Expectativas, planos e sonhos projetados para o ano de 2020 foram abruptamente suspensos com a chegada de um inimigo invisível a olhos nus. Um vírus que obrigou a utilizar, como estratégia de proteção, o isolamento/distanciamento social, culminando em impactos econômicos, sociais, políticos e, especialmente, na saúde mental da população. As escolas, por sua vez, foram uma das primeiras instituições a suspenderem as atividades presenciais, deixando estudantes, professores, gestores, pais e/ou responsáveis mergulhados em sentimentos de incerteza, medo e frustração. Como será o ano letivo? Meu filho conseguirá aprender?  Como ministrar conteúdos frente a esse novo desafio? Estas e outras indagações fizeram-se presentes na comunidade escolar.

“De um dia para o outro (leia-se: sem preparação ou qualquer treinamento), professores tornaram-se “youtubers”, e suas casas, salas de aula. Pais assumiram o papel de docentes dos filhos, convertendo lares em espaços pedagógicos formais.  Novos tempos que exigem novos comportamentos”, disse a psicóloga Milena Aragão, Mestre e Doutora em Educação, membro do GT de Psicologia Escolar, do Conselho Regional de Psicologia de Sergipe- CRP19.

Em decorrência de preocupações referentes ao desempenho e resultados escolares, a pressão sobre estudantes e professores aumentou sensivelmente, gerando alta carga de estresse, a qual acarreta sintomas como doenças gastrointestinais, cardiovasculares, respiratórias, dermatológicas e imunológicas, além de consequências psíquicas, tais como ansiedade e depressão. De acordo com a psicóloga, o sentimento de ansiedade é uma resposta natural do ser humano a alguns fatores, contudo, quando exacerbado, pode causar prejuízos ao indivíduo, gerando transtornos. “A diferença entre medo e ansiedade reside no fato de que o primeiro é a resposta emocional a ameaça iminente real ou percebida, enquanto ansiedade é a antecipação de ameaça futura. Trata-se de uma preocupação excessiva que causa um desconforto desproporcional em decorrência da antecipação de algumas situações”, falou.

Estudantes com transtornos de ansiedade, geralmente, apresentam dificuldade de concentração e assimilação de informações, o que acarreta numa aprendizagem pouco satisfatória. Como decorrência, a baixa autoestima faz-se presente, gerando comportamentos de fuga e evitação, muitas vezes percebido pelos adultos como rebeldia, o que dificulta a busca por ajuda. “Importante salientar que os adolescentes são mais sensíveis ao estresse, tanto psíquica, quanto fisicamente, pois o hormônio THP (tetraidropregnenolona), habitualmente liberado em resposta ao estresse para reduzir a ansiedade, tem efeito inverso nos jovens, aumentando-a. Assim, quanto mais eventos geradores de estresse o adolescente vivencia, mais ansioso ele fica, ao contrário do adulto, em quem o mesmo hormônio tem efeito tranquilizante. Em crianças, são comuns sintomas como dores de cabeça, náuseas, vômitos, falta de ar, diarreia, dificuldade de concentração, agressividade, sono desregulado ou medos em excesso”, revela.

Milena alerta ainda que pessoas com alto grau de ansiedade correm mais risco de desenvolver depressão. “Transtorno mental cujos sintomas envolvem perda de prazer por atividades rotineiras, as quais normalmente seriam prazerosas. Além disso, há sentimentos de angústia, perda de energia, mudanças no apetite, aumento ou redução do sono, dificuldade de concentração, atenção, memória e tomada de decisões, baixa autoestima, culpa, desesperança, podendo haver automutilação e pensamentos suicidas.  Diferentemente da tristeza, a depressão necessita de apoio especializado”, alerta.

Prevenção

A Prof. Dra.  Milena Aragão aponta que estudantes e docentes com depressão ou ansiedade apresentam baixo rendimento em suas atividades, sejam escolares ou profissionais e precisam de ajuda. Por esse motivo é importante também, o investimento na prevenção e isso conduz a uma reflexão sobre o momento em que estamos vivendo, o qual se apresenta como um período atípico, de muitas mudanças e incertezas. “Todos estão exaustos, com medo, será que a cobrança por desempenho e resultados é um bom caminho? Será que exigir que estudantes e professores ajam como se nada estivesse ocorrendo é positivo para a saúde mental? Há grande pressão nos docentes e nos alunos para que o processo de ensino e aprendizagem “dê certo”, sem levar em consideração as transformações vivenciadas. O momento presente convida-nos a refletir sobre auto cobrança, estresse, pressão, e, fundamentalmente, educação emocional. É momento de escuta, acolhimento, falar sobre sentimentos, fomentar o autoconhecimento. Período importante para cuidar de si e do outro. Vale à pena prejudicar a saúde mental em detrimento da produtividade? Essa é uma pergunta endereçada a toda comunidade escolar”, enfatiza.

Segundo a psicóloga, o isolamento/distanciamento social sugere um exame de como anda a saúde mental e nos questiona sobre o que estamos fazendo para cuidar dela. “Costuma falar sobre o que sente? Possui rede de apoio? Mantém uma rotina que inclua tempo de descanso, lazer, exercícios e relaxamento? Consegue reconhecer em si quando é a hora de buscar ajuda especializada? Estes são caminhos preciosos, mas que só se efetuarão se aceitarmos que estamos vivendo um período de mudanças geradoras de estresse e, portanto, é fundamental sermos respeitosos conosco e com o outro. A pressão não é boa aliada. É momento de apoio e empatia, afinal, técnicas de estudo e trabalho só são eficazes se o emocional está bem”, finaliza.

Fonte: Assessoria de Imprensa/CRP