões. Se comparado ao ano passado, as perspectivas de aumento de diagnóstico chegam a 51%. Os dados são da Federação Internacional de Diabetes – IDF.

Os números também são alarmantes no Brasil. O país é o 5º do mundo e o maior da América Latina com pessoas diagnosticadas, segundo a IDF em 2019, possuindo 16,8 milhões – 1 em cada 9 pessoas – de diabéticos. Metade desconhece o diagnóstico.

O aumento de casos do diabetes está relacionado, entre outras causas, ao sedentarismo, excesso de peso e estilo de vida. Em um ranking divulgado pela Sociedade Brasileira de Diabetes, entre as doenças que mais matam no país – doenças crônicas não transmissíveis, causas externas e doenças transmissíveis, maternas, neonatais e nutricionais – a patologia, junto com as doenças do rim, subiu de 11º lugar em 1990 para a 3ª colocação em 2017, ficando atrás apenas das doenças cardiovasculares e das neoplasias.

Entre as principais complicações causadas pelo Diabetes está o Pé Diabético que são lesões e úlceras causadas pela dificuldade de vascularização. “O Diabetes é uma doença extremamente complexa. Devido às inúmeras complicações impostas pela doença, os pacientes ficam mais suscetíveis às lesões. Por causa do metabolismo alterado, há uma dificuldade maior de oxigenação local causando problemas na cicatrização”, explica a pesquisadora do Instituto de Tecnologia e Pesquisa, Dra. Juliana Cordeiro Cardoso.

Docente da Universidade Tiradentes e da Pós-graduação em Saúde e Ambiente da instituição de ensino, Juliana é farmacêutica, com Pós-doutorado em Engenharia de Tecidos e Biomateriais na Universidade de Harvard em parceria com o MIT, e possui grande experiência na caracterização e utilização de polímeros e produtos naturais. Há mais de 10 anos, a pesquisadora estuda membranas bioativas utilizadas no tratamento e cura de feridas.

“Por atuar em um programa de mestrado e doutorado interdisciplinar, enquanto pesquisadores, verificamos o mesmo problema sob vários ângulos. A ideia do projeto inicia com a possibilidade de estudar e utilizar a nossa rica biodiversidade, tanto no estado quanto no Brasil, e dos produtos serem ricos em substâncias ativas capazes de cicatrização. Já trabalhamos com Própolis, Romã, mangaba, entre outros produtos”, destaca Juliana.

A partir dos bons resultados obtidos com as diversas pesquisas, o grupo de cientistas iniciou novos estudos. Desta vez, o foco atual da pesquisa envolve a planta denominada de Barbatimão, bastante conhecida no Nordeste. “Nesta pesquisa, iniciamos entendendo o que a população de forma geral utiliza para curar os seus ferimentos, o chamado uso popular. Com base nisso, realizamos a comprovação científica, como funciona, quais as substâncias e qual o mecanismo de ação”, salienta.

“Sabemos que uma ferida em um paciente saudável fecha sozinha, apenas cuidamos do ferimento para não infeccionar. Optamos por trabalhar com pacientes diabéticos, pois buscamos um nicho onde o paciente tem problema para cicatrização”, acrescenta a pesquisadora.

O produto é desenvolvido a partir da extração de substâncias da casca do barbatimão. “As catequinas, substâncias presentes no Barbatimão, são capazes de formar novos vasos e ajuda a trazer o oxigênio para a nutrição celular e renovação do tecido. Acreditamos que o mecanismo de ação seja a diminuição da infecção, diminuição dos efeitos inflamatórios e a melhora da vascularização local”, assegura.

Fomento

Devido à importância do projeto desenvolvido, a pesquisa recebeu um importante incentivo a partir da aprovação do projeto no Programa de Pesquisa para o Sistema Único de saúde (PPSUS), financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe – Fapitec/SE. No início era realizada apenas em feridas abertas e queimaduras, em fase experimental e estudo pré-clínico (em ratos), e passou para o ensaio clínico a ser realizada em seres humanos.

“Uma grande parte das fórmulas farmacêuticas que estão disponíveis no mercado estão na forma de cremes e géis. Com isso, pensamos em desenvolver uma membrana com a dose adequada. Além de tudo, esta membrana a base de colágeno é biocompatível e não causa rejeição. Ela é bioabsorvível, ou seja, o nosso próprio organismo tem enzimas que absorvem esta membrana e libera o fármaco. A ferida deve possuir o leito úmido e, cada 24 horas, colocamos uma nova dose até a cicatrização do ferimento”, enfatiza a farmacêutica.

“A membrana tem ação anti-inflamatória, diminuindo o edema, ação antioxidante, agindo inativando os radicais livres que podem ser danosos para os tecidos adjacentes e atividade antimicrobiana, evitando a contaminação”, garante.

Além disso, o projeto tem parcerias com outras agências de fomento como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. “São importantes parceiros que ajudam a propiciar bolsas aos nossos recursos humanos, insumos para aquisição de produtos para testes, entre outros investimentos”, frisa Juliana.

Parceiros

Desde o início do projeto, a pesquisa conta a parceria da Universidade Estadual de Maringá – UEM – por meio do pesquisador Dr. João Carlos Palazzo de Mello, estudioso do Barbatimão há 20 anos.

“Foi o nosso parceiro inicial. Através do pesquisador foi detectado que existiam duas plantas diferentes com o mesmo nome popular. Então, o laboratório Dr. Palazzo ficou responsável pela produção do extrato e identificação das substâncias presentes em cada planta. Nós complementamos com o desenvolvimento do produto (membrana bioativa) e ensaio pré-clínico, com pesquisadores da UNIT e do ITP, a exemplo do Prof. Dr. Ricardo Albuquerque”, ressalta a pesquisadora.

Além da instituição de ensino, a Universidade de São Paulo – USP – de Ribeirão Preto também participa do projeto através da mobilidade realizada entre os pesquisadores. “A Escola de Enfermagem da USP tem um programa de Pós-graduação nota 7, de excelência no país, e vai auxiliar no ensaio multicêntrico e na educação em Saúde”, afirma.

Profa. Dra. Rosalina Partezani Rodrigues e Profa. Dra. Soraia Rabeh, juntamente com a equipe da UNIT e UEM recebem apoio da Fapitec por meio do Programa de Estímulo a Mobilidade e ao Aumento da Cooperação Acadêmica da Pós-Graduação em Sergipe financiado pelo Edital CAPES/FAPITEC/SE N° 10/2016.

“Outro parceiro muito importante é a Prefeitura Municipal de Aracaju, por meio da Secretaria Municipal de Saúde pois é a infraestrutura onde vamos encontrar esse paciente para ser atendido, tratando o paciente sergipano com o devido respeito”, finaliza a pesquisadora.

O próximo passo pode ser a implantação de um Centro de Excelência no tratamento de Feridas para o estado de Sergipe.

 Assessoria de Comunicação