Apesar de fundamentais para o corpo, vitaminas em excesso podem gerar intoxicação e comprometer fígado, rins, metabolismo e coagulação sanguínea

As vitaminas são peças essenciais para o equilíbrio do organismo. Elas participam de processos metabólicos, regulam hormônios, fortalecem o sistema imunológico e garantem a manutenção de funções vitais. Parte delas é sintetizada pelo próprio corpo, enquanto outras precisam ser obtidas pela dieta.

Quando a alimentação não supre as necessidades, a suplementação pode ser indicada, desde que acompanhada por um profissional. Entretanto, em um contexto marcado pela popularidade dos polivitamínicos e pela busca constante por mais energia, imunidade e desempenho, o consumo exagerado tem se tornado uma preocupação crescente. Ao ultrapassar os limites seguros, essas substâncias deixam de proteger e passam a causar danos, quadro conhecido como hipervitaminose.

O que é e por que a hipervitaminose preocupa

A hipervitaminose ocorre quando há acúmulo excessivo de vitaminas no organismo, geralmente associado ao uso indiscriminado de suplementos. Embora pareça algo sem grandes consequências, esse exagero pode levar à intoxicação e provocar prejuízos importantes à saúde.

Segundo o endocrinologista e professor do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit), Leonardo Figueiredo Inácio de Souza, o risco reside sobretudo na crença equivocada de que “vitamina nunca faz mal”. “Essa ideia leva muita gente a consumir doses muito acima do recomendado, acreditando em ganhos rápidos para a saúde. Na prática, o efeito pode ser o oposto: o excesso traz riscos severos, podendo afetar de forma irreversível órgãos como fígado e rins e comprometer funções metabólicas”, afirma.

Ele destaca ainda que o perigo é maior entre vitaminas lipossolúveis, que são armazenadas no tecido adiposo e não são eliminadas pela urina. “Com o tempo, esse acúmulo pode provocar intoxicação e gerar problemas clínicos que muitas vezes não são relacionados de imediato ao consumo de suplementos”, observa.

Vitaminas mais associadas à intoxicação

Os casos mais frequentes de hipervitaminose envolvem as vitaminas A, D, E e K. Por serem lipossolúveis, permanecem por longos períodos no corpo, aumentando o risco de toxicidade.

Leonardo explica que o excesso de vitamina A pode afetar fígado, pele e visão. Já a vitamina D, bastante utilizada para “reforçar a imunidade”, pode elevar perigosamente os níveis de cálcio no sangue e nos rins. “Esse quadro favorece o surgimento de pedras nos rins e pode levar à insuficiência renal”, pontua. As vitaminas E e K, por sua vez, têm maior impacto sobre a coagulação sanguínea, podendo provocar desequilíbrios graves.

As vitaminas hidrossolúveis, como vitamina C e o complexo B, tendem a ser eliminadas pela urina, oferecendo menor risco. Ainda assim, o endocrinologista destaca que o consumo excessivo e prolongado pode desencadear efeitos colaterais, como distúrbios gastrointestinais.

Sintomas e sinais de alerta

Reconhecer a hipervitaminose pode ser difícil, já que seus sintomas podem se assemelhar aos de outras doenças. Entre os sinais citados pelo professor estão náuseas, dores de cabeça, tontura, cansaço, irritabilidade e alterações na pele, como ressecamento, descamação ou manchas. “Em muitos casos, o paciente não relaciona esses sintomas ao uso de suplementos, pois acredita que eles só trazem benefícios”, comenta.

Quando há exposição prolongada a doses elevadas, os efeitos podem se agravar. Surgem então dores ósseas e articulares, alterações renais, problemas cardíacos e confusão mental, podendo evoluir para quadros irreversíveis. Em situações extremas, há risco de dano hepático e neurológico. “Esse é o grande perigo da hipervitaminose: o início silencioso e a possibilidade de evolução para complicações sérias”, alerta Leonardo.

Suplementação sem orientação

O uso sem supervisão é o principal fator relacionado aos casos de hipervitaminose. A ampla oferta de suplementos com altas concentrações vitamínicas, disponíveis sem receita, faz com que muitas pessoas consumam esses produtos sem indicação correta. “Há cápsulas com quantidades muito superiores às recomendações diárias. Somadas a uma alimentação variada, o organismo passa a receber mais vitaminas do que consegue processar”, explica.

Leonardo destaca ainda que a busca por prevenção ou fortalecimento da imunidade pode levar a escolhas inadequadas. Ele ressalta que o uso de suplementos deve seguir critérios clínicos e não ser guiado por tendências ou influenciadores. “A crença de que tomar vitaminas ‘por via das dúvidas’ é benéfico é equivocada. É uma prática comum, mas perigosa”, reforça.

Quando a suplementação é indicada

O endocrinologista esclarece que suplementar não é um problema em si. Há situações em que o uso é essencial, como na gestação, amamentação, após cirurgias bariátricas, em doenças intestinais crônicas ou em casos de deficiência identificada por exames. Em idosos, a suplementação também pode ser necessária devido a dificuldades de absorção.

Para a maior parte das pessoas saudáveis, entretanto, uma dieta equilibrada é suficiente. “A avaliação médica ou nutricional é fundamental para identificar deficiências e definir a dose necessária”, afirma. Ele lembra que cada organismo tem necessidades específicas e que o uso deve ser personalizado.

O consumo prolongado e em excesso pode gerar danos permanentes. A vitamina A, por exemplo, pode provocar cirrose hepática, queda de cabelo e alterações ósseas. A vitamina D pode causar calcificação tecidual, formação de cálculos e insuficiência renal. Já a vitamina E, além de sobrecarregar o corpo, aumenta o risco de sangramentos internos.

O docente ressalta que, em muitos casos, a hipervitaminose começa com a intenção de melhorar a saúde, mas pode resultar em hospitalização. “É uma contradição: aquilo que se busca para promover o bem-estar pode gerar consequências graves”, alerta. Por isso, o acompanhamento profissional é crucial, especialmente em tratamentos prolongados.

Diagnóstico, tratamento e importância do equilíbrio

O diagnóstico é feito por meio de avaliação clínica e exames que medem os níveis vitamínicos no sangue e analisam a função de órgãos como fígado e rins. Identificada a hipervitaminose, a suspensão imediata do suplemento é a primeira medida. Nos casos mais graves, pode haver necessidade de internação para controle metabólico e hidratação.

Leonardo reforça que o equilíbrio deve ser o foco de uma rotina saudável. Ele lembra que hábitos simples, como alimentação balanceada, sono adequado e prática de exercícios físicos, trazem mais benefícios do que o consumo indiscriminado de cápsulas. “A saúde verdadeira vem do equilíbrio, não do excesso. Antes de usar qualquer suplemento, é essencial consultar um médico ou nutricionista”, orienta.

Por: Laís Marques

Fonte: Asscom Unit