O projeto liderado por pesquisadores da Unit usa energia solar para produzir hidrogênio verde e degradar microplásticos; estudo foi o único de Sergipe a ser aprovado em um edital nacional do CNPq
Uma pesquisa científica que está em andamento na Universidade Tiradentes (Unit) vem ganhando destaque nacional, por seu potencial de inovação e aplicação em áreas como agricultura familiar. Ele busca desenvolvimento de um sistema de produção de hidrogênio verde e remoção simultânea de poluentes. O estudo liderado pela professora Katlin Ivon Barrios Eguiluz, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos (PEP/Unit), acaba de ser aprovado em um dos mais difíceis e concorridos editais de financiamento de pesquisas do Brasil: a Chamada Universal 2024, promovida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O projeto, inscrito junto ao comitê da área de Engenharia Química da chamada do CNPq, foi aprovado com a nota 9,95, ficando em quarto lugar na classificação nacional geral da área, que teve 30 projetos recomendados. Dentro dos chamados Grupos Consolidados (B), formados por pelo menos cinco doutores de duas instituições nacionais diferentes, ela ficou na terceira posição. E dentre todos os projetos de Sergipe que concorreram no edital, ela foi a única aprovada.
A pesquisa tem o objetivo de construir e validar um sistema integrado capaz de produzir hidrogênio verde (via eletrólise) enquanto degrada microplásticos na água, preferencialmente com energia solar. De acordo com Katlin, ele envolve o uso de catalisadores de baixo custo (cobalto, níquel, ferro e molibdênio) suportados em biocarvão e espumas metálicas; além de ânodos ativos para oxidação de microplásticos e um reator eletroquímico de dois compartimentos com membrana de troca de prótons.
“A eletrooxidação de plásticos pode mineralizar compostos orgânicos (até CO₂ e água) sem reagentes adicionais, enquanto o hidrogênio é coletado no cátodo, abordagem que ataca simultaneamente emissões e resíduos. O projeto aposta em catalisadores baseados em metais não nobres suportados em biocarvão/espumas metálicas, reduzindo custos frente a metais nobres e mantendo desempenho e durabilidade, o qual é um caminho mais competitivo para eletrólise alcalina e escalonamento industrial. A inovação é integrar, no mesmo reator de dois compartimentos separados por membrana, a produção de H₂ e a remoção de microplásticos, monitorando variáveis (corrente, pH, temperatura) e operando com placas fotovoltaicas”, explica a professora.
Para a pesquisadora, um dos fatores que podem ter sido determinantes para a escolha do projeto no Edital Universal foi o alinhamento de seu objetivo com políticas públicas relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em questões como água, energia sustentável, produção responsável e clima, e com a agenda nacional de hidrogênio. Além de integrar ações de extensão em tratamento de água para agricultura familiar, ampliando o seu impacto social direto, o estudo também participa de estratégias regionais de ciência, tecnologia e inovação (CT&I), como a Rede de Hidrogênio de Minas Gerais e a Rede Mineira para Valorização de Resíduos (ReMIVaR).
Outros fatores destacados são a qualidade e experiência da equipe de pesquisadores e a combinação inédita na proposta entre produção de hidrogênio verde e degradação de microplásticos, com materiais de custo acessível e operação por energia renovável. Há ainda o interesse formal da empresa Qair Brasil, especializada em energia renovável, eólica e solar, em apoiar o projeto, o que abre possibilidades para a transferência de tecnologias.
A meta é projetar, construir, testar e otimizar um protótipo em escala de laboratório ao longo dos próximos três anos. Parte de seus trabalhos realizados serão, realizados no PEP/Unit e no Laboratório de Eletroquímica e Nanotecnologia (LEN), do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), com apoio das universidades federais de Sergipe (UFS) e de Viçosa (UFV/MG), além da Universidad de Castilla-La Mancha (UCLM), na Espanha. Além da professora Katlin Eguiluz, a equipe de pesquisadores é composta pelos professores Giancarlo Salazar Banda (Unit), André Luis Dantas Ramos (UFS); Tiago Almeida Silva (UFV) e Cristina Sáez Jiménez (UCLM), além da pós-doutoranda Ivani Meneses Costa (ITP) e das alunas de pós-graduação Déboralys Ferreira Passos, Maria Luzinete Rocha dos Santos e Vanessa Barauna Santos (PEP/Unit).
Edital competitivo
A Chamada Universal do CNPq é realizada desde 2001 e tem o objetivo de selecionar e financiar projetos com potencial de contribuir para o desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação do país, em todas as áreas do conhecimento e contemplando instituições de todas as regiões brasileiras. Para a edição deste ano, de um total de 8.264 projetos inscritos, 2.063 foram aprovados e receberão um investimento total de R$ 450 milhões do CNPq e do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), com reserva mínima de 30% dos recursos para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Este edital é subdividido em faixas e áreas de conhecimento, mas abrange um amplo universo de pesquisas científicas, tecnológicas e de inovação. É considerado altamente competitivo, pois muitos projetos de pesquisas não conseguem ser aprovados na Chamada em razão de uma diferença mínima nas notas, mesmo atendendo todos os já rigorosos requisitos científicos.
“Na área que a professora Katlin segue, ela teve uma das melhores pontuações do país. Isso não significa dizer que os outros pesquisadores, inclusive aqui da Unit e do ITP, não tenham conseguido uma pontuação muito alta. Eles também conseguiram, mas a peneira foi tão grande que teve gente com pontuação acima de 9,5 que não conseguiu emplacar seus projetos, porque a competitividade no país é muito grande”, detalha o diretor acadêmico da Unit, professor Marcos Wandir Nery Lobão.
“A conquista da professora Katlin no edital Universal do CNPq é motivo de grande orgulho para a Unit, ITP e para todo o nosso ecossistema de pesquisa. Estar entre as primeiras colocações nacionais em Engenharia Química demonstra a qualidade e a relevância da produção científica desenvolvida em nossa instituição e reforça o compromisso da Unit com a excelência acadêmica e a inovação”, ressalta a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa da Unit, professora Patrícia Severino.
Autor: Gabriel Damásio
Fonte: Asscom Unit