Acostumado a confrontos institucionais, o presidente Jair Bolsonaro (PL) adotou hoje tom moderado ao falar das eleições de 2022 e fez um elogio ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e ex-chefe do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Luis Roberto Barroso —a quem já acusou de "ter candidato" e, sem provas, de favorecer o principal adversário no pleito, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Quero cumprimentar aqui o ministro Luis Barroso, que enquanto presidente do TSE convidou as Forças Armadas, repito, convidou as Forças Armadas, a participar de todo o processo eleitoral. O que o povo quer é paz, tranquilidade, é trabalho. É poder viver em harmonia e trabalhar para que seu país de verdade seja uma grande nação", afirmou Jair Bolsonaro.
O tom pacífico adotado por Bolsonaro hoje contrasta com o longo histórico de gestos do presidente com o intuito de questionar a segurança do sistema eleitoral no país e contestar a legitimidade e a confiabilidade do voto eletrônico.
Recentemente, o pré-candidato à reeleição chegou a afirmar que, caso seja derrotado por Lula nas urnas, em outubro, isso só ocorreria por ocasião de uma fraude. No ano passado, Bolsonaro liderou um movimento em favor do que ficou conhecido como projeto do voto impresso —a proposição, no entanto, foi derrotada no Congresso.
Na esteira dos ataques ao sistema eleitoral, Bolsonaro também não poupou críticas e palavras agressivas contra ministros do STF e do TSE, em referências diretas a Barroso (ex-presidente do Tribunal), Edson Fachin (o atual) e Alexandre de Moraes (o próximo). Na versão do governante, o trio seria responsável por uma tentativa de "roubar a liberdade" dos brasileiros.
As declarações de hoje ocorreram na solenidade realizada em comemoração do Dia do Exército, em Brasília.
Bolsonaro também enalteceu o papel das instituições militares na defesa da democracia e da "liberdade". Afirmou ainda que "a alma da democracia repousa na tranquilidade e na transparência do sistema eleitoral".
"Sistema esse que deve ser cada vez mais zelado por todos nós. E quem dá o norte para nós são as urnas. Que ali fazem surgir não só o presidente da República, bem como a composição do nosso Parlamento brasileiro. Não podemos jamais ter eleições no Brasil que sobre ela paire o manto da suspeição [sic]. E esse compromisso é de todos nós. Presidente dos Poderes, comandantes de Forças, aqui, obviamente... Direcionado ao trabalho do senhor ministro da Defesa. Todos nós somos importantes. Todos nós somos agentes desse processo."
Tenho certeza que as eleições do corrente ano seguirão o seu ritmo normalJair Bolsonaro
Se, por um lado, Bolsonaro adotou um perfil ponderado do qual não está acostumado, por outro, o presidente voltou a usar uma de suas frases de efeito mais recorrentes para provocar membros da Corte.
"Nós todos um dia, militares, juramos dar a vida pela pátria se preciso for. E todos nós, povo brasileiro, faremos mais do que isso para garantir a nossa liberdade e para garantir que todos, sem exceção, joguem dentro das quatro linhas da nossa Constituição."
As "quatro linhas da Constituição" é uma figura de linguagem comumente utilizada pelo chefe do Executivo federal para criticar decisões de ministros da Corte, que, de acordo com o seu entendimento, extrapolariam os limites impostos pela Carta Magna em episódios como o inquérito das fake news e a prisão do deputado federal bolsonarista Daniel Silveira (PTB-RJ).
General Villas Boas
Bolsonaro declarou que o ex-comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, "marcou a história" pela atuação durante o processo que culminou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.
"Também agora em 2016. Em mais outro momento difícil da nossa nação, a participação do então comandante do Exército, Villas Boas, marcou a nossa história."
O presidente disse que, "quando se fala em Exército brasileiro", "vem à nossa mente todos os momentos difíceis que a nossa nação atravessou". O político incluiu entre os eventos históricos que reforçariam a relevância das Forças Armadas o golpe militar de 1964, que instalou a ditadura no país.
"Quando se fala em Exército brasileiro, vem à nossa mente que em todos os momentos difíceis que a nossa nação atravessou as Forças Armadas, o nosso Exército, sempre esteve presente. Assim foi em 22, em 35, em 64 e em 86, com a transição... Com a participação ativa do então ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves, a transição foi feita com os militares, e não contra os militares."
Fonte: UOL