A vacina da Oxford/Astrazeneca não pode ser aplicada em gestantes ou puérperas (até 45 dias após o parto), até que haja um posicionamento oficial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O órgão federal apura se há algum tipo de relação do imunizante com a morte de uma mulher de 35 anos, que estava com 23 semanas de gestação e tinha tomado a primeira dose da vacina. Ela sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) no último dia 5 de maio e faleceu cinco dias depois de ser internada. O bebê que ela esperava também não resistiu.

A suspeita aventada por especialistas é a de que o AVC teria sido causado pela formação de uma trombose, risco que aparece com frequência em certos grupos de pacientes, incluindo as gestantes. “Gestantes e puérperas têm maior risco de trombose porque estão em um estado fisiológico inflamatório próprio dessas fases”, explica a médica hematologista Pollyanna Domeny Duarte, professora do curso de Medicina da Universidade Tiradentes, definindo a trombose como “um evento no qual a circulação sanguínea fica obstruída, impedindo a oxigenação dos tecidos do corpo que ficam após o local da obstrução”. A depender de alguns fatores, ela pode ter danos irreversíveis

Uma das questões pontuadas por Pollyana é a de que a trombose tem múltiplas causas combinadas, incluindo uma predisposição do próprio organismo. “Os vasos podem ter danos natos ou adquiridos e/ou os fatores sanguíneos de coagulação que podem ter defeitos natos ou adquiridos. As causas adquiridas dependem de situações externas (infecções, repouso prolongado, pós operatório, uso de medicamentos) e podem ser transitórias (viagens, cirurgias, infecções) ou permanentes (associadas a doenças crônicas)”, afirma.

A relação da vacina com a formação de tromboses ainda não está comprovada cientificamente e também foi apurada em países da União Europeia, mas descartada a partir da investigação de casos semelhantes. No entanto, essa possibilidade é considerada porque, segundo a professora, os imunizantes provocam certos tipos de reações ao serem introduzidas no corpo, mesmo que em sua maioria elas não causem danos.“Vacinas exercem efeitos no sistema imunológico e características próprias do indivíduo, que podem ter respostas mais exacerbadas com a liberação de substâncias inflamatórias junto a outros fatores associados, favorecendo evento trombótico”, assinala professora Pollyana.

A Anvisa ainda não definiu um prazo para concluir as investigações sobre a morte da gestante no Rio, o que pode definir a reconsideração da decisão de suspender a aplicação da vacina em gestantes. No entanto, o próprio órgão tem assegurado que a suspensão é temporária e que a vacina continua com aplicação liberada para os outros grupos, visto que os benefícios de eficácia e segurança têm se confirmado e superado os riscos.

A professora acredita ser “pouco provável” que a vacina seja suspensa, uma vez que há muitos outros pacientes expostos a ela sem apresentar trombose. “Estudos específicos são necessários, por isso se suspende [a vacinação] até que se possa reassegurar a vacina para esses grupos. A maioria das gestantes e puérperas não desenvolveu trombose”, esclarece, orientando que gestantes que tomaram a primeira dose da Astrazeneca consultem sempre um obstetra para fazer os exames de acompanhamento antes e após o parto e seguir suas orientações.

Fonte: Assessoria de Imprensa | Unit