Estudo de iniciação científica, que deve ter seus resultados completos divulgados em breve, avaliou o efeito das substâncias naturais na recuperação de lesões neurológicas
Propriedades presentes no veneno de abelhas africanizadas podem ser utilizadas no desenvolvimento de tratamentos contra doenças neurodegenerativas, a exemplo do Alzheimer. Esta hipótese foi investigada em uma pesquisa de iniciação científica desenvolvida por alunas do curso de Fisioterapia da Universidade Tiradentes (Unit). O estudo, orientado pela professora-doutora Camila Gomes Dantas e conduzido pelas então alunas de graduação Alessandra da Silva Nogueira e Maria Alice Araujo de Santana, foi realizado entre 2020 e 2021, mas terá seus resultados completos divulgados em breve, com a publicação de artigo científico em publicação especializada.
A pesquisa fez uma caracterização histomorfológica do efeito terapêutico do veneno de abelhas africanizadas (Apis mellífera Linnaeus) sobre as lesões provocadas em ventrículos cerebrais de roedores de laboratório. E estas lesões tinham sido induzidas pela estreptozotocina, um composto químico que provoca a destruição de células do sistema nervoso central. O objetivo foi avaliar as alterações estruturais presentes nos encéfalos de roedores, em função da lesão intracerebroventricular e dos tratamentos com veneno de abelhas.
De acordo com Alessandra, que hoje é aluna de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Biociências e Saúde (PBS/Unit), a pesquisa concluiu que “a administração do veneno de abelhas atenuou as alterações histológicas associadas à progressão da doença de Alzheimer induzida por estreptozotocina em roedores, provavelmente devido à sua ação anti-inflamatória”, e que “o veneno de abelhas configura-se como um potencial candidato a ser utilizado no tratamento da doença de Alzheimer, abrindo a possibilidade de tratamento de doenças neurodegenerativas em virtude de suas propriedades anti-inflamatória e neuroprotetora”.
A fisioterapeuta destaca ainda que a pesquisa buscou suprir uma lacuna no conhecimento existente sobre o tema, abrindo caminho para o desenvolvimento de novos tratamentos, com impacto direto na saúde da população, longevidade e na qualidade de vida. “O interesse em encontrar soluções inovadoras e impactantes, tanto no contexto científico quanto no social, pode trazer descobertas valiosas que não só ampliam o entendimento sobre o veneno de abelha, mas também abre novas possibilidades terapêuticas para uma doença complexa e debilitante como o Alzheimer”, pontua Alessandra, que atuou no projeto como bolsista de iniciação científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Da IC à residência
Além da graduação em Fisioterapia na Unit, concluída em 2022, e do mestrado iniciado recentemente, Alessandra Nogueira aperfeiçoou seus conhecimentos em uma residência em Fisioterapia Neurofuncional, realizada no Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), em Salvador (BA). O curso, em nível de pós-graduação lato sensu destinada a profissionais da saúde, envolveu o atendimento a pacientes neurológicos em âmbito hospitalar e ambulatorial, desde recém-nascidos até idosos, pacientes agudos, subagudos e crônicos. Já o Roberto Santos é o principal hospital público da Bahia, considerado referência de Alta Complexidade em Neurologia e certificado como hospital de ensino pelos ministérios da Saúde e da Educação (MEC).
A fisioterapeuta pretende conciliar a carreira profissional com a acadêmica e destaca a iniciação científica como uma das várias oportunidades de pesquisa e extensão que a Unit lhe proporcionou, além dos professores de excelência e qualidade técnica. “A iniciação científica me ajudou a construir uma base sólida para minha carreira acadêmica e profissional. Participar de projetos de pesquisa permite adquirir competências técnicas e habilidades que podem ser aplicadas tanto em áreas acadêmicas quanto na prática clínica. O que me atraiu foi a oportunidade de explorar o mundo da pesquisa de uma maneira prática e imersiva, indo além da teoria aprendida em sala de aula”, define ela.
O Alzheimer
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, progressiva e que ainda não tem cura. Ela é apontada como o principal tipo de demência no mundo e responsável por aproximadamente 70% dos casos da doença. Estima-se que cerca de 50 milhões de pessoas vivem com a doença no mundo, sendo 1,2 milhão de pessoas no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
As autoridades médicas e científicas acreditam que esses números podem aumentar nos próximos anos, devido ao envelhecimento da população. A maioria dos casos da doença é de idosos acima de 65 anos de idade, que acabam comprometidas em suas funções cognitivas, como memória, linguagem, raciocínio, humor, comportamento e percepção do mundo.
Autor: Gabriel Damásio
Fonte: Asscom Unit