Durante o Sergipe Oil & Gas, especialistas destacaram a falta de profissionais jovens e reforçam a necessidade de adaptação das instituições de ensino às novas demandas tecnológicas e culturais do mercado.

A formação de uma mão-de-obra jovem e qualificada, que atenda às necessidades da cadeia produtiva de petróleo, gás e energia, vai exigir uma maior flexibilização e capacidade de adaptação das empresas, universidades e centros técnicos de ensino, que devem acompanhar os avanços tecnológicos e os anseios profissionais das novas gerações. Esse foi um dos assuntos debatidos durante o congresso realizado no Sergipe Oil & Gas 2025 (SOG 2025), concluído recentemente em Aracaju. Na ocasião, representantes da Universidade Tiradentes (Unit), da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e da Petrobras analisaram o panorama atual do mercado relacionado ao setor, que enfrenta uma situação de falta de mão-de-obra em Sergipe e no Brasil.

As demandas deste mercado se desenham a partir dos diversos investimentos que estão previstos para a revitalização da cadeia de petróleo e gás no Estado. Só a Petrobras está investindo R$ 9 bilhões para descomissionar (desativar e desmontar), 26 plataformas marítimas fixas instaladas no litoral do Estado desde o início da década de 1970, que já atingiram o máximo da sua capacidade de exploração. Outros R$ 32 bilhões devem ser investidos no estado pelas empresas do setor e pela própria estatal, através do projeto Sergipe Águas Profundas (Seap), que prevê a produção de 240 mil barris de petróleo e 18 milhões de metros cúbicos de gás por dia, a partir de 2029.

“O principal desafio é o apagão de mão-de-obra que acontece no Brasil na área industrial, principalmente na área do petróleo. Você pode olhar nesse evento que não tem ninguém de 21 anos, nem a geração Z está aqui. E o nosso desafio é tentar convencer o jovem a entrar no mundo do petróleo, se capacitar com a gente e adentrar nessa cadeia produtiva que é extremamente rica”, avalia o professor Artur André Martinez Campos, coordenador do Centro de Formação Profissional (CFP), criado recentemente pela Unit. 

Para o presidente do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), Paulo do Eirado Dias Filho, tais desafios devem ser superados com compreensão dos anseios profissionais da juventude e adaptações à realidade, o que inclui acompanhar o avanço de recursos e tecnologias como inteligência artificial (IA) e internet das coisas (IoT).

“É necessário haver um grande diálogo e uma reformulação geral, tanto na formação como também de entender esse momento cultural do jovem de hoje, esse nativo digital, e suas expectativas com relação ao trabalho. Da universidade, isso vai exigir uma flexibilidade maior no relacionamento com currículos, com o próprio aluno, trazer a dinâmica do fazer para uma presença maior dentro do modelo acadêmico. Além disso, as próprias indústrias também se adaptarem para esse novo perfil de recursos humanos que é ingressante. O cenário impõe uma flexibilização da formação acadêmica e também cursos que atendam diretamente à necessidade da empresa”, analisa Eirado. 

O debate sobre o assunto no SOG 2025 também teve a participação do professor Gabriel Francisco da Silva, do Núcleo de Engenharia de Petróleo da UFS (Nupetro), e do técnico de segurança Luiz Alberto Pereira dos Santos, representante da Petrobras, que também tem experiência como professor e pedagogo. Ambos também concluem que o atual ambiente do mercado de trabalho no setor de petróleo e gás exige que os colaboradores, estudantes e professores estejam preparados para um ambiente dinâmico e desafiador, cada vez mais movido por mudanças rápidas, como a digitalização de processos, a adoção da inteligência artificial e a importância das práticas de ESG (Ambiental, Social e Governança). 

Novo centro

Durante o evento, os professores das universidades apresentaram as iniciativas de suas respectivas instituições para formar e qualificar profissionais e estudantes em parceria com as empresas. Uma delas foi o CFP, criado recentemente pela Unit em parceria com a consultoria BrainMarket. A partir da estrutura já disponível no Ecossistema Tiradentes, formado pela Unit com o ITP, o Tiradentes Innovation Center (TIC) e o futuro Tiradentes TechPark (TTP), o centro vai elaborar e ministrar cursos profissionalizantes e capacitações empresariais voltadas à produção de petróleo em águas ultraprofundas, a projetos de gás natural e às novas tecnologias voltadas à descarbonização.

Entre as soluções desenvolvidas pelo CFP da Unit, está o Qualipro, um programa de qualificação profissional que trabalha tanto na capacitação básica, para ajudantes, auxiliares, aprendizes e iniciantes, como no aprimoramento de profissionais das empresas que já tenham formação. São programas e cursos sob demanda, de curto prazo e customizados conforme as necessidades e realidades de cada empresa ou instituição parceira. “O centro responde a esses desafios, pois ouve a dor da empresa. Por exemplo: se a empresa precisa de seis soldadores MIG, a gente faz um curso de solda MIG e tenta suprir essas vagas que o mercado tem. O Qualipro recebe as demandas da empresa e atende em curto prazo, onde ela quiser”, detalha o coordenador.

A Unit e o Grupo Tiradentes disponibilizaram ainda dois estandes na Feira de Negócios do SOG 2025. Um deles apresentou o Ecossistema Tiradentes e suas instituições integrantes, além das soluções e iniciativas de pesquisa, ensino e inovação voltadas ao setor de óleo, gás e energia. O outro foi dedicado ao Tiradentes TechPark (TTP), formado pelo Grupo Tiradentes em parceria com a Agência Sergipe de Desenvolvimento (Desenvolve-SE) e o Instituto Euvaldo Lodi (IEL/SE). Ele está em fase de implantação no Campus Farolândia, mas já conta com diversas startups incubadas ou em desenvolvimento. 

“Tivemos alunos e principalmente empresas querendo fazer conexões com as startups e também querendo tirar dúvidas sobre as possibilidades de interação. Graças a essas startups, mas também ao potencial do Grupo Tiradentes, nós temos muitas oportunidades de conexão. Tem empresas que querem se repatriar para Sergipe, tem empresas que estão vislumbrando as oportunidades que o Seap (Projeto Sergipe Águas Profundas) vai trazer, que estão buscando oportunidade de infraestrutura, inclusive para se instalar, e principalmente algumas startups que estão buscando possibilidades por aqui”, considera o presidente do Tiradentes TechPark, professor Denison Salustiano. 

Fonte: Gabriel Damásio

Autor: Asscom Unit