Na tarde de quinta-feira (20), aconteceu, no plenário da Câmara Municipal de Aracaju (CMA), a sessão especial ‘49 Anos da Operação Cajueiro’, que foi a maior ação repressiva da Ditadura Militar em Sergipe, com o objetivo de desarticular a reorganização do Partido Comunista Brasileiro. A operação reprimiu de forma brutal e torturou militantes políticos, sendo 25 presos e 18 processados.

A sessão especial foi idealizada pela vereadora professora Sonia Meire (PSOL) em colaboração com o ex-preso político da Ditadura Militar, Marcélio Bonfim, e somaram-se à convocação os mandatos dos vereadores Iran Barbosa (PSOL) e Camilo Daniel (PT). A mesa teve a participação da professora do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, Andreia Depieri, da ex- deputada professora Ana Lúcia, do dirigente da CUT professor Dudu, do ex governador Jackson Barreto e do vereador Elber Batalha (PSB). Vítimas e familiares do regime da ditadura, além de lideranças, participaram da sessão.

Sonia Meire destacou que estava emocionada em poder realizar esta sessão. “A primeira sessão especial do ano, no espaço do legislativo, onde nós temos tido configurações cada vez mais difíceis de convivência na defesa da democracia, e ela ser marcada pela luta, na garantia dos direitos, pela liberdade, pela justiça social, não tinha como ser uma sessão qualquer. Na conjuntura que estamos vivendo, com a nossa frágil democracia sendo atentada, é preciso punir os que a atentam. Estivemos reunidos afirmando que não iremos aceitar anistia aos golpistas e que queremos punição e prisão para todos que atentem contra as nossas vidas. Agradeço a todos que têm ligação com aqueles que deram a sua vida para defender a nossa existência e a soberania do nosso país”, disse a vereadora.

O ex-preso político da Ditadura Militar, Marcélio Bonfim, ocupou a tribuna da Câmara destacando que estava vivo graças a grandes amigos jornalistas que denunciaram a Operação Cajueiro, através de releases para jornais de outros estados do país, burlando a censura. “É emocionante olhar para esses companheiros e para os seus filhos. Companheiros que me ensinaram a amar , a  lutar pela liberdade e pela democracia. Eu sou um sobrevivente e estou vivo por causa da coragem de gente como eles, que fizeram o impossível, burlando a censura”, disse ele.

A professora do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, Andreia Depieri, integrante da Comissão Estadual da Verdade, que recebeu o nome do jornalista Paulo Barbosa de Araújo, um dos responsáveis por vazar que as pessoas estavam desaparecendo, junto com Milton Alves, destacou a importância dessas pessoas. “Esse vazamento foi essencial para que a vida desses presos fosse preservada. O envio do inquérito, para que eles fossem processados, fez com quem eles ficassem vivos. Nós, na comissão, pesquisamos e conseguimos fazer um acervo documental ,que hoje está no Arquivo Público de Sergipe, e tivemos oitivas, em que eu tive a oportunidade de conhecer vítimas diretas e também seus filhos”, destacou a professora.

A professora Ana Lúcia, ex deputada estadual, destacou que toda ditadura tem uma pedagogia do medo fortíssima e que permeia se utilizando da tortura. Parabenizou o companheiro Marcélio Bonfim e destacou a importância da utilização de  espaços políticos ou não para retomar a história e fazer com que ela não seja esquecida.

Sonia Meire finalizou dizendo que a contribuição de todas e todos que participaram da sessão é fundamental no processo de construção da memória histórica. “Precisamos lutar pela publicação do relatório da Comissão da Verdade, para que ele possa ser acessado nas bibliotecas, nas escolas públicas, porque, só assim, conseguiremos dar passos para frente. É o mínimo que podemos fazer pelas pessoas e por suas famílias, que não saíram ilesas deste processo. A conjuntura não está fácil, e esse momento foi um momento de fortalecimento. Precisamos avançar, olhando para o passado com um pé no presente, pela construção de uma frente de esquerda antifascista”.